As sementes do cérebro

Aborrece-me sobremaneira que alguns se achem donos e senhores da cultura, que a tornem cada vez mais pedante e inacessível, que se esforcem por cavar o fosso entre o popular e o erudito.

“Ó mãe, ter cultura é o quê?”, perguntou o Pedro depois de ouvir a expressão na televisão. E eu, que só esta semana já tive de responder a como é que as pessoas que morrem e vão para o céu não caem lá de cima, como é que os cavalos põem a sementinha nas éguas e porque é que não escrevemos todos com “letra do primeiro ano”, suspirei. É que, mesmo que possa não parecer à primeira vista, esta é uma pergunta das difíceis. Daquelas tão difíceis que a minha vontade foi dizer-lhe para perguntar antes ao pai. Mas quando me preparava para o fazer e despachar o assunto, comecei a sentir-me a encolher e percebi que, provavelmente, estava em curso o processo que acabaria por transformar-me em rato (sei que não contei logo esta parte, mas também despachei a pergunta da inseminação das éguas para a figura paterna com a desculpa de que “o papá sabe muito mais sobre animais do que a mamã”).

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