A saúde no contexto das alterações climáticas: o que ainda podemos fazer?

As alterações climáticas já causam, anualmente, cerca de 250.000 mortes adicionais, devido a desnutrição, doenças infeciosas transmitidas por mosquitos - como a malária e a diarreia - e a stress térmico por exposição a temperaturas elevadas.

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Toshiyuki Aizawa

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, as alterações climáticas são a maior ameaça que a humanidade enfrenta, considerando-se que existem atualmente consequências deste fenómeno na saúde das populações, às quais os profissionais de saúde tentam responder da melhor forma.

E porque é que as alterações climáticas afetam de forma tão dramática a nossa saúde?

  • Porque afetam os determinantes sociais e ambientais da saúde, como o ar puro, a água potável, a disponibilidade de alimentos nutricionalmente adequados e seguros, ou a habitação condigna.
  • Porque causam, anualmente, cerca de 250.000 mortes adicionais devido a desnutrição, a doenças infeciosas transmitidas por mosquitos - como a malária e a diarreia - e a stress térmico por exposição a temperaturas elevadas.
  • Porque se estima que os custos diretos relativos aos cuidados de saúde prestados se situem entre 1,9-3,8 mil milhões euros/ano até 2030.
  • Porque zonas geográficas com infraestruturas de saúde com menores recursos – principalmente nos países em desenvolvimento – serão as menos capazes de lidar com as consequências para a saúde das populações.

Como podemos atuar para minimizar as alterações climátcas e os efeitos para a saúde das populações?

Existem duas formas principais de atuação que podem e devem ser desenvolvidas, em simultâneo: uma é mitigar as alterações climáticas e a outra é a adaptação ao cenário de alterações climáticas.

É possível mitigar as alterações climáticas através da redução das emissões de gases com efeito estufa por meio da implementação de opções de transporte, alimentação e uso de energia mais sustentáveis. Estas medidas, além de contribuírem para a redução das alterações climáticas, trazem um benefício adicional para a saúde da população, nomeadamente através da redução da poluição do ar.

A adaptação ao cenário das alterações climáticas envolve um conjunto de medidas como:

  • Reconhecer as alterações climátcas que se preveem para cada país e zona geográfica e antecipar os seus impactos nos diferentes sectores da sociedade;
  • Identificar grupos particularmente vulneráveis, como por exemplo idosos, pessoas que trabalham no exterior ou pessoas com duas ou mais doenças simultaneamente como doença cardíaca ou respiratória, e adequar a capacidade de resposta dos serviços de saúde;
  • Avaliar a capacidade de resposta dos serviços de saúde pública e outros serviços de apoio à população - emergência médica, proteção civil, bombeiros - em caso de situações extremas - como ondas de calor, períodos de chuva intensos - e outras que possam resultar das alterações climáticas, como a quebra na cadeia de fornecimento alimentar;
  • Desenvolver, implementar e avaliar um Programa de Adaptação na área da Saúde, envolvendo outros sectores e representantes da população;

Quem pode ter um papel importante na mitigação e adaptação às alterações climáticas com o objetivo de minimizar o impacto na saúde das populações?

Na verdade, todos nós podemos ter um papel importante em cada contexto. Por exemplo, os profissionais de saúde, e particularmente os de Saúde Pública, na identificação e antecipação dos efeitos diretos e indiretos das alterações climáticas para a saúde das populações, bem como, na definição de programas de ação com vista à prevenção e controlo desses efeitos em colaboração com outros setores

Neste caso, a investigação científica representa um sector charneira de enorme relevância, na medida em que poderá suportar a definição de prioridades e uma intervenção mais efetiva com melhores resultados para todos.

O papel como decisor político em sectores como o ambiente, trabalho, social passará certamente pelo envolvimento ativo, por opções baseadas na evidência científica e por políticas intersectoriais e transectoriais.

E o papel do cidadão, qual será? Passará por pequenas decisões diárias, como por exemplo, utilizar os transportes públicos em substituição do veículo privado e/ou optar por alimentos da época e produzidos localmente.

O contributo de todos será fundamental para minimizar os impactos das alterações climáticas na saúde.

Susana Viegas, Professora da ENSP-NOVA e investigadora do Comprehensive Health Research Center

Carla Martins, Investigadora da ENSP-NOVA e Comprehensive Health Research Center

Ricardo Assunção, Professor do Instituto Universitário Egas Moniz e investigador no Centre for Environmental and Marine Studies, Universidade de Aveiro

Carla Viegas, Professora da Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa, InstitutoPolitécnico de Lisboa

Os autores escrevem segundo o novo acordo ortográfico

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