Ex-presidente da CMVM defende aplicação de sanções à TAP

Carlos Tavares acredita que a empresa mentiu à CMVM, uma vez que houve “informações diferentes” sobre a renúncia de Alexandra Reis.

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Christine Ourmières-Widener assumiu a presidência executiva em 2021 RUI GAUDêNCIO

O antigo presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) Carlos Tavares acusou o conselho de administração da TAP de mentir ao mercado sobre a saída de Alexandra Reis e defendeu que a empresa deveria ser sancionada.

Numa entrevista à Antena1 e ao Jornal de Negócios, o também antigo ministro da Economia no Governo de Durão Barroso comentou a polémica que envolve a ex-secretária de Estado Alexandra Reis e a sua saída da TAP, considerando que as divergências com a presidente da comissão executiva (CEO) da companhia portuguesa deveriam ter sido resolvidas pelo conselho de administração.

“Se havia discordâncias, não se resolve afastando uma pessoa que se discorda, mas subindo ao conselho de administração e o conselho de administração tomaria as suas decisões”, defendeu Carlos Tavares.

O economista considera até que Alexandra Reis nem precisaria de sair da TAP por causa das divergências e podia ter passado a administradora não executiva.

Ainda sobre o processo de saída da ex-secretária de Estado da TAP, Carlos Tavares disse acreditar que a empresa mentiu à CMVM, uma vez que houve “informações diferentes” sobre a renúncia de Alexandra Reis, ressalvando também que essa comunicação deveria ser feita pelo conselho de administração e não pela CEO.

“Basta comparar as duas comunicações que foram feitas para concluir que elas dizem coisas diferentes. Isto mostra mais uma vez a falta de cuidado. Quem é responsável perante o mercado não é a presidente da comissão executiva. É o conselho de administração, uma vez mais”, sublinhou.

Nesse sentido, o antigo presidente da CMVM considera que “houve uma violação do código dos valores mobiliários” e que a TAP “deve ser sancionada”.

“A CMVM deve actuar porque existe uma violação do código dos valores mobiliários. No actual código, uma infracção deste tipo é tratada como uma simples contra-ordenação, muito grave penso eu, mas penso que a sanção é relativamente limitada”, observou, defendendo que este tipo de situação deveria ser considerada crime.

Ir para Governo exige “autoescrutínio”

Questionado sobre as polémicas relacionadas com as escolhas para o Governo, o antigo governante defendeu que deve existir um “autoescrutínio” de quem é convidado e “uma avaliação de quem convida”.

“As pessoas que são convidadas devem perguntar-se se têm algum problema, alguma questão e conhecimentos para o lugar. E tem de haver um grande cuidado de quem selecciona”, apontou, ressalvando que as escolhas envolvem sempre uma questão de “confiança política e de conhecimento pessoal”.

Ainda a propósito do processo de selecção, Carlos Tavares admitiu que neste momento “não há segurança” de que as pessoas que estão à frente dos cargos públicos são “as mais indicadas” para aquela função.

“Tem de haver uma avaliação, não só das circunstâncias de cada um, mas também curricular. Eu tenho dúvidas de que em alguns casos as pessoas tenham o currículo adequado às situações. A consequência prática é que nós não temos segurança de que as pessoas estão nos lugares são as melhores que haveria no país”, afirmou.

Em 27 de Dezembro, o ministro das Finanças, Fernando Medina, demitiu Alexandra Reis das funções de secretária de Estado do Tesouro, menos de um mês depois de a ter convidado para este lugar no Governo e ao fim de quatro dias de polémica com a indemnização de 500 mil euros que esta gestora de carreira recebera da TAP, empresa então tutelada pelo ministro das Infra-estruturas e Habitação, Pedro Nuno Santos, que se demitiu um dia depois para "assumir a responsabilidade política" do caso.

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