Perto do final do seu julgamento, Cristina Kirchner procura um banho de multidão

Vice-presidente argentina vai discursar esta quinta-feira perante milhares de apoiantes numa espécie de ensaio para uma potencial recandidatura à presidência.

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Cristina Kirchner, a vice-presidente argentina, sobreviveu recentemente a uma tentativa de assassinato AGUSTIN MARCARIAN / Reuters

Mais de dois meses depois de sobreviver a uma tentativa de assassínio, a vice-presidente argentina, Cristina Kirchner, vai ser a estrela maior de um comício esta quinta-feira que muitos vêem como o pontapé de saída oficioso de uma campanha com o objectivo de a fazer regressar à presidência.

O pretexto para a acção que vai decorrer no estádio Diego Armando Maradona, em La Plata, capital da província de Buenos Aires, é o 50.º aniversário do regresso do exílio de Juan Domingo Perón, antigo Presidente e fundador do movimento político que é hoje corporizado por Kirchner. Esperam-se milhares de pessoas num evento em que as medidas de segurança serão apertadas, com a memória ainda fresca do atentado falhado contra a vice-presidente, no início de Setembro.

Um homem apontou uma arma à cabeça de Kirchner, que apenas sobreviveu por causa de uma falha no dispositivo que impediu o disparo. Desde então, a vice-presidente tem mantido uma agenda muito mais reduzida e o comício desta quinta-feira será apenas a segunda ocasião em que vai participar num evento aberto ao público.

Com eleições previstas para Agosto do próximo ano, cresce a especulação sobre a possibilidade de Kirchner poder voltar a ser a candidata do peronismo à presidência, cargo que exerceu entre 2007 e 2015. No início do mês, o seu discurso durante um encontro num importante sindicato foi recebido por gritos de “Cristina Presidente”.

Para o acto desta semana, Kirchner escolheu como slogan “A força da esperança” com tons de campanha eleitoral. No entanto, não é esperado que a vice-presidente anuncie formalmente essa candidatura já.

O que parece certo é que a ampla coligação que ascendeu ao poder em 2019, com Alberto Fernández na presidência e Kirchner como vice, terá muitas dificuldades em ser reeditada. O Governo tem sido palco de inúmeras crises, que ganham ainda mais destaque perante o aprofundamento da crise económica dos últimos anos. A inflação é galopante (pode chegar aos 90% até ao fim do ano) e o acordo alcançado entre o executivo e o Fundo Monetário Internacional para a reestruturação da dívida vem aumentar ainda mais o empobrecimento da população – quase 40% vive abaixo do limiar da pobreza.

No discurso que fez no início do mês, Kirchner fez um balanço positivo da experiência governativa ainda em curso. “Não me arrependo porque pudemos alcançar o objectivo de votar contra determinadas políticas”, afirmou.

O próprio Fernández não tem excluído apresentar a recandidatura, tal como o actual ministro da Economia, Sergio Massa, de acordo com o El País, mas a popularidade de Kirchner é incomparável, mesmo numa altura em que é abalada pelos escândalos de corrupção que envolvem a sua vida pública.

Até ao final do ano é provável que Kirchner conheça o desfecho do julgamento por corrupção em que é acusada de associação criminosa durante o período em que foi Presidente. Esta semana, foram rejeitados os pedidos de anulação do processo apresentados pelos advogados de Kirchner, abrindo caminho para a marcação das alegações finais antes de 2023.

O Ministério Público pediu uma pena de 12 anos de prisão para a vice-presidente e sua inabilitação política permanente. Porém, os efeitos de uma potencial condenação são muito limitados, uma vez que Kirchner possui imunidade pelo cargo que ocupa e a sua defesa poderá apresentar recursos que adiem um desfecho definitivo.

Kirchner rejeita todas as acusações e tem apresentado o caso como uma perseguição política e um ataque “contra todo o peronismo”.

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