“Seria melhor se a ministra da Agricultura saísse”, defende Paulo Pedroso

É preciso tirar “ilações políticas” e é “surpreendente que se possa dizer que se sabia e nada aconteça”. Problema geral do Governo é “excesso de confiança”, criticou esta manhã o ex-ministro do PS.

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Paulo Pedroso: “É surpreendente que, com maioria absoluta e em menos de um ano, se tenha construído um cenário em que [a legislatura] pode não chegar ao fim" Rui Gaudencio

Paulo Pedroso, ex-ministro do Trabalho e da Solidariedade de António Guterres, acredita que a ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, tem “ilações políticas a tirar” do caso que envolveu a secretária de Estado da Agricultura, Carla Alves, devido às contas arrestadas que partilha com o marido. "A minha avaliação é que seria melhor para o Governo se a ministra da Agricultura saísse", afirmou.

Em entrevista à rádio Observador, na manhã desta sexta-feira, o ex-governante afirmou: “Podemos perguntar à ministra da Agricultura se não deve extrair o mesmo tipo de conclusões políticas que extraiu Pedro Nuno Santos quando se tornou público que ele sabia e que tinha feito uma avaliação errada no caso da indemnização.”

Pedro Nuno Santos demitiu-se depois de se saber quem tinha tomado conhecimento do acordo de indemnização entre a agora ex-secretária de Estado do Tesouro Alexandra Reis e a TAP. O PÚBLICO sabe que a ministra da Agricultura teve conhecimento prévio do caso que envolve o marido de Carla Alves.

“Quem não percebeu que uma secretária de Estado só conseguiu ficar 26 horas a propósito de algo que a tinha informado, acho que há ilações políticas a tirar”, afirmou Paulo Pedroso. “É um pouco surpreendente que alguém possa dizer apenas que ‘sim, sabia’ e nada aconteça.”

Questionado de forma directa sobre se a ministra se devia demitir, o ex-ministro afirma apenas que “se estivesse no lugar no lugar dela, e tendo o precedente da avaliação política que Pedro Nuno Santos fez, extrairia essa consequência”.

“Creio que a partir do momento em que antes do convite a ministra sabia, se não há condições políticas, há um erro que a envolve”, acredita, dizendo ainda que o Governo “tem de se libertar dos casos e casinhos” de “titulares que não avaliam bem as condições”.

Caso de Medina é diferente

Contudo, acredita que o caso de Fernando Medina “é diferente” e “não há razões para desconfiar da sua palavra”, uma vez que o Ministério das Finanças não terá sido informado. Por isso, conclui, “não podemos atribuir responsabilidade política a alguém por algo que desconhece”.

Noutro momento da entrevista, disse ainda que lhe parecia “claro” que o “que está a falhar é um mecanismo que tradicionalmente funcionava no recrutamento de pessoas para o Governo, que é começar por uma auto-avaliação das condições políticas para o exercício do cargo”.

“Parece-me que essa auto-avaliação não está a ser bem-feita, há coisas que ou não dizem ou não avaliam de modo adequado”, alertando para o facto de o “escrutínio pela opinião pública das condições políticas” ser agora “muito intenso”.

Avaliando a maioria absoluta de António Costa e do PS, o ex-ministro fala de um “excesso de confiança”. A última entrevista do actual primeiro-ministro à Visão é um dos momentos que “simboliza esse excesso”. “Em menos de um ano de maioria absoluta, tem mais pressão política sobre o Governo do que em minoria.”

“Em maioria absoluta ninguém tem estímulos para cooperar com o Governo — acho que Governo não avaliou bem isto nos primeiros meses”, afirma, dizendo ainda que Marcelo Rebelo de Sousa está adoptar um papel de “tutor ou de orientador de tese”, a “tentar corrigir o percurso” do executivo.

Paulo Pedroso afirma ainda que é importante haver “equipas mistas” compostas por figuras mais jovens e políticos mais experientes”, mas também de “alguém que pense criticamente os percursos que estão a ser feitos.”

“Neste momento é surpreendente que, com maioria absoluta e em menos de um ano, se tenha construído um cenário em que [a legislatura] pode não chegar ao fim.”

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