Videojogos são arma para promover e criticar candidatos à presidência do Brasil

A poucas semanas das eleições brasileiras, jogos mostram Lula e Bolsonaro como heróis e vilões.

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Lula da Silva e Jair Bolsonaro devem disputar segunda volta das eleições presidenciais de Outubro UESLEI MARCELINO/Reuters

A um mês e meio da primeira volta das eleições, o candidato à reeleição Jair Bolsonaro é o personagem mais popular entre os candidatos presidenciais em videojogos nas plataformas de aplicações. De 14 jogos sobre candidatos identificados nesta reportagem, ele está em dez – seja em contextos de crítica ou de exaltação.

O também candidato à presidência e líder segundo as sondagens, Luiz Inácio Lula da Silva, é o único outro candidato que aparece. Mas em apenas dois jogos a sua imagem é positiva.

Os games, aparentemente amadores, usam situações reais da história recente do país, como a prisão de Lula e as queimadas na Amazónia, que bateram recordes nos últimos quatro anos.

O mais popular, com um milhão de downloads no Google Play, chama-se Bolsonaro Terror do PT. No videojogo, o jogador deve entrar na sede do partido para buscar dinheiro, antes de ser surpreendido por Bolsonaro.

O mesmo produtor fez Lula Escape da Prisão, em que o ex-Presidente recebe uma mensagem da sua colega de partido, Gleisi Hoffmann, com instruções para achar uma chave no andar da cela em que está e fugir da prisão.

Já em Bozonaro, que tem mais de 100 mil downloads, é possível atirar laranjas ao Presidente e fazê-lo correr do “fantasma do comunismo”.

Bolsonaro 2022 – uma corrida entre Lula e Bolsonaro, em que o “petista” sai na frente e deve ser ultrapassado – ​é dúbio. Ao mesmo tempo em que debocha de Lula, um dos cenários do jogo passa pela Amazónia em chamas.

“As pessoas produzem coisas que estão na crista da onda”, afirma Ivan Mussa, professor da Universidade Federal da Paraíba e investigador do tema. “Isso vale para qualquer coisa. Os produtores de conteúdo querem entrar num fluxo de produção que as pessoas estão consumindo.”

Embora tenha sofrido baixas do grupo nos últimos quatro anos, Jair Bolsonaro tem nos gamers uma base de apoio importante.

No estudo Pesquisa Games Brasil 2022, 75% dos entrevistados responderam que consomem jogos electrónicos. O hábito é comum no quotidiano brasileiro, especialmente pelo smartphone, e é difícil mapear a preferência política entre esses grupos.
Os jogadores mais engajados, por outro lado, têm um perfil mais coeso, segundo Mussa.

A crítica aos impostos, por exemplo, é uma demanda antiga da comunidade, que Bolsonaro captou nas quatro reduções do imposto de importação para videogames anunciadas ao longo do seu mandato.

“Os jogos que são vendidos no Brasil, em geral, são muito caros. E esse tipo de público tende a ser masculino porque os videojogos foram criados mercadologicamente para atender a esse nicho”, afirma o investigador. “O ressentimento da classe média contra um Estado que cobra imposto e não produz serviços no mesmo nível acaba florescendo na cultura gamer.”

Em 2018, o Ministério Público Federal no Rio de Janeiro recebeu uma denúncia sobre o jogo Bolsomito 2k18. Nele, o então candidato do PSL aparecia como protagonista numa luta contra feministas, sem-abrigo, gays, negros e “petistas”.

Recentemente, Ciro Gomes passou a interessar-se pelo sector. Os seus lives, chamados de Ciro Games, têm lugar numa sala com luzes néon e uma cadeira gamer. A reportagem não achou jogos do candidato, mas, segundo a assessoria, a militância de Ciro tem produzido games de forma espontânea. “Vamos disponibilizar esses jogos no site do Ciro para facilitar o acesso a quem quiser obtê-los”, informou a equipa.

Para Mussa, o objectivo desses jogos não é necessariamente o entretenimento – ​até porque fazer jogos mais elaborados costuma ser caro. “Jogos amadores normalmente vão ser pequenos, simples, até meio toscos. Eles funcionam mais como meme do que como jogo” afirma.

“Você não manda esse jogo para alguém ter uma experiência no estilo da Nintendo, mas como um vídeo engraçado do Twitter ou do TikTok. A pessoa joga ali um pouquinho, dá risada, manda para o outro e vai espalhando”, explica.

Exclusivo PÚBLICO/Folha de S. Paulo

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