Promover só a abstinência sexual não previne a sida

a Os programas de prevenção da transmissão da sida que se baseiam apenas na promoção da abstinência sexual não funcionam, nem sequer nos países ricos como os Estados Unidos, onde em teoria esta abordagem teria maiores possibilidades de sucesso, conclui um estudo publicado esta semana na revista British Medical Journal (BMJ).Este artigo é uma revisão de investigadores da Universidade de Oxford, no Reino Unido, da investigação publicada sobre o tema. E é um trabalho feito com claras intenções políticas, dirigidas aos Estados Unidos, que dedicam um terço do dinheiro para prevenção da transmissão do HIV a projectos apenas de abstinência sexual, sem qualquer componente de promoção do sexo seguro.
Em particular, o Plano de Emergência do Presidente dos Estados Unidos para o Alívio da Sida (conhecido pela sigla PEPFAR) só pode ser usado em campanhas que promovam a abstinência primária (adiar o início da vida sexual) ou secundária (reduzir a frequência das relações sexuais e o número de parceiros).
Kristen Underhill, Paul Montgomery e Don Operario analisaram 13 ensaios clínicos realizados nos Estados Unidos, com mais de 15.000 adolescentes.Encontraram-lhes várias limitações: os resultados da prática de abstinência eram sempre relatados pelos voluntários, sem que fizessem despistagem da doença, por exemplo. E concentravam-se apenas no sexo vaginal, sem levar em conta outras práticas, como o sexo oral.
"Comparando com vários outros estudos de controlo, nenhum destes programas teve uma influência benéfica sobre a incidência da prática de sexo não protegido (sem preservativo), número de parceiros, uso de preservativo ou idade de iniciação sexual", escreve a equipa.
Outros estudos, como um apresentado na XVI Conferência Internacional sobre a Sida, em Toronto (2006), tinham já analisado a eficácia dos programas que promovem a abstinência sexual nos países em desenvolvimento. E apontavam no mesmo sentido deste: "Há poucas provas de que conseguissem mudar os comportamentos sexuais e prevenir a infecção pelo HIV", diz um editorial na mesma edição da BMJ.
"A prevenção da sida tornou-se um assunto com carga política", por causa dos Estados Unidos promoverem programas baseados apenas na abstinência sexual. Exemplo disso é a recente aprovação pelo Senado norte-americano de alargar para 149 milhões de dólares o financiamento a programas de educação comunitária baseada apenas na abstinência sexual, diz um comunicado de imprensa da revista médica britânica.
"Será uma boa maneira de gastar os dinheiros públicos?", pergunta a BMJ. Até porque promover o uso de preservativos, além de um reduzido número de parceiros sexuais, é uma estratégia que tem dado bons resultados em muitas partes do mundo, defende o editorial da BMJ.
Investigadores questionam tipo de prevenção que rejeita a promoção do sexo seguro
em favor da abstinência

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