Euro baixa dos 0,99 dólares e bate mínimo dos últimos 20 anos

Os receios de uma travagem da economia europeia no Inverno, acentuados com o corte do fornecimento russo de gás, voltam a penalizar o euro nos mercados internacionais. BCE poderá acelerar subida dos juros.

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Reuters/DADO RUVIC

O euro passou esta segunda-feira, pela primeira vez nos últimos 20 anos, a valer menos do que 0,99 dólares, prolongando a sua tendência de forte depreciação face à divisa norte-americano e pressionando ainda mais o Banco Central Europeu (BCE) a agir para controlar a inflação.

Depois de um fim-de-semana em que o corte por tempo indeterminado dos fornecimentos de gás russo através do gasoduto Nord Stream voltou a colocar em causa a evolução da economia europeia nos próximos meses, o euro registou na manhã desta segunda-feira uma nova descida no seu valor face ao dólar. Ao início da manhã, um euro passou a valer, de acordo com os dados disponibilizados pela agência Reuters, 0,9876 dólares.

É a primeira vez, desde 2002, que a moeda única europeia cai abaixo da barreira dos 0,99 dólares. O euro tem vindo, nos últimos meses, a registar uma depreciação acentuada face ao dólar, baixando barreiras que já não eram atingidas há cerca de duas décadas.

Em meados do passado mês de Julho atingiu, pela primeira vez em quase 20 anos, a paridade face à divisa norte-americana, muito longe dos 1,6 dólares que chegou a valer em 2008 e mesmo dos 1,2 dólares que eram o seu valor há pouco mais de 12 meses atrás.

Desde esse momento, o euro continuou a perder terreno face ao dólar. A divisa norte-americana está a beneficiar, como é hábito, do seu estatuto de activo financeiro seguro num tempo de grande incerteza e instabilidade na economia mundial, vendo o seu valor a subir face a praticamente todas as outras divisas mundiais.

Do lado do euro, a viragem de política monetária mais lenta do BCE (subindo menos as taxas de juro do que a Reserva Federal norte-americana) e os continuados receios de uma travagem ou mesmo recuo da economia da zona euro já a partir do terceiro trimestre do ano estão a contribuir para penalizar o desempenho da moeda única nos mercados.

No sábado, o anúncio russo de que a interrupção dos fluxos do gasoduto Nord Stream por alegados problemas técnicos teria um prazo indeterminado acentuou os receios que vários países da zona euro, como a Alemanha, não venham a ser capazes de reforçar as suas reservas de gás o suficiente para atravessar o próximo Inverno com escassez energética.

BCE volta a subir taxas de juro

Uma das consequências da persistente depreciação do euro será a de intensificar a pressão sobre o BCE para agir de forma ainda mais decidida contra a inflação. Um euro a valer menos face ao dólar significa que as importações europeias (por exemplo de bens transaccionados nos mercados internacionais em dólares como o petróleo e os cereais) ficam automaticamente mais caras, contribuindo para a escalada de preços que já colocou a inflação acima dos 9% em Agosto.

Depois de ter realizado a primeira subida das suas taxas de juro de referência desde 2011 em Julho, elevando-as em 0,5 pontos percentuais, a autoridade monetária europeia deverá, na reunião do conselho de governadores agendada para a próxima quinta-feira, voltar a realizar um movimento semelhante ou talvez até mais agressivo.

Inicialmente, a expectativa, criada com as mensagens transmitidas pela presidente do BCE, Christine Lagarde, no início de Agosto, era a de que viesse a ser decidida uma nova subida de 0,5 pontos percentuais nas taxas de juro na reunião de Setembro.

Mas, agora, com o contributo decisivo da forte depreciação do euro face ao dólar, a maior parte dos investidores já está a assumir que a subida de taxas juro a realizar pelo BCE na quinta-feira pode ser de 0,75 pontos percentuais, o ritmo que tem vindo ser assumido pela Reserva Federal na sua própria viragem de rumo na política monetária.

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