“Era traidor”: soldado russo morto com golpes de marreta após desertar

Vídeo divulgado num canal de Telegram associado ao grupo Wagner mostra a execução violenta de um homem que terá sido recrutado na prisão e desertado. O Kremlin já reagiu, tentando demarcar-se.

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Um camião exibe o "z" de apoio ao Exército russo na Ucrânia, à frente do PMC Wagner Centre, um projecto do fundador do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin Reuters/IGOR RUSSAK

“Uma morte de cão para um cão": foi como o fundador e líder do grupo Wagner, Yevgeni Prigozhin, se referiu a um vídeo partilhado este fim-de-semana nas redes sociais, que mostra um antigo mercenário russo a ser executado de forma violenta, com vários golpes de marreta.

O soldado russo, “um traidor”, nas palavras de Prigozhin, terá mudado para o lado inimigo na guerra em Setembro passado, apoiando as tropas de Kiev. Antes de ser executado admitiu “lutar contra os russos”. Não é claro como foi depois capturado, ao que tudo indica por mercenários ligados a Moscovo.

Nas imagens, o homem — que será um antigo mercenário do grupo Wagner — diz ter 55 anos e chamar-se Yevgeni Nuzhin. Imobilizado com fita-cola, explica também ter sido raptado em Kiev a 11 de Outubro. Em Setembro tinha decidido juntar-se às forças ucranianas. “Fui atingido na cabeça, perdi a consciência e vim para esta cave. Disseram-me que ia ser julgado.”

Enquanto fala, outro homem com uniforme militar atinge-o com uma marreta. Nuzhin cai no chão, inanimado, e o homem golpeia-o de novo.

“Acho que este filme se chama ‘Uma morte de cão para um cão’”, reagiu o líder do grupo Wagner e aliado próximo de Vladimir Putin, Yevgeni Prigozhin. “Um excelente trabalho de realização, pode ser visto de uma assentada”, satirizou. “Nuzhin era um traidor. Traiu o seu povo, traiu os seus companheiros, traiu conscientemente.”

A Reuters não conseguiu verificar a veracidade do vídeo publicado sob o título “O martelo da vingança”, num canal de Telegram chamado Grey Zone, associado ao grupo Wagner.

“Ser acusado de brutalidade na guerra é como ser multado por excesso de velocidade numa corrida de carros”, lê-se numa das publicações no canal, em referência às acusações sobre a violenta execução de Nuzhin.

Prigozhin deixou ainda um aviso a todos os “traidores” da Rússia: “Não se esqueçam, traidores não são só os que pousam as armas e vão ter com o inimigo”, relembrou. “Alguns estão escondidos em escritórios, sem pensar no próprio povo. Alguns já usaram os seus jactos para voar até países que até agora nos parecem neutros. Voam para longe para não se envolverem nos problemas de hoje. Esses também são traidores.”

O Kremlin também já reagiu ao vídeo, mas tentou demarcar-se do mesmo. “Não nos diz respeito”, afirmou o porta-voz Dmitri Peskov.

Nuzhin foi um dos reclusos chamados para a guerra

Os familiares de Yevgeni ​Nuzhin, que confirmaram a sua identidade, dizem estar “horrorizados”. “Foi assassinado como um animal”, disse o filho, Ilya Nuzhin, citado pelo The Guardian, acrescentando que a família soube da morte de Yevgeni através do Telegram.

Nuzhin foi um dos reclusos recrutados por Yevgeni Prigozhin para integrar o grupo Wagner e combater por Moscovo na Ucrânia.

Em Setembro, Prigozhin foi filmado a fazer um breve discurso numa prisão em que explicava que poderiam ser recrutados homens entre os 22 e os 50 anos. “Se chegarem à Ucrânia e decidirem, no primeiro dia, ‘estou num sítio onde não quero estar’, são designados desertores e segue-se uma execução pelo pelotão de fuzilamento”, esclareceu.

Nuzhin cumpria uma pena de 24 anos de prisão por um homicídio que cometeu em 1999. Foi libertado em Julho e destacado para uma das frentes de guerra na Ucrânia, mas ficaria por pouco tempo do lado russo.

Em Setembro foi detido pelas tropas ucranianas e, em várias entrevistas, admitiu ter-se juntado ao grupo Wagner apenas para sair da prisão, mas com um plano de rendição a Kiev. Teceu ainda críticas ao regime de Vladimir Putin.

Não é claro como foi apanhado pelos responsáveis pela sua execução, potencialmente associados ao grupo Wagner.

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