Aqui há peixe!

Mesmo em termos de sustentabilidade, não seria melhor procurarmos uma solução que permita aos nossos stocks naturais recuperarem e investirmos mais no cultivo?

Por mais vozes que se ergam contra o pescado de cultivo, a verdade é que, no futuro, o fornecimento de peixe será garantido pela aquacultura. Há quem diga que parte da qualidade que apreciamos é perdida, mas, no que toca a Portugal, isso não é bem verdade, pois o nosso cultivo é feito, maioritariamente, em tanques de terra e, muitas vezes, com densidades muito aceitáveis que não condicionam acentuadamente a textura e o sabor do peixe.

A rejeição deste pescado implica um prejuízo enorme para a nossa dieta, já que optar pelo consumo de peixe selvagem implica pagar um valor muito mais elevado. Mesmo em termos de sustentabilidade, não seria melhor procurarmos uma solução que permita aos nossos stocks naturais recuperarem e investirmos mais no cultivo?

Do meu ponto de vista, como investigadora, não tenho dúvida de que o futuro da segurança alimentar passará, certamente, pela aquacultura. Nos países desenvolvidos a aquacultura tende a crescer e a diversificar-se cada vez mais, porém, será nos países em desenvolvimento que esta atividade poderá desempenhar um papel crucial, garantindo acesso a um alimento de qualidade, colmatando as deficiências nutricionais de comunidades em risco de insegurança alimentar e proporcionar às crianças um bom desenvolvimento.

O consumo de pescado proporciona o acesso a proteínas de qualidade, bons níveis de ómega-3, vitaminas e sais minerais essenciais ao nosso organismo. Será que nos podemos dar ao luxo de perder todos estes benefícios do consumo de peixe?

Foi neste âmbito que, em setembro, a Missão Permanente de Portugal e do Brasil na ONU patrocinaram, por iniciativa do Instituto Português do Mar e da Atmosfera, uma sessão dedicada à importância dos recursos marinhos e de água doce na segurança alimentar do futuro. Esta sessão contou com a presença de vários investigadores portugueses, da América do Sul e de vários políticos de Portugal, Brasil, Angola e Etiópia, realçando o papel fundamental da aquacultura.

Por um lado, os investigadores apresentaram os resultados de vários projetos que decorreram em Angola, Moçambique, no Brasil e no México, demonstrando os benefícios, por exemplo da aquacultura comunitária, em que toda a comunidade está envolvida e beneficia desta atividade e da aquacultura integrada, onde plantas e peixes são cultivados em conjunto, tornando-se num sistema mais sustentável e com menos desperdícios. Por outro lado, os decisores políticos concordaram que é crucial que esta atividade cresça, se diversifique e que seja feito um esforço para que a ciência e a política consigam andar de mãos dadas para que a segurança alimentar seja uma realidade para todos. Será bom que, no futuro, todos possam dizer: aqui há peixe!

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

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