Quem compra na loja online da Sol Sem Fronteiras apoia o ensino de crianças guineenses

Durante a pandemia, a Sol Sem Fronteiras criou uma loja social cujo lucro reverte para projectos educativos. Com quase 200 pessoas, a organização aumentou o número de voluntários em 2020.

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Santi Vedrí | Unsplash

A organização Sol Sem Fronteiras aumentou o número de voluntários nos anos da pandemia e criou uma loja social, onde as vendas dos artigos em capulana (tecido africano colorido) revertem para o apoio do ensino a centenas de crianças guineenses.

A Sol Sem Fronteiras, uma organização não-governamental para o desenvolvimento (ONGD), fundada em 1993 em Portugal, conta com 180 voluntários e nunca parou durante a pandemia, conseguindo criar no final de 2020 o atelier de costura EmpoderArte e, recentemente, a loja online Prenda Solidária, um negócio social com carácter inclusivo, financiado ao abrigo do programa Apoio Pontual Extraordinário.

“Todos os artigos feitos no atelier de costura são com tecidos africanos. Temos todo o tipo de acessórios, brinquedos para crianças, fitas para o cabelo, brincos, necessaires, enfim, uma panóplia de produtos para todos os gostos, para senhoras, para homens e crianças e para todas as idades”, conta Inês Souta, directora-executiva da Sol Sem Fronteiras (Solsef).

Pelo atelier inclusivo EmpoderarArte têm passado vários jovens que aperfeiçoaram a sua técnica de costura e criam todo o tipo de acessórios e artigos solidários que podem ser adquiridos na loja online.

Como negócio circular que é, as verbas arrecadadas durante a pandemia estão a servir, actualmente, para construir estruturas de apoio para a Escola São Francisco Xavier, em Bafatá, na Guiné-Bissau, explicou à agência Lusa Inês Souta.

“O que estamos a vender este ano reverte para um projecto que se chama Nutrição e Higiene. Decorre na Guiné-Bissau, mais concretamente em Bafatá. Estamos a apoiar a Escola São Francisco Xavier. É uma escola de ensino básico. Tem cerca de 600 alunos. Com os proveitos destas vendas solidárias da loja, começámos a construir infra-estruturas básicas que uma escola deve ter e que são uma cozinha, um refeitório, um armazém para pôr lenha e casas de banho de apoio”.

A par do projecto Nutrição e Higiene, a Solsef está a terminar o projecto Capacitação Pedagógica, também em Bafatá. Essa missão visa apoiar outras duas escolas que completam o ciclo de ensino da Guiné-Bissau, que é o Jardim Infantil Santa Teresinha do Menino Jesus e o Liceu Padre Leopoldo Pastori, e que no total representa 1.200 alunos, explica Inês Souta.

“Fizemos o reforço das infra-estruturas das três escolas com o apoio do Instituto Camões e estamos a fazer formação contínua dos professores desde Setembro até Julho de 2022”.

Após as obras, a Solsef vai dar formação aos docentes e alunos na área da nutrição e higiene, acrescentou Inês Souta. A organização acolheu mais jovens voluntários na pandemia e, para colmatar essa explosão de ofertas, teve de encontrar formas criativas de gerir os voluntários, por exemplo, o voluntariado remoto ou via online.

“Largar os mais vulneráveis era um erro. Nunca parámos. Aliás, aumentámos o número de voluntários em 2020. As pessoas ficaram mais sensibilizadas a querer ajudar”, disse Inês Souta, explicando que mantiveram todos os projectos “em andamento”.

Houve um grupo de jovens que produziu documentos que faziam falta à associação e houve outro grupo de voluntários seniores que faziam os artigos de costura para o atelier.

As pessoas sentiram que precisavam de “fazer mais, de se conectar, de poder contribuir” e foi “interessante ver esse movimento”, que fez a instituição crescer e pensar em gerir o voluntariado sem ter as pessoas presencialmente, concluiu.

Cátia Sousa, voluntária da Solsef a partir do Porto, aconselha os interessados em fazer voluntariado a tentarem perceber, em primeiro lugar, quais os talentos que sentem que têm.

“Tentar perceber quais são as capacidades e qual a disponibilidade que têm para dispor delas em prol do outro voluntariamente. A partir do momento em que a pessoa decide isso, acho que deve procurar instituições”, aconselha Cátia Sousa, considerando importante a “honestidade”, “humildade” e “transparência” como características para tomar a decisão de escolher entre as organizações.

Em Portugal, a Solsef está a desenvolver desde 2021 um projecto Educação para a Saúde, abordando a saúde mental através da música com a colaboração da cantora Rita Red Shoes. O impacto da pandemia notou-se na saúde mental dos jovens e, por isso, o projecto está a ter continuidade em 2022.

As receitas da Solsef já reverteram para projectos de cooperação social na Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Moçambique, Angola, Brasil, Paraguai e Haiti.

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