Novo aviso dos cientistas: os sinais vitais da Terra atingiram novo limite

Uma equipa de cientistas reforça os avisos com um novo alerta. Quase metade dos indicadores utilizados para acompanhar a crise climática estão a bater recordes.

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A seca é um dos sinais de alerta da crise climática em curso Nuno Ferreira Santos

Não parece ser novidade, mas o planeta Terra atingiu novas linhas vermelhas. “A humanidade enfrenta inequivocamente uma emergência climática. A escala do sofrimento humano, que já é enorme, está a crescer rapidamente com o aumento de desastres ligados ao clima”, alertam 12 investigadores num relatório em tom de alerta para a população e para os governos.

Este novo aviso é publicado na revista científica BioScience e já foi assinado por mais de 14 mil cientistas de 158 países. O relatório não surge por mero acaso. Estes são os mesmos cientistas que escreveram um outro relatório, há cinco anos,​ onde alertaram para a necessidade de prestarmos atenção aos recordes que estavam a ser batidos – e que agora voltam a registar novos máximos.

Acompanhe a COP27 no Azul

A Cimeira do Clima das Nações Unidas é o ponto mais alto da diplomacia em torno das alterações climáticas, onde os países discutem como travar as emissões de gases com efeito de estufa que causam o aquecimento global. Este ano é no Egipto, de 6 a 18 de Novembro. Acompanhe aqui a Cimeira do Clima. 

Se recuarmos três décadas, em 1992, a primeira nota era titulada como “Aviso à humanidade dos cientistas mundiais”, assinado por 1700 investigadores. Em 30 anos, as emissões de gases com efeito de estufa subiram 40%.

“A crise climática está em marcha há algum tempo, com as temperaturas globais a crescerem constantemente. No entanto, quando olhamos para os dados, somos surpreendidos pelos aumentos rápidos na frequência e gravidade dos desastres ligados ao clima. Estes aumentos rápidos indicam que a situação pode ser ainda mais terrível do que antecipávamos”, resume William Ripple, investigador em alterações climáticas da Universidade de Oregon (Estados Unidos).

Sinais vitais alarmantes

O relatório publicado esta semana acompanha 35 sinais vitais do planeta, como se de um diagnóstico se tratasse. “Muitos destes sinais vitais continuam a piorar. O aumento das concentrações de gases com efeitos de estufa são particularmente preocupantes, tal como o aumento da temperatura e a perda continuada de gelo”, diz William Ripple ao PÚBLICO. “O sinal mais problemático é mesmo o aumento dos desastres climáticos como as ondas de calor, incêndios ou cheias”.

Não são situações para as quais não tenhamos exemplos. As ondas de calor têm sido mais frequentes em território português (e com recordes por todo o planeta em Junho) e os incêndios são também uma preocupação recorrente nos verões nacionais. E se as cheias ainda não fizeram mossa em Portugal, há exemplos recentes por todo o mundo – como as mais de 1000 mortes no Paquistão ou, mais perto, em países europeus como a Alemanha.

E há outros fenómenos relacionados com o clima que são destacados pelo relatório agora publicado. As tempestades tropicais e furacões têm também uma palavra a dizer. Ainda recentemente, como nota o relatório, o furacão Ian provocou mais de uma centena de mortes nos Estados Unidos, destruindo ainda propriedades e deixando mais de 2,5 milhões de pessoas sem acesso a electricidade. Mesmo no que toca à saúde, a maior prevalência do vírus da dengue transmitido por mosquitos também é fomentado por um clima mais tropical em diferentes regiões do globo.

Existe ainda uma palavra para a seca, um problema que afecta directamente Portugal. Este ano ainda não acabou e já é considerado o pior de seca em Portugal desde que há registos. Em Junho último, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera destacava que 97% do território português estava a ser afectado por condições de seca severa.

Quase metade dos indicadores observados (16 em 35) estão em níveis máximos observados, e prometem não ficar por aqui: “Com a intensificação das alterações climáticas, a expectativa é que estes números aumentem nos próximos anos”, avisa William Ripple.

Máximo no desinvestimento em fósseis

Há, no entanto, um prisma positivo para olhar. Desses 16 indicadores, um deles mostra um sinal que reforça a esperança do investigador norte-americano: o desinvestimento institucional das empresas de combustíveis fósseis também atingiu um novo máximo.

É um sinal que mostra que ainda é possível reverter a crise climática que atravessamos? “Apesar de alguns impactos climáticos poderem ser irreversíveis ao longo do tempo, acreditamos que limitar os danos ainda é possível e essencial”, diz William Ripple.

“No entanto, para isto acontecer é necessário um esforço global de mitigação climática. É por isso que apelamos a uma adaptação às alterações climáticas, especialmente nos países desenvolvidos”, explica.

Isto significa reduzir a nossa pegada ecológica e as emissões, preservando a natureza e as florestas, bem como investir em políticas públicas que protejam o ambiente – como subsídios positivos que garantam benefícios aos produtores de energias renováveis ou a taxação mais elevada de sectores poluentes, exemplificam os cientistas no relatório.

Este novo aviso dos cientistas antecede a Conferência do Clima (COP27), que decorre em Sharm el-Sheikh, no Egipto, entre 6 e 18 de Novembro.

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