Banca norte-americana vê lucros caírem e aumenta provisões para enfrentar crise
Quatro dos maiores bancos dos EUA já apresentaram as contas de 2022 e a tendência é clara: os lucros estão a cair, sobretudo devido ao reforço das provisões para enfrentar uma potencial crise.
Os principais bancos norte-americanos começam a dar os primeiros sinais de receio quanto ao rumo que a maior economia do mundo deverá seguir durante este ano. Na apresentação de resultados anuais, a maioria destas instituições reporta fortes quedas nos lucros de 2022, explicadas, sobretudo, por um reforço substancial das provisões para cobertura de potenciais perdas de crédito, numa altura em que antecipam um abrandamento ou mesmo recessão económica.
A tendência é evidente entre os quatro grandes bancos norte-americanos que apresentaram resultados esta semana. Foi esse o caso do JPMorgan, maior instituição de crédito dos Estados Unidos, que reportou lucros de 37,7 mil milhões de dólares (cerca de 34,92 mil milhões de euros ao câmbio actual) no conjunto de 2022, valor que representa uma queda de 22% em relação ao ano anterior. Ao mesmo tempo, o banco constituiu provisões de 3,5 mil milhões de dólares no ano passado (uma reversão da estratégia seguida em 2021, quando estava a libertar reservas de capital).
Um cenário idêntico é encontrado nos restantes bancos que já reportaram as contas de 2022: o Bank of America dá conta de uma queda de 14% dos lucros, para 27,5 mil milhões de dólares, e a constituição de provisões no valor de 2,5 mil milhões de dólares, enquanto o Citigroup reporta lucros de 14,8 mil milhões em 2022 (uma queda anual de 20%), ano em que constituiu provisões de 1,2 mil milhões. Já o Wells Fargo registou lucros de 13 mil milhões em 2022, menos 38% do que no ano anterior, e colocou de lado mais de 1,5 mil milhões de dólares para cobrir possíveis perdas de crédito.
A justificar estes resultados está a incerteza quanto aos próximos tempos. Como explica o JPMorgan no relatório de apresentação de resultados, "a economia norte-americana mantém-se forte, com os consumidores ainda a gastarem o dinheiro acumulado e as empresas a permanecerem saudáveis".
Contudo, acrescenta o banco, "ainda não se sabe quais serão os efeitos das tensões geopolíticas, incluindo a guerra na Ucrânia, do estado vulnerável da energia e do fornecimento de bens alimentares, da inflação persistente que está a destruir o poder de compra e a fazer subir as taxas de juro e da política monetária restritiva sem precedentes".
É neste contexto que o maior banco norte-americano antecipa agora uma "recessão ligeira" no cenário central para este ano. O mesmo é esperado pelas restantes instituições. O Citigroup admite a possibilidade de "potenciais recessões na Europa, Estados Unidos e outros países", bem como "disrupções e volatilidade significativas nos mercados financeiros", enquanto o Bank of America dá conta de um "cada vez maior abrandamento da conjuntura económica" já verificado no quarto trimestre do ano passado.
Nos mercados, e apesar de os lucros permanecerem elevados, o reconhecimento de uma possível recessão económica este ano foi suficiente para fazer aumentar o nervosismo dos investidores, com as acções destes bancos a caírem em bolsa após a apresentação de resultados.
Ainda assim, os analistas não mostram, para já, sinais de preocupação. "Alguns dos comentários quanto aos receios de uma recessão e o facto de os bancos continuarem a reforçar as suas reservas contra potenciais perdas no crédito deixam as pessoas nervosas. Os lucros, no seu todo, foram bastante bons e os bancos mantêm-se extremamente bem capitalizados", comenta um analista da Kingsview Asset Management, citado pela Reuters.