Erdogan testa paciência da NATO com operação militar na Síria

Presidente turco, que ameaça vetar a entrada de Suécia e Finlândia na Aliança Atlântica, prepara-se para atacar milícias curdas. ONU e Rússia pedem contenção.

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A Rússia espera que Erdogan "se abstenha de acções que levem a uma deterioração da já difícil situação na Síria” Reuters/FLORION GOGA

Com a atenção do mundo focada na guerra da Ucrânia, o Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, anunciou que está a planear uma grande operação militar para repelir as milícias curdas sírias e criar uma barreira na região sul. Nas últimas semanas, não se tem passado um dia sem aumento de tensões e conflitos entre os combatentes curdos sírios apoiados pelos Estados Unidos, as forças turcas e os soldados da oposição síria apoiados pela Turquia.

Os analistas dizem que Erdogan está a aproveitar o conflito na Ucrânia para impulsionar os seus próprios objectivos na Síria, numa altura em que ameaça vetar a adesão da Finlândia e da Suécia à NATO, no que pode ser visto como um teste à resposta da Aliança Atlântica.

O Presidente turco acrescentou que esta “nova fase” se concentrará nas cidades de Tel Rifat e Manbij. “Estamos a entrar numa nova fase que visa estabelecer uma zona segura de 30 quilómetros a sul [da fronteira entre a Turquia e a Síria]”, disse ele, antes de mencionar que as cidades mencionadas serão “limpas de terroristas” e de criticar os Estados Unidos Estados e a Rússia por não cumprirem os seus compromissos de garantir uma “zona de segurança” na fronteira.

Nós vamos atacá-los de repente uma noite. E devemos fazê-lo”, afirmou Erdogan, citado pela Europa Press, sem dar um cronograma específico para o ataque.

As Nações Unidas pediram ao Governo da Turquia para ter “contenção máxima” depois do anúncio do Presidente sobre o início de “uma nova fase” na ofensiva militar turca no norte da Síria contra a milícia curda Unidades de Protecção Popular (YPG), o principal membro das Forças Democráticas da Síria (FDS).

“Pedimos a todas as partes que exerçam o máximo de contenção”, disse o porta-voz do secretário-geral da ONU, Stéphane Dujarric, que relembrou que “há um cessar-fogo acordado no norte da Síria desde Outubro de 2019”. “Relembramos a importância deste cessar-fogo e esperamos que ele continue”, afirmou.

“A nossa principal mensagem para todos os países envolvidos é que respeitem a integridade territorial da Síria”, acrescentou Dujarric, depois do comandante das FDS, Mazloum Abdi, ter alertado que as “novas ameaças” de Erdogan representam “um grande risco” para o país. “Qualquer ofensiva dividirá os sírios, criará uma nova crise humanitária e deslocará moradores e deslocados internos”, sublinhou Dujarric.

A Rússia, por sua vez, instou a Turquia a não lançar uma ofensiva no norte da Síria. “Esperamos que Ancara se abstenha de acções que possam levar a uma deterioração perigosa da já difícil situação na Síria”, disse a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova. “Tal medida, na ausência do acordo do governo legítimo da República Árabe Síria, seria uma violação directa da soberania e integridade territorial da Síria” e “causaria uma nova escalada de tensões no país”, acrescentou.

Desde 2016, que a Turquia já lançou três grandes operações dentro da Síria, visando a principal milícia curda – a YPG – que o país considera uma organização terrorista e uma extensão do Partido dos Trabalhadores do Curdistão, ou PKK. No entanto, a YPG forma a espinha dorsal das forças lideradas pelos norte-americanos na luta contra os militantes do Estado Islâmico e tem sido um dos principais aliados dos EUA na Síria.

Contudo, neste momento, uma grande incursão de Ancara traria riscos e complicações a nível mundial, ameaçando perturbar os laços da Turquia com os Estados Unidos e com a Rússia. Para além disto, a Turquia correria o risco de criar uma nova onda de migrações numa região já devastada pela guerra - numa zona onde o Estado Islâmico ainda está activo.

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