Continuam a nascer estrelas no berçário da Nebulosa de Tarântula

As observações de uma equipa de astronómos na Nebulosa de Tarântula podem ajudar a compreender por que continuamos a testemunhar a formação de estrelas actualmente.

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A Nebulosa de Tarântula é uma teia de estrelas, gás e poeiras a cerca de 170 mil anos-luz da nossa galáxia ESO/ESA/via REUTERS

Uma equipa de astrónomos observou um “berçário estelar” na Nebulosa de Tarântula (uma enorme nuvem de gás e poeiras ao lado da nossa galáxia) ganhando uma nova compreensão dos mecanismos da formação de estrelas – ao mesmo tempo que obtiveram uma imagem deslumbrante do cosmos.

As observações trazem informações sobre a interacção entre a gravidade que impulsiona a formação de estrelas e as enormes quantidades de energia que as estrelas jovens maciças injectam nos ambientes ao seu redor que podem inibir o nascimento de estrelas. A Nebulosa de Tarântula, que reside numa galáxia satélite da Via Láctea chamada Grande Nuvem de Magalhães, é uma teia de estrelas, gás e poeiras com cerca de 600 anos-luz de diâmetro – um ano-luz é a distância que a luz percorre num ano, cerca de 9,5 biliões de quilómetros.

A cerca de 170 mil anos-luz da Terra, a Nebulosa de Tarântula tem este nome porque parte da sua arquitectura assemelha-se a filamentos brilhantes de gás, poeiras e estrelas que lembram as pernas de uma aranha. A composição do gás da nebulosa é semelhante à do início do universo, tendo maioritariamente apenas hidrogénio e hélio. O Observatório Europeu do Sul (ESO) divulgou uma imagem da Nebulosa da Tarântula em que se vêem finas nuvens de gás que podem ser restos de outras nuvens maiores dilaceradas pela energia desencadeada por estrelas jovens maciças.

“Vemos as estrelas a formar-se onde há muito gás e poeiras disponíveis e definitivamente há muito disso na Nebulosa de Tarântula”, diz o astrofísico Guido De Marchi, do Centro Europeu de Investigação e Tecnologia Espacial da Agência Espacial Europeia, co-autor do trabalho publicado agora na revista científica Astrophysical Journal. As descobertas tiveram a ajuda das observações realizadas através do telescópio Alma, o maior radiotelescópio do mundo e que tem sede no Chile.

“As estrelas formam-se quando as nuvens de gás colapsam sob a sua própria gravidade e o gás se torna cada vez mais denso. Essas nuvens contraem e aquecem até que o núcleo esteja quente o suficiente para iniciar o motor estelar, um imenso reactor nuclear”, explica De Marchi.

“Mas sempre pensámos que quando as estrelas maciças – 100 vezes mais maciças que o Sol – começam a formar-se, elas libertam tanta energia que impedem a entrada de mais gás, desligando o combustível para que mais estrelas à sua volta se formem. As observações da Nebulosa de Tarântula mostram que onde o gás é suficientemente denso, ele continua a cair sem parar e podem continuar a formar-se novas estrelas. Isto é interessante e novo”, aponta.

De Marchi refere-se a um fenómeno chamado feedback, em que as estrelas jovens maciças emitem enormes quantidades de energia nos ambientes locais em forma de fotões e partículas de alta velocidade. A composição da nebulosa promoveu a formação de estrelas particularmente grandes, cerca de 200 vezes mais maciças que o nosso sol. “A Nebulosa de Tarântula é o ambiente de feedback mais extremo que podemos observar em detalhe porque abriga o exemplo mais próximo de um aglomerado de estrelas jovens e maciças”, refere o astrofísico da Universidade de Illinois e também autor do estudo, Tony Wong.

“Um dos grandes mistérios da astronomia é perceber porque ainda somos capazes de testemunhar a formação de estrelas actualmente. Por que razão é que todo o gás disponível não entrou em colapso numa enorme explosão de formação estelar que veio e se foi há muito tempo? As observações com o ALMA podem esclarecer o que está a acontecer nas profundezas das nuvens e ajudar a entender como a gravidade e o feedback competem para manter a taxa de formação de estrelas sob controlo”, acrescentou Wong.

A beleza da nebulosa não passou despercebida aos investigadores: “Pessoalmente, amo a Nebulosa de Tarântula, tanto cientificamente quanto esteticamente”, avança De Marchi. “É apenas uma cena icónica no céu. Muitas vezes já me questionei como seria a nossa noite se estivéssemos num planeta perto de uma das suas estrelas, com nuvens coloridas e brilhantes e fios de gás a atravessar o céu.”

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