Comissão de inquérito ao assalto ao Capitólio poderá recomendar acusações contra Trump

Liz Cheney, vice-presidente da comissão, ressalva que o Departamento de Justiça não é obrigado a esperar por uma recomendação formal para acusar criminalmente o ex-Presidente dos EUA.

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Liz Cheney, vice-presidente da comissão de inquérito ao assalto ao Capitólio EPA/MICHAEL REYNOLDS

A comissão de inquérito do Congresso dos EUA que investiga o assalto ao Capitólio em Janeiro de 2021 não põe de parte a hipótese de recomendar ao Departamento de Justiça que sejam deduzidas acusações criminais contra o ex-Presidente norte-americano, Donald Trump. “Um homem tão perigoso como ele nunca mais deverá estar perto da Sala Oval”, afirmou Liz Cheney, vice-presidente da comissão.

Numa entrevista emitida ontem na ABC, no programa This Week, Cheney disse que o Departamento de Justiça não é obrigado a esperar que a comissão de inquérito da Câmara dos Representantes faça uma recomendação formal para acusar Donald Trump. “Em última análise, a decisão pertence ao Departamento de Justiça”, disse a congressista republicana.

As declarações de Cheney surgem depois de o presidente do comissão, o democrata Bennie Thompson, ter dito que não esperava que o painel indicasse se faria ou não uma recomendação para os procuradores federais acusarem o ex-Presidente pelo seu alegado papel no ataque ao Capitólio.

Nunca foram feitas acusações criminais contra um Presidente em exercício ou um ex-Presidente dos EUA. Questionada sobre o que significaria para o país se o Departamento de Justiça do Presidente Joe Biden acusasse criminalmente o seu antecessor, Liz Cheney disse: “Estou mais preocupada com o que significaria se as pessoas não fossem responsabilizadas pelo que aconteceu”.

Cheney criticou a conduta de Trump antes, durante e depois do ataque ao Capitólio, a 6 de Janeiro de 2021, por apoiantes do ainda então Presidente norte-americano, numa tentativa fracassada de impedir que o Congresso certificasse a vitória eleitoral de Joe Biden em 2020, incluindo um discurso incendiário que precedeu o motim.

“Acho que é uma ameaça constitucional muito mais grave se um Presidente puder envolver-se nesse tipo de actividade e a maioria do partido do Presidente desviar os olhos. Ou se nós, como país, não levarmos as nossas obrigações constitucionais realmente a sério”, afirmou Cheney.

“Que tipo de homem é este que sabe que uma multidão está armada, que a envia para atacar o Capitólio e incita ainda mais essa multidão quando o seu próprio vice-presidente está sob ameaça, quando o Congresso está sob ameaça?”, questionou a congressista do Partido Republicano.

Na semana passada, num testemunho bombástico, Cassidy Hutchinson, antiga assessora da Casa Branca na administração Trump, disse que Donald Trump foi informado que os manifestantes que protagonizaram a tentativa de ocupação do Capitólio estavam armados, mas que insistiu que os deixassem avançar.

Perante a comissão de inquérito, Hutchinson citou Trump a dar instruções à sua equipa para que retirassem os detectores de metal que, considerava o ex-Presidente, fariam perder tempo aos seus apoiantes.

“Não me importo que eles tenham armas”, disse então Trump, citado por Cassidy Hutchinson. “Eles não estão aqui para me magoar. Estou-me marimbando se eles têm ou não armas”, disse especificamente Trump, citado pela antiga assessora. Hutchinson testemunhou também que Trump tentou agarrar o volante da limusina presidencial quando os seus seguranças se recusaram a transportá-lo ao Capitólio para se juntar aos seus apoiantes.

Testemunhas adicionais apresentaram-se perante a comissão de inquérito desde o depoimento de Hutchinson, revelou este domingo Adam Kinzinger, o outro congressista republicano do painel.

“Haverá mais informações”, disse Kinzinger ao programa State of the Union da CNN. “Fiquem atentos”.

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