Sem pressão do lado de Portugal, Europeu feminino arrancou em Inglaterra

A equipa portuguesa estreia-se sábado, contra a Suíça, nos arredores de Manchester. Qualidade das adversárias e fase de transição na selecção mantêm expectativas controladas.

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LUSA/LUÍS FORRA

Quase cinco anos depois de fazer a estreia absoluta em fases finais de uma grande competição de futebol feminino, Portugal começa, no próximo sábado, a disputar pela segunda vez consecutiva um Campeonato da Europa - Inglaterra e Áustria defrontaram-se ontem, em Old Trafford, no jogo de abertura do Euro 2022. Apurada após a exclusão da Rússia, que foi afastada da prova devido à guerra na Ucrânia, a selecção portuguesa terá pela frente, na fase de grupos, a detentora do título (Países Baixos), uma das principais candidatas (Suécia) e a Suíça, a primeira rival das portuguesas e, teoricamente, a menos exigente.

O grupo está longe de ser acessível e o apuramento português foi conquistado por questões extradesportivas - Portugal foi derrotado pela Rússia num play-off -, mas, para uma equipa que combina bem maturidade e muitos quilómetros de futebol (Carole Costa, Sílvia Rebelo, Dolores Silva, Carolina Mendes e Ana Borges) com juventude e irreverência (Catarina Amado, Alícia Correia, Andreia Faria, Telma Encarnação ou Kika Nazareth), não ter a pressão de ser favorito e a existência de algum desconhecimento que as adversárias terão sobre as portuguesas podem ser trunfos importantes.

Com um longo passado ligado ao futebol feminino como técnica das selecções jovens nacionais (e, mais recentemente, na equipa principal do Sporting), Susana Cova salienta, em conversa com o PÚBLICO, que “as jogadoras jovens, que têm muito talento, ainda não são referências mundiais e isso pode ser uma vantagem, por haver menos informação para o adversário”. “Isso e não ter a obrigação de ganhar o grupo, ao contrário da Suécia e dos Países Baixos, é algo que pode deixar as nossas jogadoras desprendidas e soltas, o que será interessante”, acrescenta.

Porém, no encontro de estreia, contra a Suíça (sábado, às 17h, na RTP1), Portugal também terá, segundo Susana Cova, uma desvantagem. Para a treinadora, as helvéticas vão colocar às portuguesas “um ponto de interrogação”, uma vez que têm utilizado “mais do que um sistema de jogo”: “Sempre a partir com quatro defesas, mas do meio-campo para a frente, houve alterações. Utilizaram o 4x3x3, só com um pivot ou dois, o 4x2x3x1 e o 4x4x2. Em termos defensivos, para sermos eficazes, temos que ter um conhecimento grande do adversário e saber como inicia a construção, o que privilegia na primeira fase, quem procura preferencialmente. Isso pode ser uma dificuldade que a Suíça nos vai criar, pelo menos no início”.

Com 13 das 23 convocadas suíças a jogarem fora do país, “em quatro dos melhores campeonatos do mundo”, Susana Cova destaca como principais figuras da rival de Portugal Ramona Bachmann e Ana-Maria Crnogorcevic­, salientando que a equipa liderada por Francisco Neto, que tem como pontos fortes “o colectivismo” e “o processo defensivo muito bem elaborado”, tem “aspectos a melhorar”. Exemplo? “A eficácia na finalização e uma maior objectividade no último terço, onde temos uma jogadora que dá o mote, a Telma Encarnação. E a equipa deve ir atrás”.

Tal como Susana Cova, Pedro Bouças considera que “a coesão defensiva vai ser fundamental” para a selecção portuguesa “ter sucesso neste Europeu”, apontando a Portugal, como mais-valia, “uma frente de ataque que alia a criatividade e a capacidade técnica da Kika Nazareth, com a velocidade da Jéssica Silva e da Diana Silva”, o que pode “surpreender nas saídas para o ataque”.

Com quatro épocas no futebol feminino - uma como treinador adjunto no 1.º Dezembro e três como principal no Futebol Benfica -, onde conquistou três campeonatos nacionais, três Taças de Portugal e uma Supertaça, Bouças alerta, em declarações ao PÚBLICO, para a pouca experiência internacional das atletas portuguesas. Por esse motivo, “sucesso seria fazer três pontos”, uma vez que pela frente estará “a Suécia, talvez a principal candidata à vitória, a campeã europeia Países Baixos e a Suíça, que está muito à frente de Portugal no ranking”. “Vamos para este Europeu com uma série de jogadoras que nasceram neste século. Os frutos desta evolução vão ser visíveis daqui a cinco ou seis anos”, conclui o técnico.

Incluído no Grupo C, Portugal começa por defrontar neste sábado a Suíça, no Leigh Sports Village, seguindo-se, na quarta-feira, o duelo com a Suécia (17h, RTP1) em Sheffield. A derradeira partida da selecção nacional na fase de grupos acontecerá no domingo, dia 17 de Julho (17h00, RTP1), contra os Países Baixos, novamente no Leigh Sports Village.

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