Coreia do Norte faz o primeiro teste com míssil de longo alcance em cinco anos

Percorreu 1100 quilómetros e caiu no Mar do Japão, a 150 quilómetros da costa, interrompendo uma moratória auto-imposta por Pyongyang à testagem de mísseis de longo alcance.

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Suspeita-se que este tenha sido o lançamento do Hwasong-17, um míssil revelado em 2020 EPA/YONHAP

Uma semana depois de ter feito um lançamento falhado, a Coreia do Norte disparou esta quinta-feira aquilo que as autoridades japonesas e sul-coreanas acreditam ser o maior míssil balístico intercontinental alguma vez lançado por Pyongyang. É a primeira vez desde 2017 que o regime de Kim Jong-un testa com sucesso o lançamento de um projéctil de longo alcance.

O míssil foi disparado a partir do aeroporto de Sunan, nos arredores de Pyongyang, e viajou durante mais de uma hora ao longo de 1100 quilómetros, até cair no Mar do Japão, dentro da zona económica exclusiva deste país e a 150 quilómetros da costa.

As Forças Armadas sul-coreanas anunciaram que estão a analisar o lançamento com os Estados Unidos para perceber as especificidades do projéctil, enquanto o Ministério da Defesa japonês disse que este parece ser um novo tipo de míssil balístico intercontinental. Poderá tratar-se do Hwasong-17, um modelo revelado em 2020, que terá sido testado em distâncias mais curtas e altitudes mais baixas em Fevereiro e Março. O míssil desta quinta-feira atingiu uma altitude de 6200 quilómetros.

O lançamento dá-se num momento em que as atenções ocidentais estão sobretudo concentradas na guerra da Ucrânia, mas igualmente numa fase de transição de poder na Coreia do Sul.

O Presidente cessante, Moon Jae-in, “condenou veementemente” o lançamento pois “causa uma ameaça directa à península coreana e não só”, cita a agência Yonhap. Já a equipa do futuro Presidente, Yoon Suk-yeol, que tomará posse em Maio, disse que esta é “uma provocação grave” e pediu “medidas firmes” contra a Coreia do Norte.

Foi durante o mandato de Moon Jae-in que se realizou, em 2018, a primeira cimeira entre as duas Coreias em mais de uma década, de onde saiu o compromisso de trabalhar “para a completa desnuclearização” da península. Nesse mesmo ano realiza-se um encontro inédito entre Kim Jong-un e Donald Trump, que se repetiria por mais duas vezes no ano seguinte – incluindo a primeira entrada de sempre de um Presidente dos EUA em funções no território norte-coreano.

Apesar de Kim ter imposto uma moratória nos seus testes balísticos e nucleares em 2018, os esforços diplomáticos de Trump não tiveram grande efeito prático e a ONU constatou que a Coreia do Norte continua a desenvolver os dois programas. Este foi o 12.º lançamento de um míssil levado a cabo pela Coreia do Norte este ano.

“Este lançamento é uma violação descarada de múltiplas resoluções do Conselho de Segurança da ONU, aumenta as tensões desnecessariamente e arrisca destabilizar a situação de segurança na região”, disse, em comunicado, a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki. “A porta não está fechada à diplomacia, mas Pyongyang tem de parar imediatamente com estas acções desestabilizadoras”, acrescentou.

O jornalista Chad O’Carroll, fundador do NK News, escreveu no Twitter que este foi “um sinal claro” de que a moratória auto-imposta por Pyongyang “terminou” e que “novos testes nucleares norte-coreanos estão no horizonte”, mas “é improvável que [a atitude] dos Estados Unidos mude significativamente” nos próximos tempos.

Kim Jong-un, a quem Joe Biden chamou “bandido” durante a campanha presidencial de 2020, não tem estado no topo das preocupações do Presidente norte-americano, que diz ter a porta da diplomacia aberta mas não está disposto a aligeirar as sanções sobre o regime norte-coreano.

Biden pode ter perdido uma boa oportunidade para “começar uma relação mais produtiva” com Pyongyang, analisou Jenny Town, do projecto 38 North, em declarações à Reuters. “Agora o momento já passou. E com o Conselho de Segurança da ONU paralisado, as ferramentas que temos (…) são muito mais limitadas.”

A Coreia do Norte foi um dos cinco países que esta quinta-feira votou contra uma nova resolução da Assembleia Geral da ONU a condenar a invasão russa da Ucrânia, que voltou a ter um amplo apoio de 140 países. “Todo o mundo está distraído e não haverá consequências. O que é que o Conselho de Segurança vai fazer? A Rússia vai ajudar, a China vai ajudar?”, questiona Sue Mi Terry, analista do Center for Strategic and International Studies.

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