Más tarde o mais temprano, el portunhol vá a conquistar el mundo

“Portuñol” já está oficialmente no Dicionário da Língua Espanhola. Quem nunca o usou? Um dos mais felizes com a novidade foi Futre, “orgulloso” do seu “granito de arena” para “la literatura española”.

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Termo “portuñol” já está no Dicionário da Língua Espanhola ADRIANO MIRANDA (Arquivo)

A última actualização do Dicionário da Língua Espanhola (DLE) adiciona mais de três mil novos itens na sua edição digital, incluindo emendas e aditamentos. Entre as novas palavras, está “portuñol”, o “dialecto” que muitos portugueses gostam de usar para comunicar com nuestros hermanos quando estes não entendem português e aqueles não falam castelhano.

A técnica consiste em meter-se no discurso uma colherada de palavras que sabemos espanholas e mascarar-se as restantes com um acento espanholado, ou em formalidade de dicionário da Real Academia Española: é uma forma de falar “de base portuguesa que incorpora numerosos elementos léxicos, gramaticais e fonéticos do espanhol”.

A palavra, no aportuguesado “portunhol”, já constava nos dicionários da Porto Editora, descrita como “coloquial, jocoso” e acrescentando que esta é “usada por falantes de português na comunicação com falantes de espanhol”. Em nenhum dos casos se disserta sobre a eficácia do método.

No entanto, além de o portunhol ser uma via muito útil de comunicação fronteiriça ibérica e para viajantes, também tem muitos falantes noutro continente, até porque as línguas vizinhas são naturalmente as mesmas: o Brasil, que faz fronteira com sete países cuja língua oficial é o espanhol (Uruguai, Argentina, Paraguai, Bolívia, Peru, Colômbia, Venezuela), também aprecia o portunhol.

Aliás, já decorreram e decorrem planos para elevar esta variação a Património Cultural Imaterial pela UNESCO, com grande apoio do Uruguai. O académico Julio Piastre defendia, em 2015 à agência EFE, a propósito de conferências sobre o tema, que se pretendia mostrar "até que ponto o 'portuñol'" influencia a "forma de viver ou de fazer comércio" nas zonas fronteiriças entre o Uruguai e o Brasil, cerca de 1000 quilómetros, fazendo com que, segundo dados do Ministério da Educação e Cultura, haja 450.000 uruguaios que utilizam esse dialecto.

"É um idioma um pouco caseiro", dizia Piastre. Já este ano, o Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, causava polémica ao lançar a um jornalista português: “Não falo espanhol, nem portunhol”.

Mas a figura mais célebre (e a gerar mais simpatias) no seu uso é, definitivamente, Futre, que elevou o verdadeiro portunhol a língua de comunicação enquanto jogou em Espanha, no Atlético de Madrid. A tal ponto que quando o Licor Beirão quis conquistar Espanha usou precisamente Futre e o portunhol como mais-valias. O futebolista surgia no anúncio transmitido no país vizinho a dizer: "Si somos hermãos compartamos el melhor licor como hermanos". Naturalmente, Futre foi um dos que celebrou a entrada no termo no DLE. "Día histórico, amigos", considerou. "Orgulloso de aportar mi granito de arena a la historia del Atleti y de la literatura española!"

Por Portugal, por muita gente que vive na raia, para os anfitriões portugueses nas suas conversas com espanhóis de visita, e para muitos turistas portugueses de visita a Espanha, o certo é que o portunhol é uma realidade. E um casamento de línguas muito útil.

Além do portuñol, destaca a Lusa, refira-se que a actualização do DLE, o documento que estabelece o uso da língua, inclui ainda entre as suas 3000 novas entradas em todos os campos do conhecimento, termos do mundo gastronómico, como as palavras "panetone" ou "panetón” [doce de Natal de origem italiana], os significados de "sancocho", em referência ao cozido das Canárias, e "compango" [ingredientes de carne que se usam no cozido].

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