“O Estado português nunca interveio a meu favor”, afirma Isabel dos Santos

A empresária angolana, que garante que o livro de Carlos Costa “diz uma inverdade”, denuncia ser vítima de “perseguição política” e admite vir a concorrer à presidência de Angola.

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O então ministro da Economia Manuel Caldeira Cabral cumprimenta Isabel dos Santos, na inauguração de uma nova fábrica da Efacec, então detida maioritariamente pela empresária, para produção de carregadores de alta potência para carros electricos Nelson Garrido

Isabel dos Santos veio a público desmentir o ex-governador do Banco de Portugal, garantindo que não houve qualquer interferência do “Estado português”, nem pressão sobre Carlos Costa em relação ao banco português de que era accionista, o Banco BIC. Carlos Costa conta no livro O Governador, do jornalista Luís Rosa, que teria recebido um telefonema “agreste” do primeiro-ministro, António Costa, depois de uma reunião que o então governador teria tido com a empresária angolana e Fernando Teles.

“O Estado português nunca interveio a meu favor ou fez pressão de género algum em relação aos meus investimentos”, garantiu a empresária angolana em entrevista à Deutsche Welle. “Este livro do governador diz uma inverdade”, acrescenta Isabel dos Santos, dizendo que se terá reunido umas duas vezes com Carlos Costa para falar dos “investimentos do banco que naquela altura tinha em Portugal”.

Aliás, a filha de José Eduardo dos Santos não deixa de se mostrar também agastada pela forma como foi tratada em Portugal. Bem recebida quando chegou, porque Portugal estava no meio de uma grave crise financeira, e depois menosprezada quando os ventos começaram a mudar em Angola, com a saída do pai da presidência angolana.

“As empresas que eu comprei aqui [em Portugal] e onde investi estavam falidas. Não eram grandes empresas de sucesso que davam dinheiro”, salientou a empresária. “Eu comprei um banco, o BPN, que estava na falência. Estava fechado e tinha 1900, 2000 trabalhadores”, lembrou.

Na entrevista ao serviço em português da emissora pública alemã, Isabel dos Santos lamenta também que Angola se tenha transformado num país “que não tem justiça” e que “não é um Estado democrático de direito”.

“O sistema judicial em Angola não é independente. Antes de isto me ter acontecido, eu não tinha noção da gravidade deste problema, mas hoje em dia tenho. Hoje em dia sei que em Angola se violam os direitos humanos. Confesso que, antes disto, eu também não sabia”, refere a empresária que nega ter conhecimento da existência de um mandado de captura internacional em seu nome, a pedido da Procuradoria-Geral de Angola.

Dizendo-se vítima de “perseguição política” através da Justiça angolana, orquestrada pelo Presidente João Lourenço, que “decidiu transformar a família Dos Santos numa espécie de símbolo”, Isabel dos Santos mostra-se desafiante, não abdicando de ter ambições políticas em Angola, apesar de ser um país onde neste momento não tem “condições para viver”.

“Angola precisa de um Governo que esteja à altura. O partido que está no poder não é o partido certo para gerir as expectativas dos angolanos. É o que hoje acredito. O MPLA tornou-se um partido corrupto e desrespeitador das leis. Enquanto tivermos esse partido no poder, não haverá investimento em Angola”, explicou.

É por isso que admite um dia vir a candidatar-se à presidência. “Eu quero servir o meu país. Se algum dia puder ajudar a tornar o meu país melhor e a ter uma visão que precisa, eu tomarei esse passo, sim. E acredito que há muitos que estarão comigo.”

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