Último mês de 2022 foi o Dezembro mais quente em Portugal continental, diz IPMA

Além das temperaturas recorde, Dezembro foi um mês muito chuvoso. Nunca choveu tanto em 24 horas como em Lisboa de 12 para 13 de Dezembro de 2022.

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Apesar das chuvas fortes, Dezembro foi o mais quente desde que há registos Paulo Pimenta

O mês de Dezembro de 2022 foi o Dezembro mais quente no território continental desde que há registos, com uma temperatura média de 12,72 graus Celsius, adiantou o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) ao PÚBLICO. Ao mesmo tempo, também houve recordes de precipitação na região de Lisboa, do dia 12 para 13 de Dezembro, onde choveu em 24 horas o equivalente ao que costuma chover em todo o mês de Dezembro.

Por outro lado, a chuva que caiu ao longo dos 31 dias diminuiu a seca no território. “A situação de seca que se verificava no Sul terminou praticamente”, diz a climatologista Vanda Cabrinha ao PÚBLICO, antecipando os dados que deverão sair nesta sexta-feira no boletim do IPMA sobre Dezembro do ano último. “Só uma zona é que se mantém em seca fraca, que é o índice menos grave: é a região entre Mértola e Castro Marim, apanha Beja e Alvalade.”

Em relação ao calor, a temperatura média do mês de Dezembro entre 1971 e 2000 é de 9,97 graus. Por isso, com 12,72 graus de temperatura média, o mês passado teve um valor 2,75 graus acima do normal. “Dezembro foi o mais quente dos últimos 92 anos, desde 1931. É um recorde”, diz a climatologista. Em 1931 foi quando se iniciaram os registos de temperatura.

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O novo valor fica à frente de Dezembro de 1989 e de Dezembro de 2015. Mas os dois anos ainda mantêm recordes. Em 1989, Dezembro teve a temperatura mínima média mais alta desde que há registo, o mesmo se passa para a temperatura máxima em 2015. Já Dezembro de 2022 ficou em segundo lugar em ambos os extremos.

“Como teve esta mínima e máxima, as segundas mais altas, em termos médios acabou por ser [o mês de Dezembro] mais quente”, explica Vanda Cabrinha, dando exemplos do calor que se viveu, para um mês que costuma ser frio.

“No caso da mínima, cerca de 60% das estações do IPMA ultrapassaram o maior valor diário da mínima [para o mês] a 13 de Dezembro”, exemplifica. “Lisboa, a 12 de Dezembro, teve uma mínima de 16,8 graus. O anterior recorde era de 16,6 graus, registado em Dezembro de 1987.”

“Em termos da temperatura, estes fenómenos são mais frequentes, sobretudo associados a temperaturas altas”, explica a climatologista, referindo que esta tendência é esperada para o país devido às alterações climáticas. Ao mesmo tempo, têm vindo a diminuir o número de dias seguidos com temperaturas baixas, acrescenta.

Chuvas intensas

Em termos de todo o continente, os valores de precipitação ocorridos durante o mês de Dezembro, embora acima da média, não bateram recordes. Ao todo, choveu 174% a mais do que o normal para o mês. Ou seja, acumularam-se 250 milímetros de água por cada metro quadrado, em média. Por comparação, o valor médio para este mês é cerca de 144 milímetros. “Foi bastante acima da média”, diz a especialista.

Ainda assim, já existiram vários meses de Dezembro com mais chuva. “Se considerarmos desde 1931, o valor de 2022 é o décimo mais alto. Se considerarmos desde 2000, é o segundo valor mais alto”, aponta Vanda Cabrinha. “O primeiro [desde 2000] foi em 2000, com 311 milímetros. E desde que há registo, o ano que teve mais precipitação em Dezembro foi em 1978, com 399,7 milímetros.”

Ao contrário da temperatura, a tendência futura da chuva em Portugal é inversa. Mas este não é um fenómeno linear. “Em relação à precipitação, a tendência em termos anuais é a diminuição. No entanto, estas situações de precipitação intensas, muito localizadas, e de dois a três dias, têm estado a aumentar”, diz a especialista, referindo-se aos fenómenos de chuva extrema que se deram em Dezembro em todo o país, e que fustigaram particularmente a região da capital.

“No dia 13 de Dezembro foram ultrapassados os máximos da precipitação em Lisboa”, diz a climatologista. Ao todo, entre as 9h da manhã de 12 de Dezembro e as 9h de 13 de Dezembro – no IPMA, a contabilização é feita das 9h de um dia até às 9h do outro – caíram 120,3 milímetros de água. O valor mais alto de sempre, desde que há registo, independentemente do mês. “O anterior extremo era de 118,4 milímetros, de Fevereiro de 2008, que provocou as famosas cheias de Fevereiro de 2008.”

Além de Lisboa, as estações meteorológicas do Barreiro e de Mora também bateram recordes a 13 de Dezembro: no Barreiro choveu 83,4 milímetros, o anterior recorde era de 68,3 milímetros, alcançados num dia de Dezembro de 1978, e em Mora choveu 98,8 milímetros, sendo que o anterior máximo foi de 81,5 milímetros obtido durante 24 horas em Novembro de 1983.

O que causou agora tanta precipitação? “Teve que ver com uma massa de ar quente e húmido, muito instável, que tem um elevado conteúdo de vapor de água. [Este fenómeno] foi o que influenciou estes dias e, sobretudo na região de Lisboa, trouxe estas precipitações”, responde-nos a especialista.

Embora não se possa relacionar este fenómeno específico com as alterações climáticas, a tendência do aumento de temperaturas pode ter um papel em provocar este tipo de extremos, adianta Vanda Cabrinha. “Quanto mais quente for esta massa de ar, maior o conteúdo de vapor de água na atmosfera e mais intensa pode ser a precipitação”, resume.

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