Suspeito de ataque contra curdos em Paris tem “ódio patológico a estrangeiros”

Comunidade curda exige que a polícia investigue a morte de três curdos, na sexta-feira, como um acto de terrorismo. Polícia diz que não encontrou indícios de ligação a uma ideologia extremista.

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Protestos da comunidade curda em Paris EPA/TERESA SUAREZ

O principal suspeito no homicídio de três curdos em Paris, na manhã de sexta-feira, disse à polícia francesa que tem "um ódio patológico por estrangeiros". O homem, um francês de 69 anos, foi transferido no sábado para uma ala psiquiátrica depois de ter revelado tendências suicidas.

Segundo a procuradora do Ministério Público na capital francesa, Laure Beccuau, o suspeito — identificado apenas como William M. — disse que queria matar estrangeiros, e terá planeado abrir fogo, na manhã de sexta-feira, contra habitantes de Seine-Saint-Denis, um subúrbio no Norte da Área Metropolitana de Paris com uma significativa população imigrante. Perante a pouca movimentação nessa zona, terá decidido deslocar-se para a capital, onde acabou por matar dois homens e uma mulher da comunidade curda em França.

William M. é descrito pelos media franceses como um entusiasta de armas que foi responsável por outros dois casos de violência armada, um deles com claras motivações racistas. Foi condenado, em 2017, por posse ilegal de arma, e voltaria a ser detido em 2021, por ter atacado imigrantes com um sabre. Segundo o jornal Le Monde, foi posto em liberdade no início de Dezembro, após o pagamento de uma fiança.

Ainda segundo a procuradora de Paris, o suspeito terá dito que o seu ódio a estrangeiros começou quando a sua casa foi assaltada, em 2016.

O crime deu origem a protestos nas ruas de Paris na sexta-feira e no sábado, com a polícia a deter 11 pessoas por danos provocados em propriedade privada. Com a aproximação do 10.º aniversário de um outro triplo homicídio na capital francesa, a polícia está a ser acusada de não ter feito o suficiente para proteger a comunidade curda.

Em 2013, um atirador executou três activistas curdas com tiros na cabeça e no pescoço, incluindo Sakine Canzis, co-fundadora do movimento nacionalista Partido dos Trabalhadores do Curdistão — o PKK, designado como organização terrorista pela Turquia.

Os homicídios ocorreram numa altura em que o Governo turco tinha iniciado um diálogo com o líder do PKK, Abdullah Öçalan, com vista ao desarmamento do grupo; e, segundo o Ministério Público francês, o principal suspeito, Ömer Guney, tinha ligações aos serviços secretos turcos.

Guney morreria em 2016, de cancro do cérebro, cinco semanas antes do início do seu julgamento, sem nunca se ter provado o envolvimento da Turquia nem de qualquer outro país ou organização no homicídio das três activistas curdas.

Na sequência do crime de sexta-feira, houve pedidos na comunidade curda francesa para que a polícia tratasse o caso como terrorismo, mas as autoridades dizem que não encontraram nenhum indício que possa ligar o suspeito a qualquer ideologia extremista.

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