Jovens pedem estágios obrigatórios e IEFP Jovem para entrarem no mercado de trabalho

Nas Jornadas da Juventude, participantes apontaram a falta de contacto com o mercado de trabalho. Sugerem a criação de estágios curriculares obrigatórios no ensino superior e observacionais antes.

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Jovens querem estágios obrigatórios e IEFP Jovem para entrarem no mercado de trabalho Studio Republic/Unsplash

A criação de um Instituto do Emprego e Formação Profissional Jovem em Portugal é uma das dezenas de propostas lançadas no âmbito das Jornadas da Juventude, que terminou no sábado em Santa Maria da Feira, no distrito de Aveiro.

Cerca de 200 jovens entre os 15 e os 30 anos de idade e de todas as regiões de Portugal reuniram-se, durante três dias, para debater, analisar e apresentar propostas de lei em temáticas tão diversas como trabalho, saúde mental, educação, violência ou sustentabilidade.

A criação de um Instituto do Emprego e Formação Profissional Jovem foi uma das propostas apresentadas ao secretário de Estado do Trabalho, Miguel Fontes, adiantou à Lusa a presidente da Fundação da Juventude, Carla Mouro. “É uma medida que está muito bem fundamentada, que irá hoje ser apresentada e é um grande desafio para o país e que faz sentido pensar”, afirmou, lembrando que a “taxa de desemprego jovem em Portugal é das mais elevadas relativamente à média europeia”.

Na área do trabalho, os jovens identificaram a falta de contacto com o mercado de trabalho e sugerem implementar estágios curriculares obrigatórios no primeiro ciclo de estudos de ensino superior, “criar semanas de empreendedorismo jovem a nível nacional” e abrir estágios observacionais do ensino secundário ou pós-secundário.

A temática da saúde mental foi outra das áreas “mais trabalhadas e debatidas” na 3.ª edição das Jornadas da Juventude. Segundo Carla Mouro, os estudantes querem que seja desmistificada a ideia de que o apoio para a saúde mental é para os mais fracos.

Criar um programa anual multidisciplinar com docentes de várias disciplinas, direcções regionais de saúde, psicólogos e professores e técnicos de juventude, e capacitá-los de forma a que consigam monitorizar as necessidades dos jovens, é uma das propostas lançadas neste campo.

Outra ideia é a criação de “estratégias municipais de intervenção nos agrupamentos escolares através do mindfulness [equilíbrio psicológico e emocional]” e ambiciona-se que a medida seja validada pelo Governo para todo o território nacional.

Os participantes defenderam que o tema deve fazer parte da escola como uma “qualquer outra disciplina” para que os jovens tenham plena consciência e possam tomar as suas opções. Na temática da educação, o grupo de trabalho propõe a necessidade de “rejuvenescer a classe de professores em Portugal e a actualização das metodologias de ensino”.

Ensino está “desactualizado"

A metodologia de ensino utilizada hoje em dia está “completamente desactualizada”, sem ter em atenção as necessidades e os interesses dos jovens, que querem aulas mais interactivas e participativas sem colocar o aluno a “ouvir, ler e fazer testes para testar”, resumiu a presidente da Fundação da Juventude. Propõem, por isso, metodologias de ensino que obriguem os alunos a procurar o tipo de conhecimento que desejem aprofundar e em que o professor seja um “pedagogo, orientador e que depois vai avaliando esse conhecimento”.

Na temática da violência, os jovens propõem, por exemplo, obter mais informação junto das Comissão de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ) dos seus municípios, explicou Carla Mouro. Foram também identificadas necessidades de definir estratégias nacionais de intervenção em todos os agrupamentos escolares na área da igualdade e sobretudo na igualdade de género, através da formação todas as pessoas que tenham um papel na educação dos jovens e de haver disciplinas específicas (como a de Cidadania) para falar de temas fracturantes como a violência.

A redução de desperdício dentro das cidades, com a criação de “cidades zero desperdício”, foi uma das propostas da área da sustentabilidade, tal como o estabelecimento de regulamentação para o mercado de carbono voluntário, com uma lei que permita às empresas comprar e vender carbono. Criar incentivos fiscais para a indústria têxtil, usar os resíduos como matéria-prima para desenvolver uma economia circular, e fomentar hortas comunitárias e jardins verticais foram outras ideias apontadas.

Depois das anteriores Jornadas da Juventude, realizadas em 2018, quatro medidas apresentadas pelos jovens tornaram-se leis aprovadas pelo Governo. O objectivo do evento, desenvolvido no âmbito do projecto “A(gentes)M – Agentes de Mudança”, é mostrar aos jovens que “não é preciso estar num partido político” para conseguirem alcançar a “mudança que querem ver” no país, explicou Carla Mouro.

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