Em 2021, produção independente de séries, novelas e filmes portugueses teve franca recuperação

Anuário do Sector de Produção Audiovisual em Portugal faz retrato do impacto da pandemia em 2020, mas também avalia os primeiros trimestres de 2021 e a sua retoma.

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Rodagem da série Lusitânia, co-produção da RTP e da Take It Easy Films Adriano Miranda

Em 2021, a actividade dos produtores independentes de televisão portugueses conheceu uma “recuperação notavelmente expressiva” em termos de rentabilidade e resultados, depois de em 2020 a pandemia ter alterado para sempre o sector, revela um novo estudo.

O Anuário do Sector de Produção Audiovisual em Portugal, levado a cabo por Catarina Duff Burnay e Nelson Ribeiro, do Centro de Estudos de Comunicação e Cultura da Universidade Católica, faz um retrato não só do ano zero da pandemia, 2020, mas também dos primeiros nove meses de 2021. Confirma que a covid-19 afectou duramente o sector, provocando nomeadamente o adiamento de estreias, situação que afectou cerca de 79% das 38 produtoras inscritas na Associação de Produtores Independentes de Televisão (APIT), promotora do estudo. A suspensão de produções foi uma realidade para cerca de 60% dos associados, o cancelamento de produções visou 30%. A implementação de novas medidas de segurança sanitária levou a um aumento dos custos de produção que variou entre os cinco e cerca de 20%, e 11% das produtoras despediram trabalhadores.

Quando foi possível regressar ao trabalho, estas empresas (que incluem agentes como a Ukbar Filmes que está agora a fazer a segunda série original portuguesa para a Netflix, ou a Santa Rita Filmes, responsável por Bem Bom, passando pelas várias chancelas do grupo SP), confrontaram-se com novas despesas relacionadas com equipamentos de protecção individual, protocolos de testagem e outras contingências da pandemia, e 60% viram a sua produtividade diminuir em termos de horas de gravação.

Ainda assim – e porque, ao contrário do que sucedeu noutros países onde as reposições de programas ocuparam parte das grelhas, em Portugal a produção de entretenimento e de novos episódios foi retomada logo que possível , em 2020 o número de empresas dedicadas à produção de filmes, vídeos e televisão cresceu para 2528 (mais 88 do que em 2019, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística). O volume de negócios dos associados da APIT foi dos mais altos dos últimos anos (98,2 milhões de euros), beneficiando sobretudo as empresas maiores, e o sector angariou mais 10% de trabalhadores, incluindo recibos verdes.

Aumentou a produção de entretenimento e ficção de curta e longa duração, ou seja as novelas mas também as séries. “Há que ter em linha de conta a tendência de produção, por parte dos canais generalistas em sinal aberto, de oferta de formatos de curta serialização de forma mais activa e continuada”, sublinham os autores do estudo. Devido à situação pandémica, diversificaram-se as fontes de apoio, entrando em campo outras entidades ou programas especiais. “A maioria dos apoios concedidos procurou ajudar as produtoras a manter a actividade aberta e a suportar custos com pessoal”, lê-se no anuário.

Em 2021, quando se ensaiou uma nova fase de trabalho em ambiente de pandemia, e até Setembro do ano passado, 89% das produtoras viram crescer o seu volume de negócios total, 75% aumentaram o número de trabalhadores a contrato e 51% o de trabalhadores em prestação de serviços. Oitenta e um por cento registaram ganhos de rentabilidade e de resultados.

A auscultação dos produtores independentes portugueses evidencia a já conhecida importância das co-produções para o aumento de escala do audiovisual português. Mas também, e “pela primeira vez em quatro anos”, frisam os autores, “é assumida, de forma evidente, a adequação da oferta ao novo perfil de consumidor como algo ‘relevante’/‘muito relevante’”, o que atesta a preocupação dos produtores em “pensar o público como elemento importante na definição do conteúdo e não apenas como receptor”.

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