Primeira-ministra da Estónia defende que cidadãos russos “paguem um preço pela guerra na Ucrânia”

Viajar é um “privilégio e não um direito humano”, disse Kaja Kallas em entrevista ao diário espanhol El País. Desde o início da guerra, viajaram para países da UE quase um milhão de pessoas com passaporte russo.

Foto
A primeira-ministra da Estonia, Kaja Kallas INTS KALNINS/Reuters

A primeira-ministra da Estónia, Kaja Kallas, acredita que um passo essencial para acabar com a guerra na Ucrânia é fazer os cidadãos russos pagar um preço por ela. Parte desse preço deveria ser não poderem viajar como turistas para a União Europeia, já que isso é “um privilégio e não um direito humano”, defende.

“Todos queremos que esta guerra termine. Queremos que a inflação pare. Queremos que os preços da energia não subam... Tudo está relacionado com a guerra. Por isso, temos de utilizar as ferramentas mais eficazes para que isto termine”, disse Kallas, em entrevista ao diário espanhol El País.

Kallas defende a abolição de vistos para os turistas russos. Em primeiro lugar, porque não é possível “verificar quem são estas pessoas ou se constituem uma ameaça à segurança” e, em segundo lugar, por uma questão de “coerência moral”. “Cada cidadão é responsável pelas acções do seu país. É errado que os russos estejam a gozar férias enquanto o seu país está em guerra. Se há mais de 70% dos russos que apoiam claramente a guerra, também devem ser considerados responsáveis pelo que está a acontecer”, disse.

Na sexta-feira, a agência europeia encarregada da gestão das fronteiras da União Europeia informou que desde a invasão da Ucrânia entraram em países da União Europeia quase 1 milhão de pessoas com cidadania russa. Houve um total de 998.085 pessoas com passaporte russo a atravessar fronteiras e entrar em países da UE, disse um porta-voz da agência à agência de notícias alemã DPA.

A Letónia, Lituânia e Polónia deixaram de dar vistos de turismo novos a cidadãos russos desde a invasão da Ucrânia, a 24 de Fevereiro. A Estónia impediu mesmo a entrada de pessoas da Rússia com vistos, enquanto a Finlândia começará a partir de 1 de Setembro a diminuir em 90% o número de vistos que concede. A Finlândia queixava-se de, com as restrições dos vizinhos e o encerramento do espaço aéreo europeu a voos com origem na Rússia, se ter tornado numa plataforma giratória para muitos russos viajarem dali para outros destinos europeus.

Ainda assim, o número de pessoas russas a viajar para a Europa diminuiu em cerca de 90% em relação ao período anterior à guerra, disse Maya Lomidze, da Associação de Operadores Turísticos da Rússia, ao Kommersant. A questão dos vistos vai ser discutida numa reunião informal de líderes da União Europeia já esta semana. Até agora o chanceler alemão, Olaf Scholz, declarou ser contra a medida, dizendo que esta é uma “guerra de Putin” e não de pessoas russas. A Comissão Europeia já afirmou que deveria caber a cada país decidir o que faz nesta questão.

Com Maria João Guimarães

Sugerir correcção
Ler 22 comentários