Ameaça chinesa a Taiwan leva Japão a aumentar gastos com Defesa

Governo de Fumio Kishida admite que a despesa militar possa chegar a 2% do PIB e mostra preocupação com actividade da China no Estreito de Taiwan.

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Fumio Kishida, primeiro-ministro do Japão EPA/FRANCK ROBICHON

O Japão pretende aumentar drasticamente os gastos com Defesa “nos próximos cinco anos”, segundo um documento anual sobre a política económica do país, divulgado esta terça-feira, que mencionou, pela primeira vez, quer um prazo para os gastos quer a preocupação com as ameaças enfrentadas por Taiwan.

Nem o período de cinco anos nem a referência à ilha democrática e independente, que a China considera parte do seu território, tinham feito parte do rascunho deste documento elaborado, numa primeira fase, durante a semana passada. Taiwan, por sua vez, continua a rejeitar as reivindicações de soberania da China e diz que apenas o povo da ilha poderá vir a decidir o seu futuro.

O Japão e os Estados Unidos “enfatizaram a importância da paz e da estabilidade no Estreito de Taiwan, assim como uma resolução pacífica de quaisquer problemas de ambos os lados”, como pode ler-se no documento numa nota de rodapé que faz referência ao enconro entre o Presidente dos EUA, Joe Biden, e o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, em Tóquio, no mês passado.

Este é o primeiro documento do género elaborado pelo governo de Kishida desde que assumiu o cargo em Outubro, e serve como um modelo para o orçamento do próximo ano fiscal, embora qualquer grande aumento nos gastos militares venha aumentar as já tensas finanças públicas do Japão. O documento do ano passado, em contraste, dizia apenas que o Japão aumentaria significativamente os gastos com a Defesa conforme necessário, nunca mencionando Taiwan.

A menção àquela ilha ocorre depois de Biden ter dito que Washington estava disposto a usar a força para defender Taiwan contra qualquer ataque da China.

Por sua vez, a preocupação de Tóquio com Taiwan tem vindo a crescer, uma vez que foi registado um aumento na actividade militar chinesa no Leste da Ásia. A exemplo da vizinha ilha japonesa de Okinawa, a ilha de Taiwan é, na prática, um limite às forças de Pequim. Mas romper esta linha ameaçaria, directamente, as rotas marítimas que abastecem a economia do Japão, nomeadamente a maior parte do seu petróleo.

A China diz que os seus recentes exercícios perto de Taiwan, que incluíram incursões regulares de aeronaves na zona de defesa aérea da ilha, visam impedir o “conluio” entre os Estados Unidos e Taiwan e defender a soberania da China.

O documento divulgado esta terça-feira, que abrange também questões de segurança energética, não referiu quanto representaria este reforço drástico com os gastos na Defesa. Contudo, referia-se a um compromisso de 2% do produto interno bruto (PIB) assumido pelos membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO). O Japão agora gasta pouco mais de 1% do PIB com as suas forças armadas.

Mesmo que o Governo de Kishida tenha dinheiro para duplicar os gastos com a Defesa, o Japão continuará muito atrás da China, que já gasta quase cinco vezes mais com as suas forças armadas.

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