Jornalista da AP despedido por noticiar que Rússia disparou míssil que caiu na Polónia

James LaPorta citou membro dos serviços secretos dos EUA que, sob anonimato, acusou Rússia de disparar míssil que caiu em território polaco. A AP admitiu, posteriormente, o erro.

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Destruição provocada pela queda de um míssil em Przewodów, na Polónia Reuters/JAKUB ORZECHOWSKI/AGENCJA WYBORC

A agência internacional de notícias Associated Press (AP) despediu esta segunda-feira um dos seus jornalistas, James LaPorta, que noticiou que os mísseis que caíram na Polónia, a 15 de Novembro, tinham sido disparados pela Rússia.

LaPorta terá recebido informações de um membro dos quadros superiores dos serviços secretos norte-americanos, que, na condição de anonimato, acusou a Rússia de ser responsável pela queda de mísseis em território da NATO.

Após um breve inquérito sobre o sucedido, o jornalista de 35 anos foi dispensado, confirmaram outros jornalistas da redacção da AP ao The Washington Post.

“Os rigorosos critérios e práticas editoriais da Associated Press são fundamentais para a missão da AP enquanto agência de notícias independente. Quando as nossas normas são violadas, temos de tomar as medidas necessárias para salvaguardar a integridade da agência”, justificou a porta-voz da AP, Lauren Easton. “Não tomamos estas decisões de ânimo leve nem as baseamos em incidentes isolados”.

James LaPorta, que começou a trabalhar para a agência de notícias em 2020, após ter combatido pelos Estados Unidos no Afeganistão, recusou comentar a decisão da AP. Durante dois anos, escreveu sobre assuntos militares e questões de segurança nacional.

De acordo com Lauren Easton, não está prevista qualquer medida disciplinar para os editores envolvidos na publicação do texto. Segundo cita o Washington Post, um deles “teria votado” em publicá-lo, afirmando: “Não consigo conceber que um funcionário dos serviços secretos norte-americanos se enganasse nisto.”

Alerta de ataque russo lançou o “caos”

Num momento inicial, pelas 18h30 da passada terça-feira (hora de Portugal continental), a AP avançou que dois mísseis russos teriam atingido território da Polónia, com um deles a provocar duas mortes, citando um funcionário dos serviços de informação norte-americanos.

O alerta dado pela agência levou o primeiro-ministro polaco, Mateusz Morawiecki, a convocar de imediato uma reunião de emergência do Comité do Conselho de Ministros para os Assuntos de Segurança e Defesa Nacional.

No entanto, minutos após as notícias iniciais, o Pentágono afirmou, em conferência de imprensa, não conseguir “confirmar nem desmentir” os relatos de que teriam sido mísseis russos a atingir a aldeia de Przewodów, a menos de dez quilómetros da fronteira com a Ucrânia.

A informação dada pelo jornalista da AP estava, aparentemente, incorrecta. Mas o “caos”, nas palavras de Mateusz Morawiecki, estava lançado.

Na mesma noite, o Governo da Polónia aumentou a prontidão das suas Forças Armadas e anunciou ponderar a activação do artigo 4.º da NATO, que prevê uma reunião dos países-membros “sempre que, na opinião de qualquer um deles, estiver ameaçada a integridade territorial, a independência política ou a segurança de uma das partes”.

Quanto ao artigo 5.º, apenas poderia ser invocado se se confirmasse um ataque a território polaco. Nesse caso, a NATO considera que um ataque a um país membro é um ataque a todos os outros, que sairiam em sua defesa. Seria o início de uma guerra à escala global. Não foi.

No dia seguinte, o Presidente polaco, Andrzej Duda, admitiu que o míssil que matou duas pessoas em Przewodów poderia ter sido “lançado pela Ucrânia”, mesmo que fosse de fabrico russo, e que nada apontava para um “ataque intencional”.

Também o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, adiantou que uma “análise preliminar” sugeria que o incidente tinha sido, provavelmente, causado por “um míssil de defesa aérea ucraniano, disparado para defender o território da Ucrânia contra ataques de mísseis de cruzeiro russos”.

No seguimento destas declarações, a AP substituiu a notícia de James LaPorta por uma nota de correcção, admitindo que a sua fonte estava errada e que “reportagens posteriores demonstraram que os mísseis eram de fabrico russo e, muito provavelmente, tinham sido disparados pela Ucrânia, que se defendia de ataques russos”.

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