Anthony Fauci, o rosto do combate à pandemia nos Estados Unidos, vai deixar a Casa Branca

O rosto da luta dos Estados Unidos para travar a pandemia de covid-19, mesmo em 2020, muitas vezes em oposição a Donald Trump, vai deixar a Casa Branca. Anthony Fauci é o principal conselheiro para a saúde do Presidente Joe Biden.

Foto
Anthony Fauci na Casa Branca, numa reunião sobre a resposta à pandemia de covid-19, com o antigo Presidente Donald Trump, em Abril de 2020 Reuters/CARLOS BARRIA

O médico infecciologista norte-americano Anthony Fauci anunciou esta segunda-feira que deixará os cargos na direcção do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID) dos Estados Unidos e na Casa Branca, enquanto principal conselheiro para a saúde do Presidente Joe Biden.

Aos 81 anos, Fauci renuncia também à liderança do Laboratório de Imunorregulação do NIAID, mas esclareceu que não pretende reformar-se. “Depois de mais de 50 anos de serviço ao Governo, tenciono seguir a próxima fase da minha carreira enquanto ainda tenho tanta energia e paixão pelo meu trabalho”, afirmou, citado pela Reuters.

Em entrevista na noite de domingo, Fauci disse querer agora usar a sua experiência e conhecimento sobre saúde pública e serviço público para “inspirar a geração mais jovem”.

O infecciologista dirige o NIAID há quase 40 anos, desde 1984, e em 2020 tornou-se o rosto da luta norte-americana para responder à pandemia, muitas vezes em oposição ao antigo Presidente Donald Trump.

No último mês, Fauci já tinha admitido que planeava retirar-se, no máximo, no final do primeiro mandato de Joe Biden. Antes disso, em Maio, em entrevista à CNN, garantiu que se demitia caso Donald Trump voltasse à Casa Branca em 2024.

Joe Biden já agradeceu a Anthony Fauci pela “dedicação, mão firme, discernimento e sabedoria” com que trabalhou no Governo norte-americano. “Devido aos muitos contributos do Dr. Fauci para a saúde pública, foram salvas vidas nos Estados Unidos e em todo o mundo”, reconheceu.

Fauci começou a sua carreira a trabalhar para os Institutos Nacionais de Saúde em 1968 e assumiu a direcção NIAID na década de 1980, quando a epidemia do VIH/sida exigiu maior atenção dos médicos infecciologistas. À frente da criação do Plano de Emergência do Presidente dos Estados Unidos para o Combate à Sida (PEPFAR), durante o mandato de George W. Bush, permitiu salvar cerca de 21 milhões de vidas no país (ainda que o plano tenha sido fortemente criticado por promover a abstinência sexual).

Aconselhou sete Presidentes dos Estados Unidos nas últimas décadas, desde Ronald Reagan, que tomou posse em 1981, até Joe Biden, cruzando saúde, ciência e política.

Apesar da longa e prestigiada carreira, foi em 2020 que ganhou popularidade pela oposição a Donald Trump e aos conservadores na resposta à pandemia de covid-19. O senador republicano Rand Paul chegou a acusá-lo de mentir publicamente sobre uma investigação que o NIAID financiava na China, onde foram confirmados os primeiros casos da doença. Trump descreveu-o como um “desastre” e quis afastá-lo de funções, mas a ameaça nunca se concretizou.

“Fiquei um ano, a pensar que o final desse ano seria o fim da covid-19 e, como se sabe, não foi isso que aconteceu”, explicou o especialista em doenças infecciosas, referindo-se ao pedido de Joe Biden para continuar como conselheiro para a saúde durante a pandemia. “Agora é o meu segundo ano aqui, e percebi que há outras coisas que quero fazer.” Fauci não especificou em que data deixaria os actuais cargos. “Não estou satisfeito com o facto de ainda termos 400 mortes por dia”, esclareceu. “Mas espero que as coisas melhorem durante os próximos meses.”

Sugerir correcção
Comentar