Directores clínicos preocupados com “actual estado da gestão” dos hospitais

Em carta dirigida a Marta Temido, médicos mostram solidariedade para com directora investigada por morte de bebé em Caldas da Rainha.

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Grupo de 27 directores clínicos alerta para o fim da "bonomia" dos profissionais no SNS Nuno Ferreira Santos

Um grupo de 27 directores clínicos de hospitais mostram “preocupação com o actual estado da arte da gestão clínica” e expressam “solidariedade” para com a responsável do Centro Hospitalar do Oeste a quem foi instaurado um processo de investigação por causa da morte de um bebé no hospital de Caldas da Rainha.

A posição foi assumida em carta enviada à ministra da Saúde demissionária e da qual foi dada conhecimento ao primeiro-ministro.

“Os directores clínicos expressam assim a sua preocupação com o actual estado da arte da gestão clínica e reafirmam ao Ministério da Saúde a sua disponibilidade para participar na mudança, certos de que o seu papel no SNS é imprescindível, mas determinados a exigir os meios e o respeito, proporcionais às competências e às responsabilidades”, lê-se na missiva.

Os subscritores, que têm responsabilidades em hospitais de todo o país, mostram indignação pela forma como foi divulgada recentemente uma investigação por parte da Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS) ao caso do bebé que morreu, a 9 de Junho, no hospital de Caldas da Rainha. Essa publicitação “veio lançar sobre os profissionais do Centro Hospitalar do Oeste um manto de desonra”, sustentam, assumindo que estão “solidários com a directora clínica demissionária”, Filomena Rodrigues, que “suportou publicamente, isolada, as eventuais responsabilidades da sua instituição”.

Os responsáveis tentam justificar a forma como o aumento do número de médicos em falta afecta os serviços de urgência. “Quando se vive num clima organizacional dissociativo, em que não há médicos suficientes nos quadros de pessoal dos serviços, a demografia médica afasta muitos deles da obrigação de cumprir serviço de urgência e o direito do trabalho estabelece limites tangíveis para a prestação de trabalho suplementar, as direcções clínicas e as direcções de serviço ficam reféns da disponibilidade de terceiros e da absoluta imponderabilidade para garantir escalas de urgência”, lê-se ainda na carta.

Os subscritores atribuem a falta de médicos “de meia idade” a “opções políticas tomadas nos anos 80 do século XX”, tal como fez recentemente a ministra da Saúde demissionária, e apontam as urgências de obstetrícia-ginecologia do Centro Hospitalar do Oeste como exemplo dessa “fragilidade extrema”.

Na carta, os médicos referem também que o SNS “viveu muito da bonomia dos seus trabalhadores, para além do que as leis do trabalho preconizam”, mas que “parece ter-se esgotado”, apontando que as dificuldades nas escalas de urgência são “o sinal de um grave dano estrutural”.

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