Confiança dos consumidores recupera ligeiramente do efeito da guerra

Indicador de confiança dos consumidores calculado pelo INE subiu em Maio, mas mantém-se ainda longe dos níveis anteriores à guerra na Ucrânia. Indicador de clima económico nas empresas voltou a abrandar.

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Paulo Pimenta

Depois de ter registado em Março, no início da guerra na Ucrânia, uma das maiores quedas de que há registo, a confiança dos consumidores voltou, tal como já tinha acontecido em Abril, a recuperar de forma ligeira em Portugal. O pessimismo dos portugueses em relação à evolução futura da economia, da inflação e da sua situação financeira pessoal continua a ser elevado.

Pelo segundo mês consecutivo, a confiança dos consumidores portugueses registou uma subida. O indicador calculado pelo Instituto Nacional de Estatística passou de -32,9 pontos em Abril (saldo das respostas dadas pelos inquiridos) para -30,1 pontos. Em Março, o valor registado foi de -34,1 pontos.

No entanto, esta evolução positiva tem de ser lida levando em conta aquilo que aconteceu durante o mês de Março à confiança dos consumidores portugueses. Nesse mês, com as famílias preocupadas com as consequências da guerra na Ucrânia, especialmente no que diz respeito aos preços, o indicador de confiança caiu de -14,5 pontos para -34,1 pontos.

Ou seja, apesar da recuperação registada em Abril e Maio, as expectativas dos consumidores continuam a ser bastante mais pessimistas do que aquilo que acontecia antes do início da guerra. Para encontrar, na série do INE do indicador de confiança dos consumidores, valores inferiores a -30 pontos como o que se registou este mês é preciso recuar dois anos, até Maio de 2020, ainda na fase inicial da pandemia.

Sem surpresa, a expectativa de evolução da inflação é uma das razões por trás destes níveis de confiança tão negativos, embora também aqui o pessimismo se tenha vindo a moderar nos dois últimos meses. Em Fevereiro, antes da guerra, o indicador que mede a expectativa de evolução dos preços nos próximos 12 meses estava nos 41,3 pontos, apontando já para uma subida significativa. Mas em Março disparou para os 80,8 pontos, o valor mais alto de toda a série, e depois, desceu em Abril para 64,5 pontos e para 53,7 pontos em Maio.

Dois indicadores que continuaram, nos últimos dois meses, a revelar uma trajectória cada vez mais negativa são os referentes à realização de compras importantes e à oportunidade de realização de poupanças nos próximos 12 meses.

Clima económico em trajectória descendente

Do lado das empresas, a evolução das expectativas foi, de acordo com os dados revelados pelo INE, diferente da dos consumidores. Em Março, o indicador de clima económico - que mede o sentimento na Indústria Transformadora, Construção e Obras Públicas, Comércio e Serviços - registou uma descida mas relativamente moderada. A variação do indicador face ao mesmo período do ano passado passou de 2,6% em Fevereiro para 2% em Março.

E agora, parece estar a prolongar, já no segundo trimestre, a tendência de abrandamento, tendo passado de 2,1% em Abril para 1,8% em Março. Estes valores, ainda assim, mostram que o clima económico revelado pelas respostas dadas pelas empresas ao questionário do INE é mais positivo, não só do que aquele que se verificava na primeira metade do ano passado, como no início da pandemia.

Tanto na indústria transformadora como no comércio, o indicador de clima registou uma tendência negativa, mas no que diz respeito à evolução dos preços de venda nos próximos três meses, que tinha subido em Março de forma muito significativa, passou para níveis mais moderados em Abril e Maio.

Para a economia portuguesa, esta evolução dos indicadores de confiança dos consumidores e do clima económico sentido pelas empresas pode ser decisiva para o nível de actividade registado no segundo trimestre deste ano.

Durante os primeiros três meses, surpreendendo a maioria dos analistas, a economia portuguesa foi a que mais cresceu na União Europeia, com uma variação do PIB de 2,6% face ao trimestre imediatamente anterior. Este resultado é o suficiente para que, só por si, entidades como a Comissão Europeia tenham revisto em alta a sua previsão de crescimento económico para a totalidade de 2022 para 6%.

Ainda assim, nesse cenário traçado por Bruxelas, está incluída a expectativa de um recuo da actividade económica em Portugal durante o segundo trimestre, explicado essencialmente pelos efeitos negativos da inflação mais alta e da travagem da procura proveniente do exterior.

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