EUA e Taiwan vão iniciar negociações formais para fortalecer laços comerciais

Anúncio de discussões para aprofundar relações económicas com Taipé surge entre tensões com a China, duas semanas depois da visita de Nancy Pelosi à ilha cuja soberania é reivindicada por Pequim.

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Um caça F16 de última geração prepara-se para aterrar na base Hualien, em Taiwan Reuters/ANN WANG

Os Estados Unidos continuam a reforçar o seu apoio a Taiwan. Washington anunciou ter chegado a acordo com Taipé para iniciar negociações de comércio formais com o objectivo de assinar pactos “com resultados economicamente significativos” nas áreas da agricultura e das indústrias digitais, combate à corrupção, remoção de barreiras comerciais ou facilitação de comércio. A primeira ronda vai ocorrer nos próximos meses.

A novidade é o consenso entre as duas partes sobre o mandato da Iniciativa EUA-Taiwan para o Comércio do Século XXI, inicialmente anunciada em Junho. Entretanto, as relações entre os EUA e a China complicaram-se bastante, na sequência da visita de duas delegações de congressistas norte-americanos a Taiwan, incluindo a visita, no início do mês, da presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi.

Garantindo que a visita teria “um forte impacto nas fundações da relação entre China e Estados Unidos” e descrevendo “uma violação grave do princípio ‘uma só China’”, o Governo de Pequim ordenou a realização de uma série de manobras militares no Estreito de Taiwan e anunciou a suspensão da cooperação militar, judicial e climática com os EUA.

Assim que Pelosy aterrou em Taipé, o Exército de Libertação do Povo chinês iniciou exercícios de “bloqueio conjunto” da ilha, de “assalto marítimo”, de “ataque terrestre” e de “combate aéreo” com o envolvimento de todos os ramos das Forças Armadas e uso de “mísseis de curto alcance” e “mísseis hipersónicos”.

A visita – a primeira deste nível desde 1997, quando Newt Gringrich, o então presidente da Câmara dos Representantes, esteve em Taiwan – irritou a China, que vê a ilha como uma parte incontestável do seu território. Os exercícios militares lançados no imediato, os maiores de sempre em dimensão da área geográfica, meios envolvidos e diversidade de objectivos, foram sendo prolongados ao longo de vários dias.

Uma semana depois da visita, Pequim publicou o seu terceiro “livro branco” sobre os méritos e planos para uma “reunificação pacífica” com o território. Uma “missão histórica” cuja realização não se coibirá de recorrer à força, se necessário. Já a semana passada, a China respondeu com novos exercícios militares a uma segunda visita, de uma delegação bipartidária do Congresso dos Estados Unidos.

“Erros de cálculo”

As negociações para o pacto Comércio do Século XXI vão incidir em onze áreas comerciais, ao mesmo tempo que tentarão combater as distorções de mercado causadas por empresas estatais e por “políticas e práticas fora do sistema de mercado”, comuns na China.

A iniciativa vai ser negociada pelo Instituto Americano em Taiwan, que funciona como a embaixada não oficial dos EUA em Taipé, e pelo Gabinete de Representação Económica e Cultural de Taipé nos EUA. Apesar do seu pequeno tamanho, Taiwan é o oitavo maior parceiro comercial dos EUA e é um mercado importante para a agricultura norte-americana, assim como um fornecedor fundamental de tecnologia, principalmente de semicondutores avançados.

Daniel Kritenbrink, secretário de Estado adjunto para o Leste da Ásia, defendeu este “roteiro ambicioso para as relações comerciais” com Taiwan. “Continuaremos a cumprir nossos compromissos ao abrigo do Taiwan Relations Act”, afirmou, numa teleconferência com jornalistas. “Isso inclui apoiar a autodefesa do governo de Taiwan e manter a nossa própria capacidade de resistir a qualquer recurso à força que coloque em risco a segurança de Taiwan”, explicou.

“Vamos continuar, no respeito com a nossa política de ‘uma só China’, a aprofundar os nossos laços com Taiwan,”, afirmou ainda o responsável do Departamento de Estado. “A nossa política não mudou, o que mudou é a coerção crescente de Pequim”, defendeu. “As palavras e os actos [da China] são profundamente desestabilizadores. Arriscam provocar erros de cálculo e ameaçar a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan.”

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