Euro 2022, um trampolim para impulsionar o futebol feminino

O jogo inaugural do torneio, em Inglaterra, teve direito a um recorde de assistência. Os prémios também subiram, bem como o peso das estrangeiras nas Ligas e o número de praticantes nas federações da UEFA.

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Reuters/MOLLY DARLINGTON

Tal como uma série de outros eventos desportivos, com os Jogos Olímpicos à cabeça, o Campeonato da Europa de futebol feminino foi empurrado para a frente no calendário por causa da pandemia de covid-19. Mas essa pode não ter sido forçosamente uma má notícia para a modalidade. Com mais tempo para se organizar, Inglaterra preparou-se para acolher uma competição que muitos esperam que possa funcionar como um acelerador para uma modalidade que, na versão feminina, tem crescido substancialmente.

Seja somente uma curiosidade ou um sinal do maior interesse que o fenómeno tem gerado junto dos adeptos, a presença de David de Gea e Harry Maguire, jogadores do Manchester United, nas bancadas de Old Trafford, para assistirem ao jogo inaugural do torneio, foi digna de registo. Mas mais relevante do que esta dupla foram os restantes 68.779 adeptos que presenciaram o triunfo da Inglaterra sobre a Áustria (1-0).

Foi um recorde de assistência, que ultrapassou largamente o melhor registo até então num Europeu feminino — datava de Julho de 2013, quando Alemanha e Noruega mediram forças em Solna, na final, perante o olhar de 41.301 adeptos. Na prática, o número de espectadores de anteontem representa quase um terço do total de todo o Campeonato da Europa de 2017, nos Países Baixos.

Um grande salto em frente que pode parcialmente ser explicado pelo preço dos bilhetes (variam entre 23,5 e os 60 euros ao longo da prova, não diferindo muito do intervalo entre 30 e 50 euros registado há cinco anos, apesar da inflação), mas sobretudo pelo número crescente de atletas, de clubes e de exposição mediática na maioria das federações que compõem a UEFA.

De uma forma transversal, a Europa do futebol feminino está a expandir-se. O último estudo detalhado do fenómeno aponta para um crescimento de 7,5% de jogadoras federadas no território, entre 2016 e 2017, para um total de 1,4 milhões de praticantes. Mas há outros dados bem mais recentes que confirmam esta tendência: existem actualmente seis países com mais de 100 mil federadas (Inglaterra, Alemanha, França, Países Baixos, Noruega e Suécia) e a utilização de jogadoras estrangeiras nas principais Ligas do continente disparou de 21,6% para 30,9%, entre 2017 e 2022. Com os campeonatos italiano (36,6%) e inglês (19,6%) a liderarem o ranking do crescimento, ainda que a Liga sueca se destaco no número de atletas estrangeiras.

Portugal também cresce

Um sinal claro da globalização a tomar conta da modalidade. Em Portugal, eram 7978 as futebolistas federadas no passado mês de Maio, mais 30% do em que 2019-20, período pré-pandemia. Quanto ao peso do contingente estrangeiro na Liga portuguesa 2021-22, atingiu os 24,3%, com o Ouriense a destacar-se neste plano, apresentando 13 jogadoras vindas do exterior num plantel de 31.

Por cá, de resto, os sinais têm também sido encorajadores, com Benfica, Sporting, Sp. Braga e Famalicão a rebocarem uma forte parcela dos adeptos. De uma modalidade habituada a palcos secundários e bancadas despidas começa a fazer-se a transição para um fenómeno desportivo já com alguma expressão: neste ano, registaram-se a terceira (13.894 adeptos na final da Taça, no Jamor, entre Sporting e Famalicão) e a segunda (14.221, no Estádio da Luz, no Benfica-Sporting) maiores assistências. A primeira continua a ser o jogo solidário entre os dois “grandes” de Lisboa, em Março de 2019, que reuniu 15.204 espectadores.

É verdade que em muitos casos falamos de bilhetes a preços reduzidos ou mesmo de jogos com entrada livre para os sócios da equipa da casa, mas não deixa de ser um indicador de um upgrade no interesse do público. E se a atenção dos consumidores dispara, a dos patrocinadores também, razão pela qual os prémios nos torneios têm vindo a aumentar.

De volta ao Euro 2022, a UEFA praticamente duplicou o valor a pagar em prémios face às mais recentes edições, distribuindo 16 milhões de euros. Uma gota no oceano se comparado com os montantes praticados nas competições masculinas, mas, ainda assim, um indício do crescimento. E quanto mais dinheiro for injectado, mais fácil se tornará às federações seguirem o exemplo dos EUA, dos Países Baixos ou de Inglaterra na equiparação do pagamento dos prémios de jogo, entre selecções feminina e masculina.

Para já, a UEFA vendeu 500 mil dos 700 mil bilhetes disponibilizados para o Europeu de Inglaterra, com compras feitas em 99 países... para uma prova que junta 16 selecções.

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