110 Histórias, 110 Objectos: a IST_Board

Neste 47.º episódio do podcast, descobrimos a história da placas de aquisição de dados do IST que permitiram que computadores e robôs trocassem dados. O podcast 110 Histórias, 110 Objectos, do Instituto Superior Técnico, é um dos parceiros da Rede PÚBLICO.

No podcast 110 Histórias, 110 Objectos, um dos parceiros da Rede PÚBLICO, percorremos os 110 anos de história do Instituto Superior Técnico (IST) através dos seus objectos do passado, do presente e do futuro. Neste 47.º episódio do podcast, descobrimos a história da IST_Board.

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A IST_Board Instituto Superior Técnico

Em 2006, uma urgência de professores e alunos do IST viria a dar origem a uma solução tecnológica de uma empresa internacional que se tornaria um fenómeno de vendas. Carlos Cardeira, professor auxiliar na área científica de controlo, automação e informática industrial do IST, procurava uma solução económica para uma placa que ligasse através de uma ficha USB um portátil a um robô móvel. A placa de aquisição de dados que existia no departamento de Engenharia Mecânica tinha sido construída peça a peça pelos professores da casa - falaremos dela num episódio futuro - mas as suas dimensões não eram adequadas para os novos trabalhos de automação, que incluíam esses pequenos robôs. “Sentíamos a necessidade de fazer experiências práticas que até se pudessem levar para casa”, recorda Carlos Cardeira.

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Nascia assim a necessidade que viria dar origem à “IST_Board”, a placa que permitiria que computadores e robots trocassem dados.

A procura chegou aos ouvidos de Carlos Gomes, na altura director comercial da empresa National Instruments, uma das mais conceituadas do sector. “Apaixonei-me pelo projecto. Senti que o que se estava ali a fazer era algo de extraordinário. Com pouco investimento poder realizar um robô, envolver uma centena de alunos, a um preço inacreditável. Era um desafio que achava bonito. Ser capaz de competir com os melhores do mundo, mas com essa diferença [económica]”.

No entanto, o produto não existia ainda na sua empresa. “Na primeira reunião fiquei tão entusiasmado que vim para casa e pensei: não tenho solução, não há. Fiquei alguns dias sem dormir”. O estado adiantado deste projecto pedagógico do IST fez com que a empresa apressasse o desenvolvimento de placas de aquisição de dados exactamente à medida da encomenda que saiu de Portugal.

Pouco tempo depois, chegariam ao IST cem destas placas. A primeira tinha “IST_Board” escrito na caixa da versão de protótipo, as seguintes foram comercializadas como “USB 6008”. Era então possível colocar os alunos a fazer experiências com pequenos robôs – baptizados de “rasteirinhos” -, testando os princípios da condução autónoma. Com motores adaptados de aparafusadoras baratas e com um portátil e a placa USB em cima, lá seguiam os rasteirinhos pelas pistas sem recurso a telecomando.

As placas foram aplicadas numa série de robôs que os alunos usavam e podiam levar para casa, mas também para outros fins, como controlar tanques de água. “Ainda hoje usamos algumas daquelas placas em laboratório. A tecnologia já evoluiu, mas ainda são usadas. Ainda temos robôs desses”, explica Carlos Cardeira.

As placas assentaram como uma luva no departamento. “Eram muito mais pequenas, metiam-se em todo o lado e baratas. Foi uma evolução fabulosa”, descreve Mário Ramalho, professor auxiliar do departamento de Engenharia Mecânica do IST que também viveu o processo de transição.

A estratégia de Carlos Gomes – “fornecer a nossa tecnologia a quem já está a estudar em engenharia mas não tem verbas para a tecnologia ainda e que vão poder comprar quando se tornarem engenheiros no local de trabalho” – parece ter funcionado em pleno. No ano seguinte, o catálogo da empresa que era divulgado a nível mundial, apresentava a fotografia do USB 6008 na página de capa. Tornara-se num dos produtos mais vendidos a nível mundial.

A necessidade dos alunos do IST revelou-se a mesma em países como Japão, Espanha, Itália, Alemanha, França. A empresa lançou rapidamente a USB 6009 e, nos anos seguintes, toda uma gama de produtos direccionados para as universidades. Portugal e o Técnico foram os pioneiros.

Carlos Cardeira recorda a inovação: “Fiquei surpreendido em ver que as minhas especificações estavam ali naquele formato de produto final. Fiquei contente [por ser um dos produtos mais vendidos]”. “Talvez esteja arrependido por não ter negociado de outra forma”, brinca.


O podcast 110 Histórias, 110 Objectos é um dos parceiros da Rede PÚBLICO. É um programa do Instituto Superior Técnico com realização de Marco António (366 ideias) e colaboração da equipa do IST composta por Filipa Soares, Sílvio Mendes, Débora Rodrigues, Patrícia Guerreiro, Leandro Contreras, Pedro Garvão Pereira e Joana Lobo Antunes.

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