Pessimismo estabiliza-se a níveis elevados em Novembro

Expectativas dos consumidores portugueses em relação à economia interromperam tendência de queda, mas estão a níveis historicamente baixos.

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Confiança dos consumidores está a ser abalada pela inflação Miguel Manso

Os níveis de confiança na economia portuguesa estabilizaram-se durante o presente mês de Novembro, interrompendo a tendência de agravamento do pessimismo que se vinha registando desde Agosto. As expectativas para a evolução da actividade económica no último trimestre do ano continuam, contudo, a não ser favoráveis.

De acordo com os dados do inquérito às empresas e às famílias publicados nesta terça-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), o índice de confiança dos consumidores voltou, em Novembro, a registar uma descida: a terceira consecutiva, colocando este indicador ao nível mais baixo desde Abril de 2020, no arranque da pandemia.

No entanto, a descida registada foi muito ligeira, de -38,6 para -38,7 pontos, suavizando a trajectória decrescente já verificada durante os meses de Setembro e Outubro, período em que este indicador passou de -31,1 para -38,6 pontos.

Do lado das empresas, os dados corrigidos da sazonalidade do indicador de clima económico (que agrega as expectativas na indústria, construção, comércio e serviços) mostram uma melhoria na evolução dos níveis de confiança em todos os sectores durante o mês de Novembro. O indicador de confiança, que entre Julho e Outubro tinha passado de uma variação homóloga de 1,9% para 1%, acelerou em Novembro para 1,3%.

Numa altura em que, não só em Portugal mas também no resto da Europa, se enfrenta o risco de a economia entrar em recessão a partir do quarto trimestre deste ano, a confiança dos consumidores e das empresas desempenha um papel fundamental para antecipar qual o desempenho de indicadores como o consumo e o investimento neste período. O pessimismo crescente registado nos últimos meses – provocado pela subida dos preços e pela incerteza em relação ao conflito na Ucrânia – é um dos motivos pelos quais se teme a ocorrência de uma contracção na actividade económica.

A interrupção da tendência de deterioração da confiança é, neste contexto, uma boa notícia. No entanto, a verdade é que, principalmente no que diz respeito aos consumidores, os níveis de pessimismo manifestados pelos inquiridos – quer em relação à evolução da economia, quer em relação à situação financeira da própria família – estão em níveis muito altos historicamente.

De facto, o indicador de confiança de -38,7 pontos, agora registado, não só é o mais baixo desde Abril de 2020, como só é comparável, retrospectivamente, ao período em que a troika estava presente no país: é necessário recuar até 2013 para encontrar valores mais negativos. Isto torna difícil esperar um desempenho positivo do consumo durante o quarto trimestre do ano.

No terceiro trimestre, numa altura em que a confiança dos consumidores estava já a níveis baixos (mas não tão baixos como agora) por causa da subida da inflação e da correspondente perda do poder de compra, a economia ainda continuou a crescer, com uma variação do PIB de 0,4%, tendo mesmo o INE, nos dados preliminares apresentados no final de Outubro, assinalado o facto de se ter registado um “crescimento do consumo privado apesar da aceleração dos preços no consumidor”.

Esta subida, contudo, teve o contributo positivo da poupança acumulada em média pelos portugueses durante a pandemia, algo que tem servido para compensar o impacto negativo da subida dos preços, mas que pode estar a perder o seu fulgor.

No inquérito às famílias agora divulgado pelo INE, a expectativa em relação à evolução da inflação até registou uma melhoria entre Outubro e Novembro, mas quando os consumidores foram questionados sobre as suas expectativas de realização de compras importantes, de compras de automóveis e de compra ou obras nas casas durante os próximos 12 meses, as respostas tornaram-se todas mais negativas.

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