Padres defendem patriarca de Lisboa para continuar “caminho de conversão” na Igreja Católica

O conselho presbiteral do Patriarcado de Lisboa, que representa os padres daquela diocese católica, lamenta que notícias sobre abusos na Igreja sejam transformados em “casos”.

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Padres defendem continuidade de D. Manuel Clemente LUSA/ANTÓNIO PEDRO SANTOS

O conselho presbiteral do Patriarcado de Lisboa, que representa os padres daquela diocese católica, veio a público defender o patriarca, Manuel Clemente, na sequência das notícias das últimas semanas sobre os casos de abusos sexuais no seio da igreja. Os clérigos defendem o papel do cardeal no “caminho de conversão” que está a ser feito pela igreja e lamentam que as notícias que surgem “semana após semana” sejam tratadas como “casos”.

“Queremos contar com o nosso Patriarca, Cardeal Manuel Clemente, como contámos até aqui”, sublinham os padres de Lisboa, num comunicado divulgado na noite de terça-feira na página da Internet do Patriarcado. Os sacerdotes valorizam o “caminho de conversão” que está a ser feito na Igreja Católica “para que crimes destes nunca mais sejam encobertos e que, de futuro, preventivamente, tudo se faça para que eles não se repitam”, valorizando o papel de Clemente neste processo.

O patriarca de Lisboa reuniu-se com o Papa Francisco na semana passada. Algumas notícias dão conta de que foi abordado nesse encontro a possibilidade de abandonar as funções.

Os padres lisboetas esperam “em comunhão com” Manuel Clemente “ir mais além no serviço ao Povo que nos é confiado e na procura da verdade e da justiça que o anúncio do Evangelho comporta”. “Confiamos a Deus o nosso patriarca Manuel, para que Ele o abençoe e fortaleça, em todas as circunstâncias da sua vida. O cuidado materno de Nossa Senhora não lhe há-de faltar”, escrevem ainda.

O conselho presbiteral do Patriarcado de Lisboa é um organismo colegial que representa os padres da diocese. Têm assento no seu secretariado permanente, que assina o comunicado, os padres Alberto Gomes, José Manuel Pereira de Almeida e Ricardo Figueiredo e os cónegos José Miguel Pereira e Nuno Amador.

O texto começa por contextualizar os “tempos exigentes em termos eclesiais” vividos pela Igreja Católica em que, “semana após semana, surgem notícias de abusos sexuais” no seio do clero em Portugal. “Alguns são casos já investigados, outros até já julgados; uns condenados, outros arquivados”, diz o conselho presbiteral.

Estas notícias, prosseguem os padres de Lisboa, “em vez de possibilitar uma maior tomada de consciência acerca do problema dos abusos sexuais na Igreja” e de conduzir a um “debate sério sobre o clericalismo”, como foi pedido pelo Papa Francisco em 2018, foram transformados pela “dinâmica mediática” em “mais um ‘caso’”, lamentam.

No final do mês passado, veio a público uma notícia relativa a um padre que, nos anos 1990 tinha a seu cargo duas paróquias da zona norte do distrito de Lisboa, sendo suspeito de ter abusado sexualmente de crianças. A denúncia de pelo menos um destes casos foi feita pela mãe de uma das alegadas vítimas, ainda nessa altura, ao então cardeal-patriarca de Lisboa, José Policarpo, e, mais recentemente, a Manuel Clemente, que exerce as mesmas funções. Em ambos os casos, não terá havido qualquer denúncia às autoridades civis nem um procedimento interno da Igreja.

O cardeal-patriarca de Lisboa comentou a notícia dias depois. “Aceito que este caso e outros do conhecimento público, e que foram tratados no passado, não correspondem aos padrões e recomendações que hoje todos queremos ver implementados”, escreveu numa carta aberta. D. Manuel Clemente disse querer “esclarecer o que na verdade” testemunhou, tendo em conta “os muitos equívocos e perplexidades”, como lhes chama, que têm constatado em “torno dos relatos sobre o doloroso caso denunciado em 1999”.

Entretanto, foi o próprio Patriarcado de Lisboa a tornar público que afastou de todas as funções um padre diocesano que é suspeito de um crime de violação. A vítima, nesse caso, é maior de idade e o caso já foi reportado às autoridades civis, anuncia aquele organismo da Igreja Católica. O crime terá ocorrido há poucas semanas, durante o mês de Julho.

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