Feist abandona digressão dos Arcade Fire após acusações de conduta sexual imprópria contra Win Butler

Cantora e compositora sai de cena pouco depois do arranque da tour, em Dublin. Numa declaração publicada nas redes sociais, diz que este episódio “acendeu um debate que é maior do que qualquer digressão de rock and roll”.

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Feist Getty Images

“Sou imperfeita e vou navegar esta decisão de forma imperfeita, mas tenho a certeza de que a melhor maneira de cuidar da minha banda, da minha equipa e da minha família é distanciar-me desta digressão, mas não desta conversa (…) Estou a reclamar a minha responsabilidade agora e a ir para casa”, disse a cantora e compositora numa declaração publicada nas redes sociais na madrugada desta quinta-feira, justificando a decisão de abandonar a digressão com os Arcade Fire pouco depois do seu arranque, em Dublin, e pouco depois de o líder da banda canadiana, Win Butler, ter sido acusado de conduta sexual imprópria por três mulheres e uma pessoa não-binária com idades entre os 18 e os 23 anos.

Segundo um artigo do site de música Pitchfork lançado na semana passada, os acontecimentos terão ocorrido entre 2015 e 2020, quando o vocalista e guitarrista tinha entre 34 e 39 anos. A publicação teve acesso a mensagens de texto entre Butler e as alegadas vítimas, e entrevistou amigos e familiares que confessaram ter conhecimento das supostas agressões.

O músico confirmou ter tido relações sexuais com as pessoas em questão, mas “com consentimento”. Numa declaração enviada à Pitchfork, Win Butler afirma que as alegações aconteceram “num período de depressão e alcoolismo”, lamentando “ter magoado quem quer que seja” com o seu “comportamento”.

Já em reacção à saída de jogo de Feist, a banda diz “ter muita pena” que a cantora e compositora cancele os seus concertos, mas entende e respeita “totalmente” a sua decisão. Ainda no texto que escreveu nas redes sociais, entretanto publicado na íntegra na Pitchfork, Feist diz que este episódio “acendeu um debate que é maior” do que ela própria, do que as suas canções e “certamente do que qualquer digressão de rock and roll”.

“Recebi dezenas de mensagens de pessoas em meu redor, expressando compaixão com a dicotomia para a qual fui arrastada. Permanecer nesta digressão iria significar que estaria a defender ou a ignorar o mal causado pelo Win Butler e abandonar iria sugerir que estava a pôr-me numa situação de juíza e de júri”, afirmou a cantora e compositora, que nos primeiros dois concertos da tour decidiu doar todas as receitas feitas com o seu merchadising à Women Aid Dublin, uma organização dedicada à luta contra a violência doméstica na Irlanda.

Partilhando que ela própria já passou por experiências marcadas pela “masculinidade tóxica” e pela “misoginia”, Feist reconhece que desistir desta digressão “não resolve nada”, tal como não resolveria se ficasse. No entanto, diz não conseguir continuar. Ao mesmo tempo, distancia-se da “humilhação pública”, que considera “poder desencadear acções, mas são acções moldadas pelo medo, e o medo não é o lugar onde encontramos o nosso melhor lado nem onde tomamos as melhores decisões.”

No seguimento das acusações contra Win Butler, estações de rádio no Canadá e nos EUA começaram a tirar canções da banda das suas playlists. Comentadores nas redes sociais incitaram os fãs a boicotar os concertos agendados nesta digressão mundial, em países como Inglaterra, França e Espanha, com muita gente a revelar-se surpreendida pela tour não ter sido ainda cancelada.

Os Arcade Fire regressam a Portugal em Setembro para dois concertos no Campo Pequeno, em Lisboa, que já se encontram esgotados (também aqui, a primeira parte estaria a cargo de Feist). O novo álbum da banda, We, foi editado em Maio.

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