Em Lviv, um director de museu quer expor Ticianos e Goyas para mostrar que a Ucrânia não morreu

Principal galeria de arte do país deverá reabrir em Junho. Algumas das suas extensões espalhadas pela cidade e pela região já não estão fechadas.

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Taras Voznyak, Director da Galeria Nacional de Arte de Lviv Leon Neal

Em contracorrente com a estratégia dos seus colegas noutros museus ucranianos, que têm escondido as obras de arte sob sua responsabilidade na tentativa de evitar destruições e pilhagens, Taras Voznyak, director da Galeria Nacional de Arte de Lviv, prepara-se para “reactivar” a colecção que tem a seu cargo.

Para a sua equipa expor Goyas, Ticianos e Rubens sempre foi uma actividade quotidiana que nada tinha de extraordinário, mas, em tempo de guerra, tornou-se um acto de resistência.

De acordo com os diários Le Figaro e The New York Time, Taras Voznyak pretende começar a expor já em Junho parte do acervo daquele que é apresentado, desde 1907, como o mais importante museu de arte da Ucrânia, fazendo uso dos 18 espaços que tem sob a sua alçada na cidade e na região, estando a ponderar, até, abrir galerias subterrâneas no futuro.

O acervo, com 65 mil obras de arte, está dividido em três grandes colecções e, até à invasão russa, estava exposto, em grande parte, no Palácio Potocki, importante edifício histórico de Lviv, capital cultural da Ucrânia e centro de uma província que fica a 60 quilómetros da fronteira com a Polónia.

“Putin tem por objectivo reduzir os ucranianos a nada, negar a nossa existência. Para mostrar que estamos vivos, temos vindo a abrir várias das nossas extensões territoriais”, disse o director ao jornal norte-americano. Entre os locais de valor patrimonial que voltaram a estar de portas abertas, com ou sem colecções móveis, estão catedrais, torres e castelos, esclarece o Figaro.

No palácio construído no final do século XIX estão agora a decorrer obras de restauro e manutenção para que as galerias, parte delas pintadas de novo em tons de damasco, possam voltar a receber algumas obras de arte.

O que vai, então, Taras Voznyak mostrar nas galerias reabertas? Não é ainda claro se as jóias da colecção voltarão a estar visíveis já este Verão nas galerias do museu. Para já, a equipa está a organizar exposições virtuais e a retirar peças das reservas.

Primeiro esconder, agora mostrar

No final de Fevereiro/inícios de Março foram muitos os directores de museus ucranianos que se apressaram a esconder as suas colecções, procurando protegê-las do avanço das tropas russas, nem sempre com sucesso.

Em Mariupol e Melitopol as forças fiéis ao Kremlin saquearam museus - roubaram mais de duas mil peças, de acordo com o Artnet, plataforma digital especializada no mercado da arte - ao passo que noutras localidades os bombardeamentos destruíram por completo colecções e monumentos. A Galeria Nacional de Arte de Lviv não foi atingida, mas a sua colecção teve de ser removida para um local seguro.

Na fachada da sede do museu, em que hoje se impõe uma grande bandeira da Ucrânia, há também estandartes de países como a Suíça, a Austrália, os Estados Unidos, o Canadá e a Polónia. Taras Voznyak chama-lhes “aliados” porque, para além de terem contribuído para a defesa da cidade, ajudaram a criar condições para que milhares de obras de arte fossem armazenas em segurança, eliminando a humidade de espaços subterrâneos que deveriam acolhê-las e cedendo caixas antifogo para as armazenar e proteger durante o trasnporte.

Antes da invasão russa, e de acordo com números do Turismo ucraniano, Lviv, cujo centro histórico é património mundial desde 1998, atraía 2,5 milhões de visitantes por ano.

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