Ajude o seu filho a meter medo ao medo!

Nem sempre é fácil determinar a origem do medo, em alguns casos, nem sequer é relevante, importando mais a forma como a criança se dispõe a enfrentá-lo.

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@petercalheiros

Segundo as teorias das emoções, o medo é uma emoção básica e adaptativa, presente em todas as idades, culturas, raças ou espécies, com a função de proteger-nos de situações que podem acarretar consequências negativas para a nossa saúde e bem-estar.

O medo caracteriza-se por um estado emocional desagradável de apreensão ou tensão, seguido por sintomas de ativação fisiológica, como, por exemplo, dificuldades em respirar, tonturas, palpitações, suores ou tremores, desencadeados por uma ameaça real ou imaginada.

Ao longo do seu crescimento, é natural que todas as crianças manifestem medos que, em cada faixa etária, representam uma aprendizagem de como lidar com situações temíveis no futuro. Assim, num dado momento do desenvolvimento da criança o medo deve ser encarado como adaptativo e normal.

Os medos são considerados um problema quando começam a dominar o dia-a-dia da criança e da família, tornando-se difíceis de gerir e gerando sofrimento, isolamento e interferência no rendimento académico e social, quer sejam ou não adequados à idade da criança do ponto de vista desenvolvimental.

Nem sempre é fácil determinar a origem do medo, sendo que, em alguns casos, nem sequer é relevante, importando mais a forma como a criança se dispõe a enfrentá-lo e os recursos que dispõe para o fazer.

A criança pequena, até aos três anos, tem medo de alturas, de objetos estranhos, ruídos fortes e de separar-se dos pais. Entre os três e os seis anos os medos mais frequentes são de animais, do escuro, os monstros, bruxas e fantasmas, das alturas, e da separação dos pais.

Com a entrada no 1.º ciclo e até ao início da adolescência surgem outros medos, como os fenómenos naturais (trovões, relâmpagos e terramotos), situações de avaliação e exposição como ter de falar nas aulas e ir ao quadro, rejeição pelos colegas, crítica pelos professores, doenças, morte, e medo de falhar, que por um lado pode impulsionar para o êxito, mas, por outro, pode tornar-se muito angustiante e difícil de lidar.

A proteção parental, os acidentes graves e as situações traumáticas podem dificultar a redução dos medos normais ou mantê-los para além do período esperado, transformando-os em fobias ou perturbações de ansiedade.

O tratamento psicológico que demonstrou ser eficaz na redução do medo agravado baseia-se em procedimentos empiricamente validados, através da terapia cognitivo-comportamental.

O que os pais podem fazer para ajudar a criança?

É impossível os pais conseguirem evitar o sentimento de medo por parte dos seus filhos, na verdade, nem seria saudável. Ao invés disso, podem ter um papel preponderante no auxílio da procura de estratégias que permitam à criança ultrapassar o medo de forma gradual e ao seu ritmo, mostrando-se apoiantes e deixando claro que falar sobre as suas dificuldades não é vergonha.

Não desvalorize ou ridicularize os medos que a criança expressa, sob o risco de diminuir a sua autoconfiança, mas, em alternativa, converse com a criança procurando identificar o medo e as situações em que este aparece.

É natural que uma criança com medo evite ou tente fugir da situação, porém, torna-se importante mostrar que esta não é a forma mais adequada de lidar com a situação e mobilizá-la para enfrentar o medo, recorrendo à aceitação e validação dos seus sentimentos e à exposição gradual, que deve ser feita de preferência sob a coordenação de um profissional.

Outro passo consiste em ensinar desde cedo as crianças a identificarem os “medos bons” e os “medos maus”. Os primeiros são aqueles que a protegem do perigo e que são frequentemente encorajados pelos pais, como ter cuidado ao atravessar a rua. Assim, o “medo bom” transforma-se numa personagem amiga e positiva a quem a criança deve ouvir para se proteger, enquanto o “medo mau” assume o papel da personagem vilã que diz exageros e mentiras e começa a invadir a vida da criança, interferindo no seu bem-estar. Por exemplo, quando faz uma criança de sete anos acreditar que dormir sozinha é perigoso.

Também é adequado explicar à criança que toda a gente tem medos, dando exemplos dos próprios pais na infância e utilizando uma linguagem acessível.

Ensine-o a fazer a respiração diafragmática, isto vai ajudá-lo a acalmar:

  1. Instale-se numa posição confortável, deixe que os seus olhos se fechem levemente, e sintonize-se com a respiração.
  2. Coloque uma mão na barriga e a outra no peito. Respire lentamente pelo nariz e sinta a mão sobre a barriga a subir e descer. O seu tórax não se deve mover, apenas a barriga.
  3. Repita este exercício pelo menos dez vezes.

Caso os pais percebam que a situação é difícil devem procurar a ajuda de um psicólogo infantil credenciado pela Ordem dos Psicólogos Portugueses.


A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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