Coreia do Norte dispara oito mísseis ao mesmo tempo em “teste” ao novo Governo sul-coreano

Especialistas dizem que o teste deste domingo parece ser o maior jamais feito pela Coreia do Norte. O lançamento de um grande número de mísseis ao mesmo tempo sugere a realização de um exercício militar ou uma demonstração de força, e não necessariamente um teste de nova tecnologia.

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O lançamento acontece um dia após a conclusão de exercícios militares conjuntos da Coreia do Sul e dos EUA EPA/JEON HEON-KYUN

A Coreia do Norte lançou oito mísseis balísticos de curto alcance em direcção ao mar, este domingo, naquele que se julga ser o maior teste de sempre no país, um dia depois de a Coreia do Sul e os Estados Unidos terem terminado os seus exercícios militares conjuntos na região.

Os exercícios sul-coreanos e norte-americanos são anuais e as ameaças e acusações norte-coreanas são recorrentes nesta época do ano. Desta vez, a principal diferença foi a participação de um porta-aviões norte-americano nas operações, o que aconteceu pela primeira vez em mais de quatro anos.

O teste norte-coreano surge poucas semanas depois da entrada em funções de um novo Governo na Coreia do Sul, um momento que também costuma ser usado pela Coreia do Norte para tentar perceber eventuais novas posições do seu vizinho.

Segundo o Estado-Maior-General das Forças Armadas Coreia do Sul, pelo menos oito mísseis foram disparados da região de Sunan, na capital norte-coreana, Pyongyang, tendo percorrido entre 110 quilómetros e 600 quilómetros, a altitudes de entre 25 quilómetros e 90 quilómetros.

Em resposta, o Presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk-yeol, convocou uma reunião do seu Conselho de Segurança Nacional e ordenou “a expansão da dissuasão da Coreia do Sul e dos Estados Unidos e o reforço contínuo da postura de defesa conjunta”.

O Conselho de Segurança Nacional sul-coreano concluiu que o lançamento foi um teste da Coreia do Norte à prontidão do novo Governo sul-coreano, que entrou em funções em Maio.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Coreia do Sul disse que Kim Gunn, o seu representante especial para os assuntos da Península Coreana, discutiu a “provocação” com o representante especial dos EUA, Sung Kim — o responsável dos EUA para os assuntos norte-coreanos. Para além disso, Kim Gunn também falou ao telefone com o seu homólogo japonês, Funakoshi Takehiro.

O ministro da Defesa japonês, Nobuo Kishi, confirmou que a Coreia do Norte lançou vários mísseis e disse que a acção “não pode ser tolerada”. Numa conferência de imprensa, Kishi disse que pelo menos um míssil apresentou uma trajectória variável, o que indica que poderia ser manobrado para evitar defesas antimísseis.

O Comando dos EUA na região do Indo-Pacífico disse que os múltiplos lançamentos de mísseis balísticos pela Coreia do Norte salientam o impacto desestabilizador do seu programa de armas ilícitas, mas garantiu que o teste não representa uma ameaça imediata.

Michael Duitsman, do Centro James Martin para os Estudos de Não-Proliferação, com sede nos EUA, disse que o teste deste domingo parece ser o maior jamais feito pela Coreia do Norte. O lançamento de um grande número de mísseis ao mesmo tempo também sugere a realização de um exercício militar ou uma demonstração de força, e não necessariamente um teste de nova tecnologia.

Mais sanções

Na semana passada, os EUA pediram mais sanções das Nações Unidas contra a Coreia do Norte na sequência do recomeço dos testes com mísseis balísticos, mas a China e a Rússia vetaram a sugestão. Foi a primeira vez desde 2006 — quando foram aplicadas sanções a Pyongyang após a realização de um ensaio nuclear — que o Conselho de Segurança da ONU expôs em público as suas divisões sobre a Coreia do Norte.

Nas últimas semanas, a Coreia do Norte testou vários mísseis, incluindo o seu maior míssil balístico intercontinental.

Os últimos testes da Coreia do Norte aconteceram a 25 de Maio, depois de uma visita do Presidente dos EUA, Joe Biden, à Ásia. Nessa ocasião foram disparados três mísseis.

Segundo as autoridades sul-coreanas, o primeiro a ser lançado foi o maior míssil balístico intercontinental da Coreia do Norte, o Hwasong-17; o segundo míssil, não especificado, terá falhado em pleno voo; e o terceiro era um míssil balístico de curto alcance.

No sábado, navios sul-coreanos e norte-americanos concluíram três dias de exercícios em águas internacionais na ilha japonesa de Okinawa, incluindo operações de defesa aérea, anti-navio, anti-submarino e de interdição marítima, disse o Estado-Maior-General da Coreia do Sul.

Segundo a mesma fonte, os exercícios conjuntos “consolidaram a determinação dos dois países em responder severamente a quaisquer provocações norte-coreanas”.

Os exercícios incluíram o USS Ronald Reagan, um porta-aviões de cem mil toneladas movido a energia nuclear, entre outros grandes navios de guerra.

O novo Presidente sul-coreano, Yoon Suk-yeol, concordou com Joe Biden em reforçar os exercícios militares bilaterais para deter a Coreia do Norte.

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