EUA querem proteger o pinguim-imperador, que está ameaçado pela crise climática

Subida das temperaturas exerce pressão sobre os bancos de gelo que são fundamentais para a sobrevivência deste animal.

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Os pinguins-imperadores são endémicos da Antárctida Christopher Michel

O pinguim-imperador (Aptenodytes forsteri) foi, esta terça-feira, classificado pelo Governo dos Estados Unidos como uma espécie “ameaçada”, ao abrigo daquela que é a principal legislação norte-americana para proteger espécies em perigo: o chamado Endangered Species Act. Endémico da Antárctida, o animal é bastante vulnerável aos efeitos adversos das alterações climáticas, dado que o aquecimento global está a levar ao derretimento de uma porção significativa dos bancos de gelo na Antárctida.

“Os pinguins-imperador, como muitas espécies na Terra, enfrentam um futuro muito incerto”, que está dependente da capacidade de os humanos mitigarem as actividades que estão a levar à catástrofe climática, disse Stephanie Jenouvrier, ecóloga do Instituto Oceanográfico de Woods Hole (EUA), num comunicado de imprensa em que esta instituição explica o que muda com o novo estatuto do pinguim-imperador nos Estados Unidos (já lá vamos). “Devíamos inspirar-nos nos próprios pinguins: só em conjunto é que eles conseguem enfrentar o clima mais severo na Terra, e só em conjunto é que conseguiremos enfrentar um difícil futuro climático”, acrescentou.

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Pinguim-imperador dá de comer à sua cria Wikimedia Commons

O New York Times explica que os pinguins-imperador, que são os mais altos das várias espécies de pinguim que existem, desempenham um papel importante na cadeia alimentar dos animais que vivem na Antárctida: predadores de “lulas e peixes pequenos”, são, ao mesmo tempo, parte integrante da dieta de animais maiores, como focas-leopardo e orcas.

Há entre 625.000 e 650.000 pinguins-imperador a viver na natureza, segundo o Governo dos Estados Unidos. O New York Times refere que, embora nenhum destes pinguins esteja em solo americano, a classificação do animal como espécie ameaçada ao abrigo do Endangered Species Act obriga as agências federais a, daqui para a frente, “garantir que os seus projectos que emitem grandes quantidades” de gases com efeito de estufa (GEE) “não ameaçam o pinguim ou o seu habitat”.

O reconhecimento por parte do Governo de Joe Biden de que a situação actual dos pinguins-imperador é frágil também deverá, conforme escreve o jornal britânico The Guardian, ajudar a reduzir pescas que emagreçam perigosamente a sua fonte de alimento e, ainda, incentivar à criação de medidas de conservação pensadas internacionalmente.

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Um pinguim-imperador "foge" da "sua" Antárctida e dá com uma ilha pequena na Nova Zelândia, em Junho de 2011 Reuters

Uma “vitória” e um “aviso”

O New York Times escreve ainda que o pinguim-imperador passa a fazer companhia “aos ursos polares, a dois tipos de focas e a 20 variedades de coral” na lista de espécies que o Governo dos EUA considera estarem ameaçadas pelas alterações climáticas.

Citada pelo The Guardian, Shaye Wolf, do Centro para a Diversidade Biológica — organização norte-americana voltada para a protecção de espécies ameaçadas —, afirma que o facto de agora os pinguins-imperador merecerem especial atenção e cuidados redobrados é para eles uma “grande vitória”. “Ao mesmo tempo”, acrescenta, “esta decisão é um aviso” de que, se queremos que o animal sobreviva, temos de agir urgentemente para o proteger — o que passa por proteger o planeta das emissões de GEE e da subida global das temperaturas.

Os pinguins-imperador passam “grande parte do ano” nos bancos de gelo antárcticos, informa o New York Times. É lá que “eles se reproduzem, criam os seus filhotes e escapam de predadores”. O aquecimento global está a fazer com que esses bancos de gelo desapareçam — e há registos recentes de episódios que foram catastróficos para a vida animal. Em 2016, uma colónia de pinguins-imperador perdeu 10 mil crias após um banco de gelo ter derretido. As crias ainda não estavam preparadas para nadar e morreram afogadas. No que diz respeito aos números populacionais, a colónia ainda não recuperou.

Em 2018, um estudo publicado na reputada revista científica Nature indicou que a Antárctida perdeu cerca de três biliões de toneladas de gelo entre 1992 e 2017. Tal corresponde a uma subida do nível médio das águas do mar de cerca de oito milímetros. Logo no início do estudo, os autores referiam que “as camadas de gelo da Antárctida têm água suficiente para aumentar o nível global do mar em 58 metros”. Travar o aquecimento global, que está a levar ao derretimento dessas camadas de gelo e a contribuir para a subida do mar, afligindo comunidades costeiras e não só, é essencial para evitar um apocalipse climático.

O derretimento dos bancos de gelo é uma ameaça grande para os pinguins-imperador, mas, quando se fala das pressões que as alterações climáticas estão a exercer sobre esta espécie, há mais problemas em cima da mesa. O The Guardian escreve que a acidificação do oceano está a ter impactos negativos na abundância de krill, “uma importante fonte de alimento”.

Sabia que...

Os pinguins-imperador são os mais altos das várias espécies de pinguim que existem e desempenham um papel importante na cadeia alimentar dos animais que vivem na Antárctida. Predadores de “lulas e peixes pequenos”, são, ao mesmo tempo, parte integrante da dieta de animais maiores, como focas-leopardo e orcas.

Na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla inglesa), o pinguim-imperador surge como “quase ameaçado”. Até 2012, o animal era classificado como uma espécie “pouco preocupante”, no sentido em que as suas populações apresentavam números interessantes e o risco de extinção era tido como baixo. Como já referimos, há entre 625.000 e 650.000 pinguins-imperador a viver na natureza, mas, segundo lembra a rádio norte-americana NPR, estimativas de especialistas sugerem que esse número pode ficar 26 a 47% mais pequeno até 2050.

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