O impacto da dor nas costas na vida profissional

Não se pode evitar o envelhecimento do corpo humano, mas há alguns conselhos úteis para defender a sua coluna vertebral. Saiba quais são. Este domingo assinala-se o Dia Mundial da Coluna.

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A coluna é prejudicada por pesos excessivos, pesos repetidos e más posturas repetitivas Sven Mieke/Unsplash

Apesar de todos os avanços da medicina moderna, o envelhecimento do corpo humano é algo a que até hoje ainda ninguém conseguiu escapar. A partir dos trinta anos, o nosso esqueleto e a coluna vertebral, em particular, vão apresentando sinais de envelhecimento a que mais frequentemente chamamos lesões degenerativas ou de “desgaste”. Por isso, é frequente vermos nas consultas adultos com trinta e quarenta anos que apresentam exames que revelam alterações degenerativas muito marcadas. Mas aquilo que mais nos intriga a nós, cirurgiões da coluna vertebral, é que nem todos eles se queixam de dores nas costas.

As alterações degenerativas da coluna vertebral mais frequentes nas pessoas com mais de 65 anos são uma consequência do desgaste assimétrico dos chamados discos intervertebrais e das facetas articulares que são as pequenas articulações na parte de trás da coluna vertebral. Na maioria dos casos, a este desgaste associa-se perda de massa muscular esquelética em consequência de uma vida mais sedentária, com diminuição da quantidade e da dimensão das fibras musculares – e a consequente diminuição da força muscular – que acabam por comprometer o desempenho físico de cada indivíduo.

Todas estas alterações terão impacto nas posturas “viciosas” que adquirimos nas múltiplas atividades profissionais que exercemos. Não posso dizer que uma profissão é muito melhor do que a outra: existem muitos estivadores que trabalham com pesos muito pesados anos a fio e não se queixam de dores nas costas, ao mesmo tempo que, por outro lado, temos muitos administrativos que habitualmente não carregaram pesos e, no entanto, se queixam amargamente de dor nos vários segmentos da coluna vertebral. Como podemos explicar esta realidade?

Por um lado, temos hoje conhecimento que, excluindo o contexto agudo de um acidente, perante a mesma “agressão” crónica – pesos excessivos, pesos repetidos, más posturas repetitivas – as nossas colunas podem reagir de modo distinto: umas desenvolvem alterações degenerativas e outras resistem de uma forma aparentemente fácil a essa mesma agressão ambiental. Pensa-se que existe uma predisposição genética que vai facilitar este facto e por isso, é frequente vermos em famílias problemas de patologia degenerativa da coluna, como hérnias discais, que “passam” de pais para filhos.

Podemos relacionar a incidência das dores nas costas no contexto da atividade profissional com dois fatores: o estilo de vida e as tarefas profissionais diárias de risco.

Relativamente às tarefas profissionais, são essencialmente de três tipos: as que exigem força, como carregar computadores, caixas, resmas de papel ou outros objetos que nos obrigam a baixar para os apanhar do chão e depois a colocá-los em cima de secretárias ou bancadas.

São movimentos feitos muitas vezes nas posições mais inadequadas de flexão e rotação da coluna lombar, causa frequente de rotura de discos.

Outra das tarefas profissionais que são geralmente mal sucedidas, são aquelas que envolvem tarefas repetitivas com qualquer parte da coluna, mas sobretudo com a coluna cervical e a coluna lombar, como acontece por exemplo com os operadores em linhas de montagem, bem como com trabalhadores administrativos que são obrigados a movimentos repetidos para tarefas múltiplas das suas funções.

Por fim, aquela que é talvez a principal causa de dor e está relacionada com uma vida sedentária, de estarmos sentados horas sem fim na mesma posição, a trabalhar com computadores portáteis ou outros fixos mal adaptados à altura da secretária, em cadeiras inapropriadas e mal ajustadas à cabeça e à visão direta.

Tudo isto piora quando se conjugam estas tarefas com as de trabalhar na secretária com documentos em papel na horizontal. A inatividade no posto de trabalho que é complementada na vida extralaboral é, sem dúvida, uma fonte de más posturas, bem como de atrofia muscular generalizada, em particular nas épocas críticas em perdemos massa muscular de uma forma mais rápida, como no caso da menopausa nas mulheres.

No que se refere ao estilo de vida, todos sabemos como a obesidade, o sedentarismo e o envelhecimento podem contribuir para o agravamento de todos os sintomas na coluna acima descritos. Se, por um lado, não podemos controlar o envelhecimento, poderemos sim combater a obesidade e a vida sedentária, aprendendo a defender-nos e a protegermo-nos de alguns acidentes/ doenças profissionais.

Podemos adotar um estilo de vida saudável com uma boa alimentação, evitando os excessos e complementada com os nutrientes mais necessários a cada fase da vida, como por exemplo o cálcio e a vitamina D na mulher que está a caminho da menopausa. À alimentação deve associar-se o exercício aeróbico distribuído pelo menos duas por semana, mas em que se trabalhe todos os grupos musculares que necessitamos para uma vida quotidiana saudável, equilibrada e adaptada a cada uma das nossas atividades profissionais.

Uma palavra particular para os hábitos tabágicos – os fumadores têm mais dores nas costas do que os não fumadores e a razão está relacionada com o facto de o tabaco destruir as vias de nutrição dos discos intervertebrais, levando ao aparecimento de alterações degenerativas e a uma mais elevada incidência. Para além deste facto, os fumadores também tossem com mais frequência, o que por si só também pode provocar a rotura de discos que já estejam degenerados, desencadeando crises de dor aguda.

Para proteger e manter as costas na sua melhor forma, o objetivo fundamental deve ser conseguir dar condições para que possam aguentar as exigências de cada profissão, com as suas posturas mais específicas. Assim, por exemplo, numa profissão administrativa, implica otimizar o seu ambiente de trabalho, sem computadores portáteis de preferência – e a ter de os usar sempre com o computador alto e um teclado sem fios ou uma docking station – com uma cadeira com apoio lombar e de braços, a secretária ao nível dos cotovelos, ou a cadeira alta de modo a que a secretária fique ao nível dos cotovelos, mantendo os utensílios mais usados à sua frente de forma a evitar os movimentos repetidos de rotação.

No entanto, quem trabalha à frente do computador necessita de ter um fortalecimento adequado dos extensores da coluna para manter as costas direitas quando sentados, bem como de outros músculos, impedindo que os ombros descaiam para a frente e que, para além das dores na coluna cervical, provoquem também dores nos ombros por síndrome. A dor que muitas vezes se instala entre as omoplatas deste tipo de trabalhador tem a mesma origem. Em qualquer uma destas profissões é obrigatório levantar-se com frequência e evitar estar muitas horas na mesma posição.

O meu conselho para quando surge a dor nas costas é parar uns minutos, levantar-se e fazer uns exercícios de alongamentos para descontrair e relaxar os grupos musculares contraídos que são a causa da dor.

Para terminar, é importante recordar que em muitas outras profissões deveremos utilizar todos os dispositivos que existem para nossa proteção individual, como por exemplo as cintas lombares para quem tem que carregar pesos com frequência, bem como atuar a nível de formação de certas profissões, tornando obrigatórios “cursos” para se aprender como se deve carregar pesos, evitando assim que se possam magoar e desenvolver lesões que poderiam ser evitadas.

Seja como for, a prevenção é a melhor defesa e devemos ouvir e seguir os conselhos dos especialistas. Para combater as dores nas costas, consulte o seu médico.


O autor escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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