Suspeito da morte de quatro jovens em Idaho parecia apenas um “aluno curioso” de criminologia

Bryan Kohberger, de 28 anos, tirava um doutoramento em criminologia em Washington, a 16 quilómetros da cena do crime. Na universidade mostrou particular interesse em assassinos em série.

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Bryan Kohberger cresceu na Pensilvânia MONROE COUNTY CORRECTIONAL FACILITY
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Bryan Kohberger foi detido na Pensilvânia EDUARDO MUNOZ/Reuters

O suspeito do assassinato de quatro alunos da Universidade de Idaho, nos Estados Unidos, é um estudante de criminologia que foi detido na passada sexta-feira.

O caso remonta a 13 de Novembro, altura em que os jovens Ethan Chapin e Xana Kernodle, de 20 anos, e Madison Mogen e Kaylee Goncalves, ambas com 21 anos, foram encontrados mortos depois de terem sido esfaqueados numa casa arrendada perto do campus universitário na pequena cidade de Moscow, refere a estação ABC News.

De acordo com os investigadores, os quatro estudantes universitários foram atacados em pelo menos dois quartos separados, provavelmente enquanto dormiam. As três mulheres viviam naquela casa, enquanto Ethan Chapin teria ido passar a noite com a sua namorada, Xana Kernodle. Segundo a ABC News, duas outras pessoas estavam a dormir na cave naquela noite mas não se terão apercebido dos ataques.

O suspeito é Bryan Kohberger, um jovem de 28 anos que há muito se interessava por ciência forense e que estava a tirar um doutoramento em criminologia na Universidade de Washington, a cerca de 16 quilómetros da cena do crime. Menos de dois meses depois dos assassinatos, Kohberger foi detido na Pensilvânia, em casa dos seus pais, e será presente a tribunal na terça-feira.

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Polícia em Idaho após o crime Eduardo Munoz/REUTERS

Segundo Jason LaBar, advogado de defesa que o representa, Kohberger tem acompanhado o caso com interesse, mas ficou “chocado” por ter sido detido e “espera ser absolvido”. O advogado garantiu ainda que o suspeito não se vai opor a ser presente em tribunal em Idaho para enfrentar as acusações, tendo divulgado, no domingo, um comunicado dos pais e das duas irmãs de Kohberger no qual dizem “amar” e “apoiar” o jovem e garantem que irão colaborar com a polícia para “promover a sua presunção de inocência”.

Uma mente analítica

Bryan Kohberger cresceu na Pensilvânia e frequentou o liceu de Pleasant Valley. Os seus ex-colegas recordam ao jornal The New York Times que o suspeito tinha uma mente analítica, mas às vezes era cruel. Thomas Arntz tornou-se amigo de Kohberger por volta de 2009, mas a amizade entre os dois terminou em 2014 depois de as suas interacções se terem tornado “mesquinhas”. “Acabei por ter de cortar os laços com ele”, explica Arntz.

Kohberger era viciado em heroína no ensino secundário, mas parecia ter conseguido lutar contra o vício nos últimos anos, de acordo com alguns amigos da Pensilvânia.

Jack Baylis, que se tornou amigo de Kohberger na oitava classe, disse que o suspeito há muito se fascinava com o comportamento das pessoas e parecia gostar do seu trabalho como segurança no distrito escolar de Pleasant Valley, onde trabalhou até 2021. A última vez que Baylis viu Kohberger foi nesse mesmo ano. Na altura, o suspeito conduzia um carro Hyundai Elantra branco, o mesmo modelo que a polícia de Moscow disse ter sido avistado perto da casa das vítimas em Idaho na noite dos ataques.

"Parecia que ele era apenas um aluno curioso"

Depois de se ter licenciado em psicologia em 2018, Kohberger começou a estudar justiça criminal na DeSales University, uma universidade católica em Center Valley, na Pensilvânia. Foi aí que começou a colaborar e a estudar o trabalho de Katherine Ramsland, uma conhecida professora de psicologia forense, autora de livros como The Mind of a Murderer (“A Mente de um Criminoso”, numa tradução livre) e How to Catch a Killer (“Como Apanhar um Assassino”).

Brittany Slaven, que estudou com Kohberger na DeSales University, salienta que o suspeito era pacato e gostava de trabalhar sozinho, mas parecia ser inteligente. A jovem recorda um episódio durante uma aula com Katherine Ramsland em que os alunos foram convidados a olhar para imagens de uma cena de crime e descobrir o que teria acontecido, com Kohberger a apressar-se em dar ideias e a mostrar particular interesse em assassinos em série. “Na altura, parecia que ele era apenas um aluno curioso, pelo que se as suas perguntas parecessem estranhas nós não pensávamos muito nisso porque se encaixava no nosso currículo”, explica.

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Polícia em Idaho após o crime EDUARDO MUNOZ/Reuters

Há cerca de sete meses, um utilizador que se identificou como Bryan Kohberger, aluno da DeSales University, fez uma publicação no Reddit na qual procurava pessoas que tinham estado presas para analisar os crimes que tinham cometido, solicitando aos participantes que descrevessem os seus “pensamentos, emoções e acções do começo ao fim do processo”.

Ao New York Times, uma porta-voz da DeSales University confirmou que Kohberger licenciou-se naquela universidade em 2020 e concluiu o mestrado em Junho de 2022. Foi então que o suspeito se mudou para a cidade de Pullman, Washington, tendo começado em Agosto a tirar um doutoramento em criminologia na Universidade de Washington.

Desde a noite dos ataques até ter sido apanhado, Kohberger terá continuado a frequentar as aulas de criminologia. Alguns colegas que estudavam consigo na Universidade de Washington destacam que o comportamento intenso do suspeito deixou alguns alunos desconfortáveis, salientando ainda que Kohberger aparentava estar mais interessado na forma como os criminosos pensavam enquanto cometiam os crimes do que nos factores sociais que os poderiam levar a fazê-lo. Há mesmo quem saliente que o suspeito era a “ovelha negra” da sala, envolvendo-se frequentemente em discussões com os colegas (principalmente mulheres) e que chegou a dizer acreditar que algumas pessoas estavam destinadas a infringir a lei.

Bryan Kohberger foi também professor assistente numa aula de direito penal durante um semestre na Universidade de Washington. Segundo Hayden Stinchfield, de 20 anos, que frequentou essa aula, Kohberger costumava baixar os olhos ao dirigir-se aos alunos, dando a impressão de que estava desconfortável. Outros alunos apontam ao New York Times que Kohberger tinha um enorme conhecimento sobre o tema, mas avaliava de forma rigorosa, fazendo extensas críticas aos trabalhos e dando notas baixas. Por volta da altura em que ocorreram os assassinatos, de acordo com Hayden Stinchfield, o suspeito começou a dar notas melhores e a ser menos exigente.

A investigação demorou algumas semanas, tendo os detectives trabalhado durante o Natal para processar os milhares de dicas e provas reunidas. Ao anunciar a detenção de Kohberger na sexta-feira, o chefe da polícia da cidade de Moscow, James Fry, disse que os investigadores ainda não encontraram a arma do crime. Além disso, permanecem por esclarecer algumas questões — entre as quais se o suspeito agiu sozinho, se conhecia as vítimas e qual o motivo.

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