António Guterres pede desculpa à geração que vai “herdar um planeta com problemas”

Mais de uma centena de jovens estiveram reunidos este fim-de-semana para encontrar soluções para um oceano ameaçado. “Nesta luta pelos oceanos, vocês têm de ser os líderes”, disse-lhes Marcelo Rebelo de Sousa.

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Marcelo Rebelo de Sousa (com o bastão da natureza), António Guterres e Jason Momoa foram alguns dos presentes no Fórum da Juventude e da Inovação, em Carcavelos Nuno Ferreira Santos
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O comissário europeu do Ambiente, Oceano e Pescas durante a limpeza da praia Nuno Ferreira Santos
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Maisy Lus tem de 24 anos e veio da Papuásia-Nova Guiné até Lisboa para pensar em soluções para o oceano. É formada em Química e esteve durante 24 horas a tecer ideias, juntamente com os outros quatro elementos do seu grupo, para conseguir criar uma forma de calcular o financiamento necessário para assegurar que as áreas marinhas protegidas são devidamente fiscalizadas.

Não foi a única: de sexta-feira a domingo, cerca de 130 jovens juntaram-se em frente ao mar no Fórum de Juventude e Inovação, em Carcavelos. Chegaram de várias partes do mundo: do Líbano, de Fiji, do Chile, da Jamaica e a grande parte de Portugal e do Quénia, os dois países organizadores da Conferência dos Oceanos.

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Maria Pena Ermida e Maisy Lus, duas das participantes do Innovathon NUNO FERREIRA SANTOS

A iniciativa funcionou mesmo como pontapé de saída para a conferência, que começa esta segunda-feira, em Lisboa. E começou precisamente pelos jovens, que pertencem a uma “geração que vai herdar um planeta com problemas”, reconheceu o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, numa tenda montada na areia da praia de Carcavelos. Durante a tarde de domingo, o representante das Nações Unidas e o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, estiveram presentes neste primeiro evento para falar sobre oceanos, mas sobretudo para ouvir as ideias dos jovens descalços na areia. “Nesta luta pelos oceanos, vocês têm de ser os líderes”, disse-lhes Marcelo Rebelo de Sousa.

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Mas antes das soluções, veio um pedido de desculpas. “Deixem-me pedir desculpa à vossa geração em nome da minha em relação ao estado do oceano, da biodiversidade e das alterações climáticas”, disse António Guterres. “Fomos lentos e muitas vezes relutantes a reconhecer que as coisas estavam a ficar piores e piores. Mesmo hoje, estamos a movermo-nos demasiado devagar”, admitiu. “Ainda estamos na direcção errada.”

Na praia de Carcavelos, os jovens foram surpreendidos pelo actor Jason Momoa, conhecido pelo seu papel no filme Aquaman e em A Guerra dos Tronos, e também pelo enviado especial das Nações Unidas para os Oceanos, Peter Thomson, que passou um “bastão da natureza” ao actor. Na segunda-feira, o actor ganhará o título de embaixador das Nações Unidas para a Vida Marinha. “Temos de ajudar o oceano”, afirmou Jason Momoa, depois de chegar à praia a pé – o mar estava “bruto” e perigoso para uma chegada de barco, como era esperado. “O oceano precisa de uma onda poderosa de mudança”, disse, em frente aos jovens que o rodeavam. É preciso deixar de lado os “hábitos poluentes e práticas insustentáveis” para se conseguir “preservar os oceanos e terras para as gerações futuras”.

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Jason Momoa

O alerta também foi deixado pela ministra do Clima do Quénia, Monica Juma: “Não podemos continuar a viver como se os nossos recursos naturais fossem infinitos”. Mas reconheceu que “o futuro está em mãos seguras”.

Uma mensagem para o oceano

No domingo, houve ainda um momento de recolha de lixo na areia com o comissário europeu do Ambiente, Oceanos e Pescas (Virginijus Sinkevičius), em que depois se puderam ver os plásticos apanhados na praia ao microscópio. E, no percurso inverso, lançou-se uma garrafa de plástico com transmissores para que se possa acompanhar o trajecto do plástico nos cursos de água.

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Heather Koldewey com a garrafa que atirou ao mar e que é um "localizador de poluição"

É uma garrafa transparente de plástico de meio litro com uma antena, um transmissor preto no interior e uma mensagem para quem a encontrar. A professora da Universidade de Exeter (Reino Unido), Heather Koldeway, segura a garrafa que lançará em breve ao mar. É uma das criadoras deste projecto e explica que “o objectivo é perceber qual a trajectória do plástico depois de ser deitado fora e entrar nas correntes oceânicas”.

O desafio foi torná-la suficientemente leve, mas agora “flutua como qualquer outra garrafa”. E envia informação por satélite cinco vezes por dia. Uma das garrafas que lançaram no sudoeste do Reino Unido foi encontrada 150 dias depois nos Países Baixos. Por agora, todas as garrafas que têm dado à costa têm sido “denunciadas” por pessoas que estavam a limpar praias.

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Limpeza da praia em busca de pequenas partículas de plástico

Além da limpeza da praia, os jovens puderam trabalhar cinco temas durante os três dias deste “Innovathon”: portos e transporte marítimo com zero emissões; comida oceânica saudável; energias renováveis oceânicas; mapeamento dos oceanos; e lixo marinho. A portuguesa Maria Pena Ermida, de 28 anos, foi uma das candidatas escolhidas para participar no fórum. Estudou Direito, “apaixonou-se” pela área de direito do mar e agora está a fazer um doutoramento sobre áreas marinhas para lá da jurisdição dos Estados.

Neste fim-de-semana, ficou surpreendida pela interdisciplinaridade da sua equipa: havia um arquitecto, duas activistas e uma especialista em moda sustentável – e tentaram encontrar uma forma de tornar o transporte marítimo neutro em carbono. “É fantástico ter pessoas tão novas a lutar para o mesmo”, diz ao PÚBLICO. “Fazermo-nos ouvir” é o mais importante, defende.

Na hora da decisão dos projectos vencedores, os jurados não tiveram tarefa fácil: segundo disseram, foi uma competição tão renhida que até escolheram dois vencedores em vez de um só. Um dos vencedores era um projecto sobre o custo económico das espécies invasoras, que procurava formas de as combater e transformar noutros materiais, como fertilizantes. O outro vencedor foi um grupo chamado “WasteVengers”, com medidas para evitar que os resíduos cheguem até ao oceano. As ideias vencedoras serão acompanhadas durante os próximos 12 meses por mentores internacionais para aplicar as ideias que surgiram deste fórum. Foram também atribuídas bolsas da Nova SBE aos jovens vencedores.

Apesar de não ter sido uma das vencedoras, Maisy Lus quer replicar a ideia deste fórum na Papuásia Nova Guiné. Faz parte de uma organização não-governamental relacionada com os pescadores e acredita que este tipo de iniciativas pode trazer a mudança que tanto almeja. “Esta experiência foi profunda”, conta, com os pés na água do mar. “Aprendi muito.”

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