Luís Montenegro, de tribuno nos tempos da troika a 19.º presidente do PSD

Estreou-se no Parlamento aos 29 anos, nasceu no Porto e é advogado de profissão. Quem é Luís Montenegro, o antigo líder parlamentar do PSD que se tornou, na noite deste sábado, o 19.º presidente do partido?

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Esta foi a segunda vez que Luís Montenegro concorreu à presidência do PSD Rui Gaudencio

O antigo líder parlamentar do PSD Luís Montenegro tornou-se hoje o 19.º presidente do partido, sucedendo a Rui Rio, de quem foi o principal desafiador ao longo do mandato, com tréguas em vésperas de legislativas. De acordo com os resultados provisórios hoje anunciados, Montenegro conseguiu cerca de 73% dos votos, contra 27% do outro candidato, o antigo vice-presidente do PSD Jorge Moreira da Silva.

Esta foi a segunda vez que Luís Montenegro concorreu à presidência do PSD: em Janeiro de 2020, nas primeiras eleições directas a que se candidatou, o antigo líder parlamentar do PSD obrigou Rui Rio a uma inédita segunda volta no partido (Miguel Pinto Luz foi o terceiro candidato que ficou pela primeira volta, com cerca de 9,5% dos votos) e conseguiu 47% do partido. Na noite da derrota, a 18 de Janeiro de 2020, o antigo deputado avisou logo que não valia a pena anunciarem a sua morte política, considerando que essa notícia seria “manifestamente exagerada”, mas manteve-se discreto na sua intervenção política nos dois anos seguintes.

Luís Filipe Montenegro Cardoso de Morais Esteves, 49 anos, nasceu no Porto, mas viveu sempre em Espinho (Aveiro) e é advogado de profissão. Estreou-se no parlamento aos 29 anos, em 2002, quando Durão Barroso era presidente do PSD e primeiro-ministro, depois de ter iniciado uma carreira política que começou na JSD e passou pela Câmara Municipal de Espinho, onde foi vereador. Nas autárquicas de 2005, candidatou-se a presidente do município, mas foi derrotado por José Mota, do PS.

Depois de ter sido “vice” da bancada na direcção de Miguel Macedo, foi eleito líder parlamentar após a vitória de Pedro Passos Coelho nas legislativas, em Junho de 2011. Mantém-se no cargo até 2017, tornando-se o líder parlamentar com maior longevidade no PSD, e foi no período da troika - em Janeiro de 2014 - que disse que “a vida das pessoas não está melhor, mas a do país está muito melhor”, frase que lhe viria a merecer muitas críticas.

Nas disputas internas no PSD, Luís Montenegro foi tendo opções diferentes: nas directas de 2007, entre Luís Marques Mendes e Luís Filipe Menezes, foi mandatário distrital do ex-autarca de Gaia; um ano depois, assumiu o lugar de porta-voz da candidatura à liderança de Pedro Santana Lopes, contra Manuela Ferreira Leite e Pedro Passos Coelho; já em 2010 apoiou Passos Coelho, contra Paulo Rangel e José Pedro Aguiar-Branco; em 2018, apoiou Santana Lopes contra Rui Rio já na recta final da campanha interna, e em 2021, no próprio dia das directas, escusou-se a revelar publicamente em quem votaria, na disputa entre Rui Rio e Paulo Rangel.

No final de 2017, chegou a ponderar uma candidatura à liderança do partido, quando Pedro Passos Coelho anunciou que não se recandidataria, mas acabou por concluir que não estavam reunidas as condições para avançar “por razões pessoais e políticas”.

Mas, logo em Fevereiro de 2018, no Congresso de aclamação de Rio, Montenegro deixou o aviso de que poderia vir a disputar-lhe o lugar: “Desta vez decidi não, se algum dia entender dizer sim, já sabem que não vou pedir licença a ninguém.” Tal como anunciou nesse Congresso, Luís Montenegro deixaria o parlamento em Abril de 2018, 16 anos depois de tomar posse como deputado, e foi expressando pontualmente as suas divergências com a direcção de Rui Rio.

Em Janeiro de 2019, desafiou Rui Rio a convocar eleições antecipadas no partido, dizendo que não se resignava “a um PSD pequeno, perdedor, irrelevante, sem importância política e relevância estratégica”. O presidente do PSD não aceitou o repto para marcar directas um ano antes do previsto, mas levou a votos uma moção de confiança à direcção, que foi aprovada em Conselho Nacional com 60% dos votos.

Depois dessa derrota interna, terminou as colaborações regulares com órgãos de comunicação social e, segundo noticiou o Expresso, frequentou no Verão um programa de gestão avançada para executivos e líderes do Instituto Europeu para Administração de Empresas em França, mantendo-se praticamente em silêncio na vida política.

Nas autárquicas de Setembro de 2021 teve participações pontuais, mas longe do presidente do PSD, e não quis entrar na corrida à liderança nas eleições directas que se seguiram, e que acabaram por ser disputadas entre Rio e o eurodeputado Paulo Rangel e ganhas pelo antigo presidente da Câmara do Porto. Na campanha para as legislativas de 30 de Janeiro, apareceu ao lado de Rui Rio em iniciativas no distrito de Aveiro, manifestando-se confiante de que a vitória do PSD era possível e recusando falar, na altura, em sucessão.

Casado e com dois filhos, o desporto foi uma paixão de juventude, tendo jogado futebol e voleibol de praia - também foi nadador-salvador -, e actualmente pratica golfe.

Na campanha interna de 2020, foi, tal como o seu adversário Rui Rio, ao programa das manhãs da SIC, onde contou à apresentadora Cristina Ferreira que a sua alcunha de infância era “Ervilha” - por ser “redondinho” e ter olhos verdes - e no qual fez um dueto com Tony Carreira a cantar o Sonhos de Menino, garantindo que liderar o PSD não estava entre eles.

A sua alegada pertença à mesma loja maçónica do ex-director dos serviços de informação Jorge Silva Carvalho - na anterior campanha interna negou alguma vez ter pertencido à maçonaria - e as faltas parlamentares para assistir a jogos do FC Porto, clube do qual é adepto, e da selecção nacional foram algumas das polémicas que viveu na Assembleia da República.

Em Junho de 2019, Luís Montenegro foi constituído arguido - a par dos então deputados Hugo Soares e Luís Campos Ferreira - por alegado recebimento indevido de vantagem no caso das viagens do Euro 2016, tendo negado então a prática de qualquer crime e garantido que as viagens foram pagas a expensas próprias, num processo entretanto arquivado.

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