Onda de calor atinge Europa no Ano Novo: Alpes com mínima de 16 graus

Fenómeno parece ter atingido sobretudo a região central da Europa. Em oito países europeus as temperaturas máximas a 1 de Janeiro bateram recordes. Uma cidade dos Alpes registou mínima de 16 graus.

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Um homem posa para uma fotografia enquanto outro dá um mergulho no Mar Negro, perto da aldeia de Ezerets, na Bulgária, a 1 de Janeiro de 2023. De acordo com as previsões meteorológicas, espera-se que os próximos dias tragam temperaturas que atinjam mais de 18 graus Celsius na Bulgária. EPA/ VASSIL DONEV

A Europa recebeu o ano novo com uma onda de calor que atravessou o território no primeiro dia de 2023 e fez quebrar recordes em vários países, sobretudo na região Central. "Um fenómeno nunca visto", dizem alguns especialistas. Em Portugal, as temperaturas máximas no dia 1 de Janeiro estiveram em todo o território continental também bem acima da média, quando comparadas com o período de referência de 1970 e 2000. Porém, não terá sido quebrado algum recorde.

"O dia mais quente de Janeiro foi registado em, pelo menos, oito países europeus, incluindo a Polónia, Dinamarca, República Checa, Holanda, Bielorrússia, Lituânia e Letónia, de acordo com dados coligidos por Maximiliano Herrera, um climatologista que acompanha temperaturas extremas", especifica uma notícia do The Guardian que fala sobre este "fenómeno extremo".

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As pessoas passeiam numa praia em Miedzyzdroje, noroeste da Polónia, a 1 de Janeiro de 2023. As temperaturas em Miedzyzdroje rondaram os 12 graus Celsius. EPA/Marcin Bielecki

Em Portugal, o registo do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) revela temperaturas máximas acima da média entre 1971 e 2000 em todo o território nacional. Ricardo Deus, chefe de divisão de clima e alterações climáticas do IPMA, não confirma, para já, se foi quebrado algum recorde, alertando que as temperaturas máximas de Dezembro também estiveram durante vários dias acima dos valores do período de referência usado para comparação.

Ainda assim, salvaguarda que ainda não foi possível analisar com detalhe os dados disponíveis, admitindo a hipótese de estarmos perante um fenómeno que atingiu sobretudo a Europa Central.

Os dados no site sobre as diferentes estações meteorológicas mostram que as temperaturas máximas no dia 1 de Janeiro variaram entre os 8,5 graus Celsius na Guarda (a média da temperatura máxima é de 6,8 graus no período de referência entre 1971 e 2000) e os 20,5 graus Celsius em Faro (a média é de 16,1). Lisboa terá registado 18,5 graus Celsius e a cidade do Porto 17,4 graus, a média da temperatura máxima nestas duas cidades é de 14,5 e 13,8 graus Celsius, respectivamente.

Comparando com Janeiro de 2022, segundo o boletim mensal emitido pelo IPMA, o valor médio da temperatura média do ar, 9,65 °C, já tinha sido superior ao valor normal 1971-2000 (+ 0,84 °C), tendo sido o quinto Janeiro mais quente desde 2000 (mais alto: 2016, 10,78 °C). O valor de temperatura máxima do ar em Janeiro de 2022 foi o mais alto dos últimos 90 anos, com um valor médio de 15,29 °C, + 2,20 °C, em relação ao valor normal 1971-2000. A média da temperatura máxima registada a 1 de Janeiro de 2022 já tinha sido muito próxima dos 20 graus Celsius.

"Absoluta loucura"

Citado numa notícia do Washington Post, Maximiliano Herrera, classifica o evento usando expressões como "totalmente louco" e "absoluta loucura", admitindo que "algumas das altas temperaturas nocturnas observadas eram incomuns no meio do Verão". "É o evento mais extremo alguma vez visto na climatologia europeia. Nada se aproxima disto", lê-se ainda na notícia citando o mesmo especialista.

No caso da Suíça, a cidade mais quente foi Delémont, que atingiu 20,2 graus, uma temperatura nunca antes vista em Janeiro, naquele país. “Pela primeira vez, 20 graus em Janeiro no lado norte dos Alpes!”, lia-se numa publicação no Twitter do instituto de meteorologia Suíço, citada pelo The Local, um site em inglês de notícias sobre a Suíça.

No entanto, a cidade com a temperatura mínima mais alta naquele dia foi Altdorf, situada a cerca de 450 metros de altitude. No domingo, a 1 de Janeiro, a cidade atingiu uma temperatura máxima de 19,2 graus Celsius e uma mínima de 16,1 graus, que bateu o anterior recorde de 1864, segundo o programa Copérnico, que nos mostra, a partir de uma fotografia de satélite, a localização geográfica de Altdorf, no meio das montanhas alpinas, cada vez menos brancas.

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Os Alpes e a cidade de Altdorf observada a partir de uma imagem de satélite SENTINELA-2/PROGRAMA COPÉRNICO/UNIÃO EUROPEIA

"O novo ano começou com uma onda de calor histórica que afectou a Europa, com muitos países a observarem a temperatura mais quente de que há registo para 1 de Janeiro. Centenas de recordes de temperatura foram quebrados e temperaturas semelhantes às de Verão prevaleceram em numerosas cidades de todo o continente", adianta o comunicado divulgado esta segunda-feira pelo programa Copérnico, o programa de observação da Terra da União Europeia.

2023 sem La Niña

Há poucos dias, já tinha sido anunciado que o ano de 2023 poderá ser um dos mais quentes desde que há registo, segundo as previsões de Met Office, a agência meteorológica britânica. A temperatura média global poderá ser entre 1,08 e 1,32 graus Celsius acima dos valores registados antes da Revolução Industrial. Isto porque o fenómeno La Niña, que tem vigorado nos últimos anos, está a extinguir-se.

“A La Ninã faz diminuir a temperatura média global. E a temperatura média global nos últimos três anos foi influenciada pelos efeitos da La Niña prolongada – fenómeno cíclico que faz descer a temperatura das águas superficiais do oceano Pacífico tropical”, disse Nick Dunstone, que liderou a equipa do Met Office que fez as previsões para 2023, citado num comunicado de imprensa.

“No próximo ano, o efeito de travão das temperaturas da La Niña vai evaporar. Vai haver uma espécie de pressão no acelerador em 2023 e nos seguintes, a que se juntam mais episódios meteorológicos extremos, como secas ou chuvas intensas, até termos em vigor políticas que nos permitam atingir a neutralidade carbónica”, afirmou à BBC News Richard Allan, climatólogo da Universidade de Reading (Reino Unido).

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