Podcast 110 Histórias, 110 Objectos: o dínamo de Gramme

No 70.º episódio do podcast, descobrimos o dínamo de Gramme. O 110 Histórias, 110 Objectos, do Instituto Superior Técnico, é um dos parceiros da Rede PÚBLICO. Siga-o nas plataformas

No podcast 110 Histórias, 110 Objectos, um dos parceiros da Rede PÚBLICO, percorremos os 110 anos de história do Instituto Superior Técnico (IST) através dos seus objectos do passado, do presente e do futuro. No 70.º episódio do podcast, descobrimos o dínamo de Gramme.

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O dínamo de Gramme Instituto Superior Técnico

Ter aparelhos capazes de gerar correntes contínuas de electricidade pode não parecer nada de especial nos dias que correm (quase todos os gadgets electrónicos, por exemplo, trabalham com corrente contínua), mas tal era ainda uma miragem até ao aparecimento do dínamo de Gramme, que nos chegou a partir de uma técnica desenvolvida em 1871 por Zénobe Gramme. Após a construção e comercialização do dínamo por François Breguet, entre 1882 e 1885, a técnica tornou-se incontornável para a área da electrotecnia.

“É a primeira vez que se consegue a partir do movimento de rotação, numa bobine inserida num campo magnético, ter uma tensão constante, quase sem flutuações no tempo. Isso passou a ser usado em praticamente todos os dínamos construídos a partir desta altura”, explica Moisés Piedade, professor aposentado do Departamento de Engenharia Electrotécnica e de Computadores do IST e um dos fundadores do Museu Faraday.

Quando falamos de um dínamo eléctrico, referimo-nos a um conversor de energia que transforma energia mecânica de rotação numa tensão contínua - é, por isso, considerado um gerador eléctrico. Depois da pilha de Volta, o dínamo foi a primeira fonte de energia de tensão contínua com capacidade de gerar potências eléctricas elevadas. Com o dínamo de Gramme chegava a revolução: “é dos objectos, ao nível de geração da tensão contínua, que eu considero dos mais importantes na electrotecnia. Até ali eram objectos também baseados na rotação de bobinas na presença de campos magnéticos, mas a tensão obtida era pulsada, com muitas variações no tempo”, explica.

Esta mudança de paradigma “deve-se a uma invenção - o anel de Gramme - que é a maneira como é enrolada a parte da bobine móvel, que é um anel contínuo com diferentes tomadas em vários pontos. Essas tomadas são ligadas a um colector que depois apoia sobre duas escovas, de modo que quando se roda, aquele anel roda no campo magnético, produz sempre a tensão positiva no pólo positivo de saída, independentemente da posição em que está aquela bobina que roda”, aprofunda Moisés Piedade.

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Zénobe Gramme terá chegado a este dínamo através de uma experiência assim descrita por Moisés Piedade: “Fez um dínamo e ligou-o a outro situado a 500 metros de distância. Foi a primeira vez que se verificou que um dínamo gerava uma tensão contínua e o outro funcionava como motor. E isto foi uma revolução grande em termos de electrotecnia porque mostrou que este dínamo pode funcionar quer como gerador, quer como motor. Hoje em dia, nos carros eléctricos, nós temos isso”. A mesma máquina pode, assim, ser um motor - a partir da electricidade gerar energia mecânica, mas a partir da energia mecânica também gerar electricidade.

Este exemplar histórico do dínamo de Gramme encontra-se no Museu Faraday, no campus da Alameda do IST, partilhando a atenção dos visitantes com objectos que contam a história da electricidade, da electrónica, da informática, do som e da imagem, entre outras áreas do saber. É um dos poucos construídos por Breguet, conhecido sobretudo pela sua actividade enquanto relojoeiro de alta precisão. Um dos seus relógios mais famosos – o n.º 160 – terá sido encomendado por oficial da “Guarda da Rainha” e amigo íntimo da rainha Maria Antonieta, a quem seria alegadamente oferecido. Mas nunca chegou ao seu destino. O relógio “Rainha Maria Antonieta” é considerado o mais emblemático dos cerca de 1500 relógios que fez em toda a sua vida, tendo demorado 44 anos a ser concluído.

Ao valor do exemplar junta-se, assim, o valor de quem o construiu. Quando foi desviado para o museu, o dínamo de Gramme estava, contudo um pouco desvalorizado. Ou, por outras palavras, desmagnetizado e sem funcionar. Foi, de imediato, submetido à filosofia do Museu Faraday: “as coisas que temos aqui têm que estar a trabalhar. Se não estão, temos de as pôr”, resume Moisés Piedade.


O podcast 110 Histórias, 110 Objectos é um dos parceiros da Rede PÚBLICO. É um programa do Instituto Superior Técnico com realização de Marco António (366 ideias) e colaboração da equipa do IST composta por Filipa Soares, Sílvio Mendes, Débora Rodrigues, Patrícia Guerreiro, Leandro Contreras, Pedro Garvão Pereira e Joana Lobo Antunes.

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