CIA não consegue encontrar ligações de ONG palestinianas a grupos combatentes

Israel classificou seis associações palestinianas como “terroristas”, mas justificação não convenceu para já os Estados Unidos nem os países da União Europeia que lhes dão verbas.

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A organização Al-Haq foi fundada em 1979 e dedica-se à defesa de direitos humanos ATEF SAFADI/EPA

A agência de espionagem dos EUA “não foi capaz de corroborar” a alegação de Israel de que seis organizações da sociedade civil palestiniana tinham uma ligação com a facção Frente Popular para a Libertação da Palestina, um partido que tem também um ramo paramilitar, segundo o diário britânico The Guardian.

Israel levou a cabo, na quinta-feira passada, raides em sete organizações palestinianas, depois de apreender documentos e computadores das suas sedes e fechar as suas portas, numa acção que as Nações Unidas descreveram como “arbitrária”.

Seis das organizações, com sede em Ramallah, tinham sido antes classificadas como “terroristas” por Israel.

Trata-se da Associação de Apoio a Prisioneiros e de Direitos Humanos Addameer, Al-Haq, Centro Bisan para Pesquisa e Desenvolvimento, União de Comités de Trabalho de Agricultura, União de Comités de Mulheres Palestinianas, e a Defense for Children International – Palestina. A organização Comités de Trabalho da Saúde não foi considerada terrorista mas a sua sede foi também alvo da acção israelita. O director da Defense for Children International - Palestina, Khaled Quzmar, foi intimado no domingo a um interrogatório do Shin Bet (serviços de informação interna de Israel), onde esteve duas horas sem acesso a advogado, segundo o site Middle East Eye.

O Guardian diz que Israel deu aos Estados Unidos, no início deste ano, informação sobre os motivos de ter designado as associações como “terroristas”. Mas acrescenta que a agência de espionagem externa dos EUA não a conseguiu corroborar.

Na quinta-feira, o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Ned Price, disse que Israel tinha prometido partilhar mais dados sobre a decisão depois de um pedido norte-americano. E que depois Washington iria “avaliar a informação e tirar a sua própria conclusão”.

Para Omar Shakir, director para Israel e Palestina da Human Rights Watch, com sede em Nova Iorque, com base nesta informação da CIA “os Estados Unidos deviam pedir muito claramente ao Governo israelita para reverter estas designações, e permitir a estas organizações que continuem o seu trabalho essencial”.

A União Europeia também criticou as acções de Israel em relação a estas ONG: No Twitter, Dimiter Tzantchev, embaixador da União Europeia ao Estado de Israel, disse que tinha expressado às autoridades israelitas “profundas preocupações” da União Europeia “com os raides nas organizações da sociedade civil palestiniana na semana passada”: “estas acções não são aceitáveis”.

Vários países da União Europeia disseram que não iriam cortar fundos dados às organizações a seguir à intervenção de Israel, e Tzantchev repetiu que Bruxelas vai “continuar a trabalhar com organizações palestinianas da sociedade civil que apoiem direitos humanos e valores democráticos”, sublinhando que não foi recebida “informação substancial” da parte de Israel que “justificasse uma revisão da política da União Europeia”.

Segundo o Guardian, Israel enviou também informação aos governos europeus, que também não encontraram neles motivos para alterar a sua política em relação a estas associações. O diário britânico diz que a avaliação de alguns analistas políticos foi de que a decisão de designar os grupos como terroristas tinha entre os seus objectivos levar ao fim da atribuição de fundos europeus a estas associações.

Esta segunda-feira, 47 organizações israelitas publicaram uma carta aberta de solidariedade com as organizações palestinianas – como a B’Tselem, Breaking The Silence, ou Machsom Watch, dedicadas a expor violações de direitos humanos de Israel nos territórios ocupados. Na carta, acusam o Estado hebraico de “criminalizar” organizações que se dedicam a documentar crimes, a defender direitos e a dar apoio legal.

A Breaking The Silence, de ex-militares israelitas que denunciam efeitos da ocupação, acrescentou que “a comunidade internacional tem um papel crucial na protecção dos defensores de direitos humanos e das organizações da sociedade civil” e apelou a “acção para deixar claro quais os limites”.

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