Em Estarreja, a arte da construção naval vai ser ensinada num curso certificado

Aposta do município constitui mais um passo para a defesa de um saber-fazer que está em risco e que a região quer candidatar, em conjunto com o barco moliceiro, a Património Mundial da UNESCO.

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“O Barco Moliceiro: Arte da Carpintaria Naval da Região de Aveiro” foi inscrito no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial Adriano Miranda

O desafio é lançado a maiores de 16 anos, com a escolaridade obrigatória (mínimo 9.º ano) e interesse pela área da construção naval e das actividades marítimo-turísticas. A partir da próxima segunda-feira, estão abertas as inscrições para aquele que se pretende que venha a ser o primeiro de vários cursos de formação profissional em Actividades Marítimo-Turísticas e Construção Naval. A iniciativa é promovida pelo município de Estarreja, em parceria com a For-Mar – Centro de Formação Profissional das Pescas e do Mar e com o Centro Qualifica de Estarreja, e visa ajudar a salvar uma arte que está em risco — são cada vez menos os estaleiros e os mestres em laboração.

O curso, segundo anunciou já a autarquia estarrejense, terá uma duração de 821 horas e decorrerá em horário pós-laboral no Centro de Interpretação de Construção Naval, localizado na Ribeira da Aldeia, na freguesia de Pardilhó, que tem fortes tradições nesta actividade. Garantida está também a participação de “vários mestres construtores navais enquanto formadores”, assegurou ao PÚBLICO Isabel Pinto, vereadora da Cultura, a propósito do curso que tem 15 vagas disponíveis. “Se virmos que há procura, podemos vir a fazer novas edições do curso ou até mesmo uma formação em horário laboral”, acrescentou a autarca.

Apesar de já serem poucos os que se dedicam à arte, no município de Estarreja, a construção naval ainda ganha vida pelas mãos dos mestres construtores António Esteves, Arménio Almeida e Felisberto Amador, precisamente da freguesia de Pardilhó, e que foram homenageados com a Medalha de Mérito Municipal em 2019. Com este curso, “preserva-se este saber-fazer”, nota a vereadora, esperançosa de que os mais jovens se sintam atraídos para esta arte que corre risco de extinção. Para dar uma ajuda, as entidades promotoras decidiram tornar o tema do curso mais abrangente, alargando-o às actividades marítimo-turísticas — que estão em crescendo à volta da ria de Aveiro — e permitindo a saída profissional de marinheiro.

A formação (com subsídio de alimentação, despesas ou subsídio de transporte e material escolar garantidos) deverá arrancar nos próximos meses, dependendo da rapidez na oficialização das inscrições (centroqualificaestarreja@aeestarreja.pt ou tel. 234847116). “No máximo em Abril, estará a avançar”, perspectivou Isabel Pinto. O curso será dividido em vários módulos, três dias por semana (ainda a definir), cinco horas por dia.

A abertura deste curso surge poucos dias depois de se saber que a Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) inscreveu “como registo de salvaguarda urgente” o “Barco Moliceiro: Arte da Carpintaria Naval da Região de Aveiro” no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial —​ despacho publicado, no dia 15 de Dezembro, em Diário da República. Este acto representa um passo importante no caminho para classificação do moliceiro e da arte da construção naval como Património Mundial da UNESCO, pretensão já anunciada pela Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro (CIRA).

A DGPC reconheceu a necessidade de salvaguarda “urgente a este saber-fazer, que actualmente é apenas praticado de forma regular por cinco mestres construtores e por um pintor de moliceiros, sediados nos concelhos de Estarreja e Murtosa, não se tendo conseguido atrair novos aprendizes nos anos mais recentes”.

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