Líder dos Guardas da Revolução iranianos avisa que “hoje é o último dia de motins”

Protestos continuam nas ruas de várias cidades pelo 43.º dia consecutivo, enquanto o regime acusa novamente Estados Unidos e aliados de estarem por trás da contestação.

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Salami discursou no funeral das vítimas de um ataque a uma mesquita, na semana passada WANA NEWS AGENCY/Reuters

O líder dos Guardas da Revolução do Irão avisou este sábado os manifestantes contra o regime que “hoje é o último dia de motins”. Esta força de elite poderosa e muito temida ainda não foi chamada a conter a vaga de protestos que continua imparável por todo o país, mas o seu chefe deu a entender que isso está prestes a mudar.

“Não venham para as ruas! Hoje é o último dia de motins”, ameaçou Hossein Salami, citado pela Reuters.

O general discursava no funeral das vítimas de um tiroteio numa mesquita em Shiraz, na quarta-feira, o mesmo dia em que milhares de pessoas se concentraram na cidade natal de Mahsa Amini para assinalar o 40.º dia desde a sua morte e protestar contra o Governo. O regime atribuiu a autoria do ataque ao Daesh e tentou colá-lo aos protestos. O atirador morreu este sábado no hospital, segundo as agências noticiosas iranianas.

“Esta sedição sinistra não vos vai levar a um final feliz. Não arruínem o vosso futuro!”, disse também Salami, novamente acusando os Estados Unidos e também Israel de estarem na origem da contestação. “Não vendam a vossa honra à América e não batam na cara das forças de segurança que vos defendem.”

Um comunicado conjunto dos Guardas da Revolução e do Ministério da Informação, divulgado na sexta-feira, acusou os EUA de financiarem as organizações de direitos humanos e de lhes darem formação em guerrilha urbana. Israel, Arábia Saudita e Reino Unido foram também responsabilizados pela tentativa de fazerem cair o regime.

Apesar da ameaça de Salami, os manifestantes voltaram a sair à rua pelo 43.º dia consecutivo. O último balanço da organização Iran Human Rights, feito na sexta-feira, aponta para pelo menos 253 pessoas mortas, incluindo 34 crianças.

O regime tem respondido aos protestos com violência, havendo múltiplos relatos de disparos de balas reais e gás lacrimogéneo. O acesso à Internet tem sido bloqueado com frequência em várias zonas do país.

“A utilização ilegal e irresponsável de armas de fogo contra os manifestantes, incluindo munições reais, por parte das autoridades iranianas demonstra mais uma vez o alto custo da inacção internacional”, denunciou Heba Morayef, directora da Amnistia Internacional para o Médio Oriente e o Norte de África. “O Conselho de Direitos Humanos da ONU deve deixar claro perante as autoridades iranianas que os seus crimes à luz do Direito internacional não vão passar sem ser investigados”, acrescentou.

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