Salários aceleram, mas continuam longe de compensar a inflação

Um aumento nominal de 4% que, em termos reais, se transforma numa queda de 4,7%. O ritmo a que o salário médio está a crescer em Portugal continua a não chegar para fazer face à escalada dos preços

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Nuno Ferreira Santos

O salário médio praticado em Portugal aumentou durante o terceiro trimestre do ano, mas, tendo em conta a escalada que se tem vindo a verificar na inflação, tal não evitou que os portugueses continuassem a sofrer uma acentuada perda do seu poder de compra, de 4,7%.

De acordo com os dados publicados esta quinta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), a remuneração bruta mensal média por trabalhador cifrou-se, no passado mês de Setembro, em 1353 euros, um valor que é 4% mais alto do que o registado no mesmo mês do ano passado.

Verifica-se assim uma aceleração do salário médio praticado em Portugal, já que este indicador estava a crescer 3,3% em Junho (a última vez que o INE tinha divulgado estes dados), tendo a taxa de variação homóloga baixado para 3,2% em Julho e subido para 3,5% em Agosto e, agora, 4% em Setembro.

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Este ritmo de subida dos salários em termos nominais não é contudo suficiente para compensar aquilo que está a acontecer aos preços dos produtos e dos serviços que os portugueses têm de comprar. Em termos reais – levando em conta a inflação –, em vez de um crescimento da remuneração bruta mensal média, o que se regista é uma forte diminuição, de 4,7% face ao ano passado.

A quebra do salário real era, em Junho, um pouco mais moderada, de 4,4%, mas foi ainda maior nos meses de Julho e Agosto, quando, com a inflação a acelerar, a quebra das remunerações em termos reais chegou aos 5,4% e 5,1%, respectivamente.

Na prática, o que isto significa é que, mesmo com o salário médio em termos nominais a crescer 4% face ao ano passado, os portugueses, em média, conseguem agora com os seus salários consumir menos bens e produtos, sendo esta quebra de 4,7%.

Este indicador é diferente consoante o sector de actividade. Em alguns sectores, onde a escassez de mão-de-obra é mais acentuada, os aumentos salariais em termos nominais estão a ser mais significativos, chegando, por exemplo, a superar os 6% na Educação, nas Actividades de Consultoria, Científica, Técnicas e Similares e nas Actividades de Informação e de Comunicação. No entanto, nem mesmo aí, se evitaram perdas reais nas remunerações médias, tendo estas sido de 1,9%, 2,1% e 2,5%, respectivamente.

Noutros sectores, com aumentos das remunerações médias muito moderados em termos nominais, as perdas de poder de compra sentidas são particularmente graves. Destacam-se a este nível, os trabalhadores da Administração Pública, Defesa e Segurança Social e das Actividades Financeiras e de Seguros, que registam uma variação da remuneração média bruta em termos reais negativa de 7,8% e 7,6%, respectivamente.

Os trabalhadores do sector público registam, em termos médios, uma evolução mais desfavorável da remuneração do que os do sector privado. No sector público, a queda real do salário médio foi, em Setembro, de 6,5% face ao mesmo mês do ano passado, enquanto no sector privado a quebra foi de 3,9%, revela o INE.

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